sexta-feira, 23 de novembro de 2018

 

Um elogio que soa a elegia.

Há uma certa opinião, que perpassa toda a blogosfera benfiquista, que a eliminatória da Taça de Portugal frente ao Arouca foi uma valente merda. Um daqueles jogos em que foi melhor o resultado que a exibição, que ficou mais uma vez provado que o tempo de Rui Vitalis acabou, que blá blá blá. O que vou dizer pode ser polémico, mas este trolha acha que o que se viu foi o melhor jogo do Benfica talvez desde que Jonas se "lesionou" no aquecimento em Setúbal. Claro que um adversário da segunda metade da tabela da segunda liga não é propriamente o Bayern, mas isto tem estado tão mau que um gajo agarra-se a qualquer coisa de positiva, como Vitalis se agarra a um livro do Gustavo Santos para dar conferências de imprensa.

As boas notícias no onze titular eram mais que muitas. Svilar em vez de Varela indiciava que o modo #sefossefacil estava desligado, Corchia ia ter a hipótese de somar mais minutos, Conti ia ter hipótese de se entrosar com Rúben Dias, dois avançados indiciavam o regresso de um Benfica de tracção às rodas da frente e Krovinovic e Zivkovic em campo permitiam que o Benfica apresentasse em campo cérebro e pés para acompanharem Jonas. Com isto tudo quem seria o parceiro de Jonas era irrelevante, mas calhou o brinde a Seferovic. O Porteiro Castillo chegou tarde e Ferreyra, saberíamos mais tarde, só de pensar em ser titular numa equipa de Rui Vitória até fica com azia. Eu disse que o modo #sefossefacil estava desligado? Há coisas que não mudam com um estalar de dedos e tenho estado a fazer um esforço por esquecer que Alfa Semedo esteve em campo...

Quem quer análises profundas à performance das equipas coisas com gráficos e vídeos e imagens pode ir para outro sítio. Aqui é mais a profunda superficialidade dos temas que nos interessa. Isso para desculpar o não fazer uma descrição prolongada de uma primeira parte em que o Benfica teve bola o tempo todo, em que Krovinovic esteve em grande na condução e a segurar a mesma, em que Ziv aparecia ora de um lado, ora do outro e até no meio a dar linhas de passe e toques para ajudar a desmontar as paredes amarelas que Quim Machado ergueu junto à sua área. Poucas ocasiões de perigo, é certo, mas uma equipa em modo carrossel em que até Seferovic dá um arzinho de ser jogador da bola e Gabriel fez uma campanha de demolição de jogo de causar inveja a Wesley Snipes e Jonas a justificar quem diz que é um Deus da bola, aparecendo na frente, no meio, nas alas e no centro. Faltou dizer que até na defesa apareceu, mas na defesa até os que deviam lá estar não apareceram, quanto mais os que não era suposto!

E aqui vamos falar do que foram os acontecimentos estranhamente normais da primeira parte, ou seja, das duas ou três vezes em que uma perda de bola do Benfica ocorre num corredor lateral, ou dá origem a uma lateralização rápida e Gabriel não pôde limpar a jogada (e por vezes o jogador). Transições em velocidade, desorganização, jogadores do Arouca isolados e, na primeira vez que a bola ronda a área de Svilar, golo do Arouca. Não dá para remeter a acção de Conti e Corchia ao "tiveram azar" ou "estavam todos mal". Estiveram particularmente mal estes dois mas não nos iludamos, os processos da equipa na reacção à perda só não têm culpa porque não existem. Fica complicado de perceber se o que falta é noção, se treino. Como passaram mais de três dias, imagino que deu para dar as 48 horas necessárias de descanso e fazer o treinozinho leve de preparação e ainda assim sobrarem uns dias largos para todos os titulares com a exepção de Ziv, Seferovic e Rúben Dias treinarem qualquer coisa com intensidade. Porque não falo de Alfa Semedo? Porque ou não estava lá, ou chegava atrasado, ou estava mais preocupado em encarnar a figura de um comboio descontrolado que atropela, verbo fundamental para descrever a exibição dele, tudo o que lhe aparece à frente.

O que sobrava ao Benfica era futebol. Inconsequente no que a conseguir golos diz respeito, inconsequente até em conseguir ocasiões de golo claras, mas eficaz o suficiente em entrar no meio campo adversário vezes suficientes sem cruzamentos para a molhada e bola longa, para o mais optimista dos adeptos, ou aqueles que estão na fase de negociação do luto, acharem que há ali matéria para, com treino, se criar um futebol de posse, mandão e que destrua a mais ferrenha organização defensiva. É como dizer que as picaretas estão todas lá, agora só falta quem ensine os trolhas a partir pedra. Ironia das ironias, o golo do empate chegaria finalmente numa transição rápida pela esquerda em que à perda de bola do Arouca se segue uma requisição longa em Seferovic, o Suíço progride, aguenta a carga, trava, muda de direcção e mete no meio em Jonas que, com o corpo, tira um adversário da frente, pergunta ao guarda-redes do Arouca onde a quer e empata a partida. Pi pi, intervalo.

A segunda parte tirou-nos Krovinovic e deu-nos Rafa. O que o Croata faz com a bola colada aos pés, o Português faz em velocidade. Ou faz parecido. Pronto faz uma outra merda totalmente diferente mas que resulta. Senão veja-se, nos primeiros cinco minutos o Português mostrou ao que vinha, criando duas quase ocasiões. Quase ocasiões porque para ser uma ocasião convém haver lá pelo menos um colega! Os minutos passam e o jogo começa a ter uma toada interessante de um jogo de ping-pong. Ora sobe o Arouca, ora sobe o Benfica, ora sobe o Arouca, ora sobe o Benfica, e estás a ficar cansado, as pálpebras estão a pesar, vais-te sentir sonolento, sobe o Arouca, sobe o Benfica, amarelo mais que justificado para o Alfa que protesta ninguém sabe porquê, sobe o Benfica, sobe o Arouca, Rui Vitória tira Gabriel, sobe o Arouca, sobe o Arouca, sobe o Arouca, mas porra porque é que o Benfica mal passa do meio campo, foda-se já estão a mandar balões outra vez, sobe o Arouca porque o Benfica mais uma vez perde a puta da bola, foda-se estou a ficar com sono e já me dói o pescoço, contra-ataque do Benfica, olha o Seferovic a temporizar, passa a bola, Jonas fod, GOLOOO CARALHO! GOLO DO RAFA! CHUPA, GOLO!!!

Chegados ao fim da partida, despertados do estupor hipnótico que a toada de jogo partido que a saída de Gabriel imprimiu até fica a ilusão que o Benfica está a caminho de qualquer coisa boa. Somos levados a ignorar o número de vezes que novamente jogadores do Benfica coabitaram no mesmo espaço, os jogadores do Arouca isolados no meio-campo, a incapacidade de colectivamente se anularem as transições do Arouca desde que Gabriel individualmente deixou de o poder fazer. Esquecemos até como o cansaço de Jonas nos fez perder capacidade de definição no último terço. E nem pensamos se a gestão de excelência da condição física faz com que se lesione no aquecimento do jogo de um 'Setúbal' qualquer. Somos levados, pela sonolência, a acreditar que um treinador que pode colocar Krovinovic, Jonas, Félix, Rafa ou Pizzi, é um felizardo que vai procurar jogar futebol orgásmico; que um treinador que pode dar minutos a Conti e Rúben "Drunfado" Dias (já viram que há dois jogos que não tenta matar ninguém?) trabalhando um Gedson ou um Gabriel, para não ter de estoirar com Fejsa ou pensar sequer em alinhar com Omega Metemedo, é um treinador que não precisa de se expôr a contra ataques manhosos. Poderia ser isso tudo, mas só o tempo dirá se os sinais positivos que emanaram de ontem são fruto de palestras soporíferas sobre descanso prolongado e recuperação fraquinha, ou se são fruto da capacidade de jogadores que gostam de jogar à bola e não partir pedra.

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+ Seferovic e Jonas. Pensei em nomear apenas um deles. A escolher um teria de ser Jonas, melhor avançado e a espaços melhor médio. Até deu uma ajuda na defesa. Apesar disso foi Seferovic quem brilhou com uma assistência e meia. Boas as movimentações do Suíço, melhor como interior esquerdo do que como direito, bem a fixar os defesas adversários para que o Brasileiro pudesse descer no terreno. O futebol do Benfica no primeiro ano de Rui Vitória só melhorou, por esta altura curiosamente, quando Rui Vitória percebeu que tinha de ter Jonas em campo com um parceiro. Seferovic não é nenhum Mitroglou, mas havendo treino tem de ser considerado para o lugar. No entanto, no que a planeamento diz respeito, estamos a falar de uma dupla de avançados que são o dispensado da "estrutura" e o dispensado do "treinador". Dá que pensar...

+ Gabriel. Fundamental no meio campo, fez os Benfiquistas pensarem no que seria Fejsa sem o carrapito, com capacidade de dar mais do que dois toques na bola e até de fazer passes sem ser para o parceiro ao lado. Com ele em campo todas as transições em que o Arouca passava do meio campo ocorriam nas alas. Sem ele o Arouca passou a ter jogadores isolados no centro do terreno. Um pouco temperamental, tem de refrear os índices de agressão sem perder agressividade. Ou tomar as mesmas pastilhas que andam a dar ao Rúben Dias.

+ Krovinovic. Um jogador que recebe a bola a meio campo, vira-se, progride, faz tabelas, recebe de novo, cola a bola no pé e galga metros para a perder, sofrendo falta, no meio de um cacho de três adversários. Está sem ritmo, o que nos faz sonhar com o que fará quando o tiver. 

Alfa Semedo. Verdadeiro Alfa Metemedo, ou Omega Metemedo se quisermos ir pelo total contrário, destacou-se pela forma como ia sempre ao homem, tendo beneficiado e muito de um árbitro mau demais para ser verdade. Há um exercício bonito de se fazer ao longo do jogo que é ver quantas bolas tocou em condições. Já nem peço passes, toques. Se quiserem fazer um jogo de beber shots optem por esta opção e não por 'faltas idiotas' ou 'entradas fora de tempo'. A menos que se queiram embebdar ao ponto que esquecem que ele esteve em campo, aí o conselho é o contrário. Tem culpas na 'avalanche' ofensiva do Arouca na segunda parte, não só pelo que não defendeu, mas principalmente pelo que ofereceu. Só não fica mal na fotografia do golo porque não aparece nela. E isso significa qualquer coisa...

Corchia e Conti. Ficam ligados ao golo do Arouca por uma série de motivos nenhum deles sendo a qualidade que têm. Não foram os únicos com falhas no lance, mas a verdade é que ficaram marcados por ele. Na segunda parte o lado deles foi um filão autêntico para o Arouca, sendo incapazes de lidar com a quantidade de bolas perdidas por si, pelos colegas em particular o já mencionado Omega Metemedo. Fica a impressão que têm muito mais para dar, justificando até mais os lugares do que aqueles que substituiram (Almeida e Jardel), mas ontem pouco lhes saiu realmente bem. Aquele grau de bem que até esquecemos como ficaram mal na fotografia do golo.

O árbitro. Nem me interessa saber o nome. Arbitragens destas são para ser erradicadas dos relvados. Não foi faccioso, foi mau. Tolerou coisas, de parte a parte, que não se podem tolerar. O cartão vermelho directo a um jogador do Arouca é uma anedota, o não castigar cotoveladas a jogadores do Benfica outra. Houve uma jogada de bola a rondar a área do Arouca, ainda na primeira parte, em que os jogadores do Arouca a cada lance faziam uma falta. Nada. Alfa andou armado em vendedor de fruta até à segunda parte e nada. Aquela entrada no Rafa? Nada. Os pitons na perna do Grimaldo? Nada. Mau demais. Não foi faccioso, foi mau.
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