Com as hostilidades a rolarem, sobre o valor de quem é "The Best" a afagar a "Ballon d'Or", toca-me a mim refutar a opinião do mui feliz Picareta Douala.
Depois das comadres da FIFA e da France Football se zangarem, cada uma foi à sua vida e a primeira criou um prémio para concorrer com essa instituição que são as bolas da revista Francesa. Como são dois prémios que no fundo premeiam a mesma coisa, nem se estranha que os resultados sejam semelhantes. Ou seja, não é de estranhar que no fundo o mesmo atleta ganhe ambos.
No entanto, se já no tempo em que os prémios ou iam para um ou para o outro, os critérios se prestavam a interpretações sobre o que realmente se estava a premiar e quem estaria por trás das decisões, este ano não restam grandes dúvidas: o que se premeia é quem Florentino quer. Não adianta dizer que é o melhor. Não, está clarinho para lá de qualquer dúvida que se premeia quem o Presidente do Real Madrid pretende.
Não é certamente coincidência que, no ano em que o Real ia acabar sem nenhuma bola dourada no plantel, rapidamente se montou uma campanha para que as bola douradas continuassem esbranquiçadas, porque na verdade quem é que quer as bolas de tal forma sufocadas que ficam ali entre o vermelho e o azul?
A sabedoria popular (sub)entende que para se meter a mão nas bolas é preciso ser-se o melhor do ano ou da época, uma coisa dessas. E a verdade é que, na era dos dois aliens isso pouco importa. Todo o mundo do futebol é unânime ao achar que jogadores como Xavi ou Iniesta ou Ibrahimovic acabarem a carreira sem nunca terem sequer afagado uma dessas bolas não é só uma injustiça, pela consistência com que foram espectaculares temporada atrás de temporada, mas também uma consequência de serem contemporâneos de duas criaturas saídas do panteão do Futebol. Mais do que se Cristiano é melhor que Messi ou Messi melhor do que Cristiano, a verdade é que viver na era em que se podem ver estes dois, semana após semana, a paparem adversários, é um privilégio. Há jogadores bons, jogadores muito bons e acima destes Ronaldo e Messi. E Ronaldo e Messi ainda estão por aí. E estão em grande forma, com números que assustam. E os clubes ainda se ressentem das suas ausências e beneficiam da sua boa forma. Alguém no entanto se esqueceu do que foi o Real Madrid o ano passado quando Ronaldo teve abaixamentos de forma. É que não houve Modric que aguentasse. Foi tão consistente que deu para passar a ilusão que Luis Enrique é um treinador à maneira! O mesmo Luis Enrique que teve de entregar a batuta da equipa a Messi e Busi. E já que se fala de jogadores injustiçados por serem contemporâneos de Crionel Ronessi, onde fica Sergi Busquets?
Quando destratou Cristiano, seja lá de que forma foi, Florentino Pérez pensou que estava a descartar um velho que só existia por causa da máquina que tem atrás de si. Zidane, que teve o seu tempo de afagador de bolas por tudo o que dava à equipa que não golos em barda, demonstrando que a sua inteligência não está só nos pés, tirou-se de cena ao perceber a jogada e o Real tem tido o início de temporada extraordinário que tem tido. E a coisa está tão boa, que parece que até há treinadores que não querem ir para o Real Madrid, se acreditarmos em alguns rumores. (Já outros que andam agora a treinar ao ritmo das Salat aceitariam na hora, mas ninguém lhes liga...) Já a Juventus pena miseravelmente ao sabor dos golos e assitências do Português, com o melhor arranque de uma equipa da Serie A desde que as vitórias valem 3 pontos. E isso quando o único cérebro que ia fazendo frente à equipa do Piemonte se mudou para Londres! Vão com pontos de vantagem suficientes para terem o campeonato arrumado lá para meados de Fevereiro e preocuparem-se com as arbitragens de uns quantos nomes famosamente esbranquiçados na Champions. O que sendo a Juventus vítima de jogadas de bastidores, não deixa de ser quase justiça poética!
No fundo Florentino sabe que, da mesma forma que há sempre, todos os anos, um caso estranho que carrega misteriosamente o Real até mais uma final da Champions, haverão sempre treinadores e jornalistas prontos a fazer o frete para garantir que o Real tem sempre a mão nas bolas. Não é de agora. Algumas das bolas que Ronaldo agarrou se calhar deviam ter ido para uma cidade condal nas margens do Mediterrâneo.
Podemos encarar isto de várias formas. Podemos encarar isto como não faz sentido dar o prémio a Messi por estar muito acima de todos os outros seres que se pavoneiam num relvado atrás de uma bola. Culpa de ser muito mais completo e decisivo para a sua equipa em muitos mais momentos do jogo. É uma opinião.
Mesmo mesmo que seja esse o caso, Ronaldo apresenta também úmeros que não estão ao alcance do comum dos mortais. Se fosse "só" marcar golos, é certo que Messi marcou mais, mas Ronaldo tem números que atiram por terra o "só". É ver na Liga Portuguesa quando é que alguém "só" fez mais de 35 golos duas ou mais épocas a fio. Agora ver o mesmo na Liga Espanhola... E no que toca a golos na Champions por um mesmo clube, quem é que tem mais de 100?
A questão "mas o Modric é mau jogador"? Não, não é. Mas dizer que "ah mas o futebol não é só golos" e blá blá blá, acaba por ser mais ofensivo para Xavi e Iniesta que um jogador como Modric tenha as mãos numa bola e eles não. Porque motivo os números monstruosos de Ronaldo e Messi não justificam hoje o prémio, mas quando os Deuses Catalães destruiam equipa atrás de equipa justificavam? Para o padrão de que estamos a falar não será desajustado dizer que a época de Modric até foi mediana. E se for preciso comparar com outro médio, vejam lá o que Busi fez. Levou a sua equipa à final? Sozinho naquele meio campo ou com uma grande ajuda de Rakitic? Falemos pois de outro injustiçado, se isso é critério. Em 1998 a Croácia ficou em terceiro num mundial e quem meteu a mão na bola foi um careca Francês que liderou a sua equipa até ao título. A lenda Croata, agora presidente da Federação, ficou em segundo, no prémio da Revista e em terceiro no prémio da FIFA. Ninguém achou injusto que Zidane, por ser de facto muito melhor do que os outros todos, ganhasse os prémios. Nem acharam injusto que Suker não o ganhasse, embora marcasse golos e esfrangalhasse defesas com um requinte que poucos alguma vez possuiram.
Sobre este tema, quem o disse bem foi a futebolista da Juventus Eni Aluko ao afirmar que:
Yes, there have been other contenders in the past, and I’m sure a lot of people will say Andrés Iniesta deserved to win it at least once during his time at Barcelona. But the same could also be said of Sergio Busquets, so the question has to be asked: is the Ballon d’Or for unsung heroes or standout heroes? Because if it’s for standout heroes then Ronaldo and Messi have been more than worthy winners for many years. Their numbers, in terms of goals especially, are unmatched and have been for some time. For all the good work of the players around them, such as Iniesta, it is they who have made the difference for their respective teams, so it’s only right they have picked up the major individual awards.
And if we are now deciding that the Ballon d’Or is about influence rather than goals, then a strong case could be made for Antoine Griezmann winning it. He has played a crucial role in Atlético Madrid reaching Champions League and Europa League finals, not to mention France winning the World Cup. Oh, and he has also scored one or two goals along the way.
Haveria mais a dizer sobre o que estes prémios valem, mas fiquemo-nos pelo prémio para Courtois, que terá feito a sua pior época em tempos recentes, um Mundial de nível mediano e no entanto ultrapassa quer Alisson quer Ederson, ultrapassa ter Stegen e Oblak e até o seu agora concorrente, o rejeitado de Madrid, Keylor Navas. Courtois é bom? É, mas quando comparado com o ano ou a época que os outros tiveram, ou estão mesmo a ter em alguns casos, parece que estamos a premiar o Júlio César só porque actua com o Júlio César.
Eu pessoalmente já não ligava muito a esta merda destes prémios. Depois deste ano caguei de todo!
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