sexta-feira, 7 de setembro de 2018

 

Os Marretas Cata-ventos

Boa tarde,

No longo rol de absurdos fenómenos que rodeiam o futebol Português, os comentadores de jogos assumem uma preponderância inexplicável.

Se noutros países, com a Inglaterra à cabeça, os comentadores acabam por tentar explicar a sua visão do jogo (Há deles péssimos, convenhamos), em Portugal temos a espécie híbrida de marreta com cata-vento que comenta o jogo televisionado.





Inserir nome de uma qualquer dupla de comentadores durante o Rússia 2018

Marreta porquê?

Porque o mamífero encarregado de comentar o jogo valida as suas opiniões insistindo nas mesmas, até que surja uma jogada que, na visão do estimado marreta, entre em concordância com a sua análise.Não interessa se o padrão de decisão do jogador foi inteiramente diferente em TODOS os lances anteriores, interessa, para que a sua narrativa e posto de trabalho (todos precisamos de tostão) se mantenham.




E cata-vento porquê?

Se analisarmos todo o espectro de comentário, observamos que as análises às incidências de um jogo são independentes da qualidade dos seus actores, neste caso, jogadores e treinadores.

Todos sabemos o que qualquer comentador vai dizer sobre um jogo onde intervenha uma equipa Italiana, que é uma equipa "fortíssima defensivamente" e "tacticamente irrepreensível".

Queridos comentadores, Arrigo Sacchi só houve um, e só porque os clubes são Italianos, não são automaticamente bons a defender.

É apenas ver a incompetência da Juventus nos momentos defensivos para perceber o quão fraco é o trabalho de Allegri.

A equipa Italiana sofre 3 golos e o estimado marreta Cata-vento disse: "uma equipa de tração atrás como a equipa italiana não conseguirá dar a volta ao jogo, porque a sua especialidade é o cinismo e o controlo defensivo".

No entanto, nesse mesmo jogo, que neste momento é favorável 4-3 à equipa Italiana, e nos últimos dez minutos de jogo essa equipa aguenta o resultado, o estimado comentador diz "a eficácia defensiva da equipa Italiana deu-lhes a vitória". Depois de levares 3 golos????

Esta incapacidade de analisar o jogo, recorrendo aos lugares-comuns da praça, é catastrófica.

Um exemplo paradigmático será Luís Freitas Lobo.

Este génio do comentário, com as suas alegorias de filigrana, consegue provocar AVC's ao mais santo telespectador que perceba um pouco do jogo.

No início da sua carreira, tornou célebre termos como basculação, transição Defensiva/ofensiva e, principalmente, a mais bastardas das palavras do léxico futebolístico, a intensidade (Só esta palavra provoca vómitos, diarreias e todo um extra de excreções por cavidades desconhecidas até ao dia de hoje).

Após esta fase de tentei-ser-analista-mas-adjectivação-Queirosiana-é-melhor, Luís Freitas Lobo dedicou-se às hipérboles futebolísticas sobre jogadores que são tragédias Gregas.

Como não a amar a sua célebre insistência em Kayembe, esse fenómeno futebolístico de grandes proporções, com 17 decisões erradas em apenas 5 posses de bola, para, de repente, num drible para linha de fundo, conseguir fazer um centro para a molhada (carinhosamente conhecido por "centramento à Toni")cujo resultado final é um canto.

O que diz o estimado cata-vento: "Como tenho vindo a afirnar, Kayembe é o agitador que o Clube precisa, acabou de ganhar um canto e permite à equipa respirar com bola".

Este pensamento pescadinha-rabo-na-boca dos nossos comentadores é, sem dúvida, uma das maiores causas de iliteracia futebolística no adepto comum.

Os comentadores, escudados na desculpa de que apenas devem comentar incidências do jogo, debitam opiniões pouco fundamentadas e tecnicamente sofríveis sobre o jogo.

Os comentadores, ao serviço de interesses de terceiros ou apenas por incompetência, prestam um serviço de tal maneira mau que, considera este vosso escriba, é preferível o estridente exagero do relato radiofónico do que ouvir estas almas.

O patamar de exigência é tão baixo que Carlos Daniel é considerado como uma sumidade na análise táctica do jogo, apenas porque lhe são fornecidos meios audiovisuais com qualidade, o que o torna no "Avenger" do comentário futebolístico, muito efeito especial mas pouca substância.





"oh eu aqui, a mandar o Thanos atacar o Ant-Man"

Quão mais saudável seria o ambiente futebolístico em Portugal se efectivamente os comentadores fossem tecnicamente mais capacitados?

Quão mais exigente seria o povo Português perante o paupérrimo futebol que lhe é vendido por terras Lusas, se houvesse uma cultura de conhecimento no comentário?

Os comentadores, como todos os agentes que gravitam à volta da Liga Portuguessa, têm responsabilidades que declinam em favor da poesia de Alguidar, do "favorzinho" ao agente de um determinado jogador (Tão nacional-porreirismo, só não conseguiram vender o Beto ao Real Madrid e o Sálvio ao Ghanzou Evergrade) e até um futuro contracto com um clube de futebol, como foi o caso que, supostamente, esteve prestes a acontecer com Luís Freitas Lobo.

Não nos move nenhum ódio particular a Luís Freitas Lobo, trata-se de um exemplo paradigmático, como são outros, como António Tadeia, passando pelos inenarráveis comentadores dos canais dos Clubes, que apenas servem para desinformar o público, acicatando ódios em vez de ensinarem algo de valioso ao adepto, valorizando o produto, aumentando a visibilidade, beneficiando todos os agentes.

Tudo picareta, como tal, ganharam o seu lugar no armazém do nosso estaleiro.
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1 comentário:

  1. LFL até começou na Imprensa Escrita a fazer análises aos Wonderkids do CM/FM... Ou pelo menos parecia, porque os artigos dele incidiam sempre em nas vedetas da edição do momento!

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