sexta-feira, 19 de outubro de 2018

 

Tudo está bem quando acaba bem

Todos os jogos deviam ser assim. Pouca ou nenhuma história, uma boa defesa do nosso guarda-redes quando o resultado está mais que feito, um ou dois cepos em campo para o adversário pensar que pode entrar por ali, mas sem nunca alinhar o Alfa e Omegaris do desposicionamento e das entradas fora de tempo, e para acabar encher o ataque de tanta qualidade que os adeptos até se esquecem que em Amsterdão os prováveis titulares argentinos não são dignos sequer de limpar as chuteiras de João Félix.

Tudo está bem quando o adversário está tão abaixo que podemos mudar meia equipa, mostrar que ainda não sabemos bem o que se pretende de Alfa Semedo neste Benfica, gerir tão bem o lote de centrais indisponíveis que atiramos com Conti e Ferro para a bancada, como se pelo menos o argentino não precisasse de todos os minutos que possa ter para se integrar com Rúben Dias. E digo isto dando de barato que Jardel está recuperado e será titular em Amsterdão. Porque se os titulares de Amsterdão forem Conti e Jardel, claramente não era necessário terem jogado antes. Ou então o impensável Conti e Alfa. Se Alfa se apresentar em Amsterdão na excelente forma que demonstrou frente ao Sertanense o mais certo é o Huntelaar dar a vaga a um jogador dos júniores ou dos iniciados para não correr o risco de se cansar a marcar golos.

Ao nível do meio campo, Gabriel foi ontem uma desilusão, apenas amenizada por partilhar o terreno com Samaris. Cada vez que dava por mim a pensar "este gajo hoje está uma real bosta" lá vinha o grego fazer qualquer coisa que me fazia dizer para comigo "mas este ainda está pior". A única coisa que amenizou isto foi quando Samaris passou para central e Alfa subiu no terreno. Aí Alfa tornou-se o Omega da qualidade no centro do terreno e quer Samaris quer Gabriel pareceram razoáveis.

Um treinador que tem Rafa e Ziv não tem desculpa para andar a não massacrar qualquer equipa de nível de Liga Europa ou abaixo. Ontem ficou à vista quando se abdicou daquela merda de ter estes gajos a cruzarem para o meio de um cacho de adversários. Quando a táctica foi a de cruzar e muito o Sertanense quase que sonhou com fazer uma gracinha. Bem o treinador do Benfica a nunca alinhar Alfa e Samaris. Porque vou buscar estes dois novamente? Porque queria dizer que Jonas construiu mais no meio no jogo todo do que Alfa/Samaris e Gabriel juntos. É aquela coisa dos que fazem os outros jogar melhor. E apesar de Ferreyra ter ficado em branco (deixemo-nos de merdas, aquele fora de jogo aceita-se), o que se viu do período que o Argentino e o Brasileiro passaram em campo é que têm de jogar e muito mais para afinarem aquela parceria. Sendo certo que Jota não teve muito tempo, entrando com a típica calma dos jovens lançados por Rui Vitória que têm de demonstrar em cada toque porque merecem estar ali, já João Félix demonstrou mais uma vez porque é que só não joga para poder ficar no Benfica até aos 23/25 anos. É que se calha jogar mais, e o que fez ontem já o havia feito contra clubes maiores e até contra o Sporting, alguém em Manchester, Londres ou Barcelona pode pensar que 60 milhões até é barato.

A crítica principal vai no entanto para o relvado lastimável na Sertã. Ah não foi na Sertã, foi em Coimbra? Compreende-se então, não queríamos um jogo destes num batatal autêntico onde a bola mal rolava pois não? Se calhar já era tempo de acabarmos com esta palhaçada de os "grandes" terem de jogar fora para depois obrigarmos os pequenos a alugarem um estádio longe da sua casa. Com tanto lucro da publicidade que a FPF ganha, ajudar os pequenos a terem relvados dignos de receberem a festa da Taça (para não dizer ajudar a que se jogue futebol) custará assim tanto?

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+ Jonas. Bons olhos o vejam caro Pistolas. Que saudades de um avançado que para lá de jogar bem faz a equipa jogar bem. Não que Seferovic seja o cepo que alguns fazem dele, mas não faz a equipa jogar bem. Jonas cheio de cruzes e artrite metafórica joga e faz jogar. Bom jogo para ganhar ritmo, ninguém acredita que Rui Vitória o lance a titular em Amsterdão, mas está aí para ajudar no campeonato. Desde que a estratégia não passe por jogar cruzabol, mas para isso não há avançado que nos salve. Demonstrou na segunda parte que passando mais minutos com Ferreyra em campo, terá tudo para causar calafrios ao comum dos defesas da Liga. Caro Rui Vitória, vamos facilitar por uma vez e meter isso em campo.

+ Rafa. Com minutos vem a confiança e até o golo. À velocidade e boa capacidade de decisão começa até a mira a ficar mais apertada. Aquela bola a rasar a trave com o nulo ainda no marcador poderia minar a confiança. Mas não, lá apareceu letal a finalizar uma recarga apertado por um cacho (ia dizer uns vinte, mas se calhar é exagero) de jogadores do Sertanense e a abrir o jogo. No fundo a repôr alguma justiça. Atendendo à forma e ao número de vezes que foi obrigado a descer até à linha de cabeceira do Benfica, cai por terra aquele mito de "não defende" e que Cervi é melhor. Não é. Havendo Rafa, Cervi não serve.

+ Félix. Se contra graúdos e até mesmo contra o Naval de Alvalade já tinha mostrado que está uns furos acima da média, da mediana e da moda, ontem foi vê-lo a brincar. Passeou passes de qualidade, apoio à defesa, lances de ruptura com a bola nos pés em barda e arrisco dizer que no fim nem sequer suou. Tinha um brilho nos olhos por combinar em campo com Gedson, Jonas e Ziv. Em combinações infindáveis com este trio mostrou que o Benfica só não vira aos 5 e acaba aos 10 a maior parte dos jogos, por um elevado sentido de humildade, aquela coisa de querer dar uma hipótese aos adversários.


– Alfa. Um verdadeiro Alfa Metemedo. O princípio do dar hipóteses aos adversários. No primeiro lance que é chamado a intervir falha uma intercepção de uma bola que pinga na sua área de central adaptado, sem pressão de adversários e obriga Svilar a mostrar porque é que Varela está remetido ao papel de novo Paulo Lopes. (Sobre os méritos dessa gestão, Rui Vitória que explique como Varela passa de titular a terceiro redes do plantel.) A dada altura um comentador da RTP, um verdadeiro Alfa Varela do comentário, disse que Alfa tinha "sempre aquele ar pragmático". Eu achei bonito o eufemismo para "este gajo está sempre tão fora da jogada que quando chega ao lance já não dá para fazer mais nada senão mandar uma bordoada no adversário e talvez até na bola". Ah, e se recuou para dar mais qualidade na saída, eu só queria dizer que falhou. Como ao André Almeida ainda lhe falta o cromo de central é arriscar. Ou então rezar para que este ensaio a central tenha sido uma forma de despistar o Ajax. Rezar e muito!

– Samaris. Eu gosto da personalidade aguerrida de Samaris, gosto de como se adaptou ao país, gosto de como força os outros adaptarem-se. Gostava que houvesse um cargo de capitão e que Samaris tivesse a braçadeira por decreto até se reformar. Só que em campo, quando é necessário, Samaris demonstra fragilidades terríveis. Nós sabemos que o treino para este treinador não é o mais importante, mas alguns jogadores precisam mesmo de treinos de qualidade e Samaris é um deles. Samaris está sempre no sítio certo, mas sempre, sempre à hora errada. Ou cedo demais, e tira-se da jogada, ou tarde demais e tem de recorrer a sarrafo para limpar. Ontem safou-se pelos minutos a central, mas não se pode dizer que o adversário o tenha realmente testado. No meio falhou e conseguiu que Gabriel não parecesse ter jogado a merda que realmente jogou. E um treinador que faça dele o 6 que o Benfica precisa, ou um central que transporte bola, não se arranja?

– Yuri. Ia falar de Gabriel, mas se o Gabriel não estiver bem, Ziv ou Gedson podem jogar com Pizzi. Pior é a situação na Lateral Esquerda. Como outros laterais esquerdos que há por aí, querem fazer dele o que não é. Terá esquecido os princípios do bem jogar assim que deixou de ser obrigado pelo treinador a tal e abraçou aquela coisa do "desde que se consigam resultados tudo pode ser encarado como bem jogar". Frente a um adversário como o de ontem demonstrou fragilidades e desposicionamentos defensivos comprometedores, sem nunca deslumbrar no ataque. Contra um adversário de outro nível teria sido diferente. Rafa e Félix e Gedson tiveram incontáveis vezes de vir em seu axílio... Bom, em seu auxílio não, em sua substituição. Pode ser falta de ritmo? Se calhar pode, mas sabendo nós da importância que é dada ao treino, haverão motivos para estarmos tranquilos que ele chega lá sem esse estímulo?
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