sexta-feira, 28 de setembro de 2018

 

Impressões de um Benfica que mete impressão.

"Friends, Romans, countrymen, lend me your ears;
I come to bury Caesar, not to praise him.
The evil that men do lives after them;
The good is oft interred with their bones;"
É desta forma que Marco António se dirige à multidão de Romanos na segunda cena do terceiro acto da peça Júlio César de William Shakespeare. Para aqueles que não são tão versados em inglês, a tradução livre da coisa será parecida com: "Amigos, Romanos, concidadãos, ouvi-me/Venho para enterrar César, não para o louvar./O mal que os Homens fazem vive para lá deles/O bem é enterrado com os seus ossos". A forma como isso se relaciona com o Benfica é apenas marginal. Estamos longe de fazer o enterro de quem quer que seja, e mesmo que estivessemos aqui reunidos para um funeral, tudo indica que o homenageado seria cremado numa pira e não enterrado, tal a lenha que tem amontoado para se queimar. Não nos impeça no entanto essa quantidade de matéria combustível de atirar umas pazadas de terra ao que tem sido o consulado miserável de Rui Vitória.

O título deste texto foi sugerido por um confrade picareta quando pedi autorização para colocar este texto aqui hoje. Tudo o que leram até agora e o que lerão daqui para a frente é a versão maturada e acalmada daquilo que sinto. De facto, se escrevesse ontem à hora em que acabou o jogo, teria de começar não com citações de Shakespeare, mas com uma frase qualquer como: "Se dissesse tudo o que me vai na alma mandava Rui Vitória para o real caralh**** que o fo**, seu fi*** de um *** manco pari*** numa noite de cheia do Tejo.". Não comecei o texto com esta frase, nem sequer a escrevi, isto é tudo hipotético!

Dito isto, vamos recuar um pouco. Rui Vitória ao nível da comunicação é o que resultaria se fundissemos um Gustavo Santos com um Pedro Chagas Freitas e lhe dessemos um grau de treinador de nível o que quer que lhe permita orientar equipas na Liga dos Campeões. Uma dessas manifestações é o famoso "se fosse fácil não era para nós". Olhar para o consulado de Rui Vitória à frente do Benfica é ver o que acontece quando se acredita de tal forma nesta banalidade que se vai dificultar tudo, mas tudo, só por se acreditar que só assim tem valor. Se Rui Vitória fosse autorizado a participar na Volta a Portugal em Bicicleta com a mota do Miguel Oliveira, ele havia de furar os pneus e usar aguardente como combustível só para não ser demasiado fácil. Porque se fosse fácil não era para ele.

Veja-se ontem em Chaves. Para quem jogou FM2016 há um tipo de tácticas que usam uma fraqueza do código chamadas strikerless (sem ponta de lança) que consistem em jogar sem ninguém na zona do PL. Rui Vitória parece que olhou para isso e achou uma boa ideia, tal o número de vezes que Seferovic descaiu para uma ala para combinar com os alas (quer defensivos quer ofensivos) e deixou os centrais do Chaves à vontade para beberem umas minis. Só que não estamos em 2016, nem a vida real é o FM.

Não foi só Seferovic no entanto quem foi apanhado a passar bolas para a sua posição onde não estava ninguém. O mesmo pode ser dito de Cervi (cada vez mais o Sálvio da esquerda) ou de Rafa. O ataque do Benfica é tão móvel que acreditava piamente que era possível desfazer a defesa do Chaves só com autopasses de vinte ou trinta metros. Passes feitos para zonas onde um jogador do Chaves chegaria mais depressa a rastejar do que o Usain Bolt a correr. Porque se fosse fácil não era para o Benfica.

Outro aspecto interessante é o habitual recuar depois do golo. Rui Vitória é um homem que acredita piamente em dar oportunidades. Não a jogadores de qualidade inegável do seu plantel, porque isso seria facilitar-lhe a vida a ele, mas aos adversários. De outra forma fica difícil compreender porque é que o Benfica cada vez que se apanha com vantagens magras oferece o controle do jogo ao adversário. Não é esporádico, não foi ontem, é a regra do Benfica há pelo menos três anos. O único intervalo foi quando JJ teve aquela deselegância, digamos assim, de "não o [ver] como treinador". Nessa altura sim, o Benfica jogava a virar aos 5 e acabar aos 10.

Outra característica do Benfica de Rui Vitória que veio ao de cima ontem foi o que realmente importa para Rui Vitória. Para Rui Vitória o treino nem sequer é o mais importante. Devemos pois sub-entender, quando vemos a forma como se prepara a barreira no primeiro golo do Chaves, que se o treino não é o mais importante coisas como observação de adversários devem acontecer in loco no dia do jogo. Foi uma situação isolada? Talvez, se descontarmos a tragédia de Basileia o ano passado e tantas outras surpresas que toda a gente sabia que iam acontecer. Toda a gente não, porque isso de estudar o adversário é facilitar e como sabem, se fosse fácil não era para Rui Vitória.

Se eu dissesse tudo o que me vai na alma, ficava aqui o dia todo a insultar Rui Vitória por aquilo em que transformou o Benfica. Poderia dizer, mas não direi, que fique claro, que a sua sabujice a Vieira é de tal forma que... Calma, respira... Pronto! Acho que passou, pelo menos até ao próximo jogo, e que percebem a ideia. Com o plantel que o Benfica tem, quem o orienta devia ser alguém que quisesse facilitar coisas como ganhar competições, não para aquilo que tem sido. Mas é o novo paradigma e se fosse fácil não era para ele.


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+ Dr OdiSalva. Se o Benfica chegou ao intervalo a ganhar muito o deve a duas ou três defesas monstruosas de Odysseas. Útil ainda a construir e a dar linhas de passe aos defesas, com um guarda-redes a sério fica mais fácil. Deve ter levado um raspanão ao intervalo tal a forma como estava a facilitar a vida à sua equipa, mas sobre o Sr VlachoDeu-lhe falamos mais à frente!

+ Rafa. Esperemos que não tenha jogado hoje para descansar o tipo muito intenso e com muito golo que costuma alinhar ali, mas sim para mostrar porque é que o outro não devia ser titular tão cedo. Não vou sequer pegar em nenhum dos golos, coisas estranhamente estranhas nele, mas há uma jogada na primeira parte em que uma bola lhe chega aos pés, dois jogadores do Chaves apertam com ele, escorrega, chega um terceiro do Chaves e quando finalmente um quarto jogador do Chaves se junta ao grupo e Rafa sofre falta, já a bola está uns 15 metros mais à frente do lugar inicial e dentro do corredor que seria delimitado pelo prolongamento das linhas laterais da grande-área do Chaves. Na segunda parte foi o único a quem a bola não queimou os pés e o único cujas recepções de bola de costas para a baliza não acabavam com a bola 4 metros mais atrás. Esperemos que o facto de equipa ter desperdiçado dois golos seus não conduza a uma situação de "foda-se se é para isto nunca mais marco".

+ Sei lá... Queria muito colocar aqui um terceiro ponto positivo. Ia falar de Gedson, mas a movimentação dele no segundo golo é de amador. Queria falar de Conti, que pareceu ser mesmo reforço na pré-época, mas que ontem pensou que ou estava na Argentina ou que se chamava Felipe e joga no Porto. Queria falar de Gabriel, o novo tanque do meio campo, mas como saiu de campo quando levou o amarelo (ai não saiu? desculpem) não ficou muito mais. Queria falar de Jonas ou de Seferovic, mas mais uma vez mostrou-se que se é para chutão não vale a pena meter jogadores da bola. O relvado! Impressionante como depois daquela chuvada bastou picar um pouco o relvado para ficar, não diria impecável, mas de forma a permitir um bom jogo com a bola a correr sem grandes poças. A malta de Alvalade bem podia pedir umas dicas para tratarem do batatal. Como o relvado contribuiu para fazer a vida fácil ao Benfica, algo ou alguém tratou de dificultar a coisa.


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- Sr Vlachodeu-lhe. Se na primeira parte o guarda-redes salvou a coisa, na segunda contribuiu e muito para o balde de água fria que levámos, mesmo quando já não chovia. Tem de lhe ter dado alguma coisa muito má para achar que aquela táctica das duas barreiras resultava. Não viram duas? Vejam outra vez! Há uma com Cervi e Rafa ao lado um do outro a cobrir o poste direito. Para cobrir o poste esquerdo outra com Fejsa encolhido atrás de um colega. E o Sr Vlachodeu-lhe posicionado bem no meio. Imagino que a ideia seria criar dúvidas no Ghazarianalho (aproveito o nome dele para lhe dedicar uma mal camuflada palavrinha "amiga"). Imagino que a única dúvida foi para que lado o Vlachodeu-lhe a queria... Ainda tem um mau posicionamento no segundo golo do mesmo tipo, mas aí já a movimentação colectiva era toda ela tão má e desajustada que destoaria haver um só jogador que soubesse o que tinha de fazer. E isso seria facilitar que como sabemos, se fosse fácil não era para o Benfica!

- Cervi. Temos Zivkovic no banco. Temos Gedson no banco.  Tinhamos Jonas e Castillo no banco. Temos portanto condições para encostar Rafa à esquerda e Pizzi flectir para a ala direita. Ou Ziv na esquerda. Ou Ziv e Rafa a alternarem as alas. Temos condições até para meter um avançado mais fixo (Castillo) com Seferovic a flectir para uma ala, como passou o jogo a fazer de resto. Ou meter um jogador que desse mais qualidade com bola (Jonas) deixando Seferovic mais fixo. Tinhamos qualidade no banco suficiente para não ter de sofrer mais um jogo com o novo Sálvio, o Cervio. Se ninguém reparou, é ver quantos lances perdeu, quantas bolas entregou redondinhas para o adversário. Houve uma altura em que trocou com Rafa e passou a jogar na direita. O Benfica nem passava do meio campo sempre que a bola estava no flanco dele. Já chega. Há qualidade individual para não mais termos de alinhar com nenhum dos extremos argentinos a titulares. Só que isso seria facilitar e se fosse fácil não era para o Benfica.

- Rui Vitória. Penso que enquanto houver paciência para estas impressões, Rui Vitória se arrisca a ser cliente habitual do sector negativo. Não que seja má pessoa, até imagino que não seja mau treinador, simplesmente porque é a pessoa errada para o lugar que ocupa. Não nos iludamos, o futebol do Benfica está entregue à criatividade e capacidade de onze indivíduos jogarem à bola. Não há um plano estratégico, como se pode ver no critério das contratações e renovações, nem uma ideiazinha de jogo que retire a complementariedade que se pretende que as diferentes soluções individuais dêem à equipa. Aliás, não há equipa, há um conjunto de egos. Ontem perdi conta ao número de vezes que dois jogadores do Benfica ocupavam o mesmo espaço a atrapalharem-se, sem ninguém compensar. Ele foi Rafa e Seferovic, Cervi e Seferovic, Gabriel e Pizzi, Gabriel e Cervi, Ruben e Conti... Conti! Conti é lançado a jogo sem ter a noção do que se espera dele, é notório pela linguagem corporal do jogador. Há um lance em que recua desfazado de toda a linha defensiva e ceifa Ruben Dias quando este se preparava para aliviar a bola. Já falei no capítulo Cervi do que não se vê trabalhado na frente de ataque. Não há uma ideia que não seja bola larga nos extremos e cruzamento para a área, estejam lá 10 ou 2 jogadores adversários. E imagino que se estiverem só dois a ordem será para cruzar para o meio dos dois... E o estudo dos adversários? Descobriram ontem que o Ghazaryanalho é dextro e bate bem livres? Ninguém o conhecia da carreira no Nacional, querem ver... Rui Vitória o debitador de banalidades que não fala de árbitros exepto quando fala não é um homem que goste das coisas fáceis. Mesmo que para isso tenha ele de as dificultar. E isso é o que mete mais impressão!
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8 comentários:

  1. 2018 > 2009
    Benfica > Porto
    Vitória > Jesualdo

    Fora as gustavosantices... como uma luva.

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    1. Uhm? O Oceano foi falar com o Carlos Xavier, que é mais letrado e ele também não percebeu.

      É que fico sem saber se aplaudo ou se lhe chamo nomes.

      Avise-me depois Dr. João

      Oceano, a picareta.

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    2. Se isso quiser dizer que corremos com o RV pela porta grande, assino já por baixo.

      ...Mas é um ano a comer saladas e grelhados que aquilo dá a volta à barriga.

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  2. O ghazarian jogou no marítimo. Do Nacional era o Aly ghazal. O Rui vitória tb deve ter confundido os 2.

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    1. São os dois de Macedo de Cavaleiros, é normal.


      Oceano, o picareta.

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    2. Rui Vitória está neste momento a descobrir que há dois jogadores com nome confundível, mas de origens distintas.

      O facto de eu ter feito pesquisa para ver como se escrevia o nome já indicia que fiz mais pesquisa do que RV.

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  3. PS: Esse choro do "Felipe" e do Porto não cola, http://videos.sapo.pt/3Wsv3tSHgelURPCS4NBw. Não foi a aganhar aos 87', foi empatado a 0 aos 24'.

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    1. Esse Felipe parece-se muito com o Maicon. Daqui a nada quando eu falar do Bruto Alves metes um vídeo do Jorge Costa...

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