quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

 

Notas soltas em véspera de Supertaça.

Escrevia o Matrecos Vermelhos, a 21 de Fevereiro de 2019, que não tinha grande interesse em escrever quando tudo corre bem. Compreendo-o bem. Quando as coisas correm bem a escrita pode-se tornar um maçador exercício. Podemos perguntarmo-nos então se quando tudo corre mal, e corre mal da mesma forma, se não há esse mesmo risco. Há. A diferença fundamental é que nos maus momentos a escrita torna-se um exercício catártico. As coisas correm mal, vimos para aqui, desabafamos e vamos à nossa vida até à próxima vez. Neste caso a desculpa é a Supertaça, evento que encerra uma época e abre a seguinte. Normalmente, isto é...

É por isso que era fácil escrever sobre o Benfica de Rui Vitória. É por isso que se tornou fácil escrever sobre o de Bruno Lage. Mas é também porque já são anos demais de mau planeamento que se chegou ao ponto de já nem me interessa escrever sobre o de Jorge Jesus. Porque no fundo os Benficas de que se escreve não são os Benficas do treinador, mas os Benficas da estrutura. A estrutura do mau planeamento. A estrutura que depende tanto de estar no Benfica que lá compraram um camião de areia para as eleições.

A 21 de Julho de 2020, um ano e cinco meses exactos depois daquela crónica do Matrecos, escrevia eu neste blog o que eram as minhas impressões sobre o que seria o Benfica de Jorge Jesus Ressuscitado. Por entre as muitas pazadas de cimento que caíram fora do balde, como o interesse de JJ por Vinicius, a permanência de Rúben Dias, ou a preponderância que Weigl devia ter, ainda espaço a pérolas como Almeida não ter titularidade absoluta (abençoada lesão) e ainda dizer que JJ não daria chances a Nuno Tavares, à luz das cada vez mais evidentes limitações deste.

Não é no entanto este comentário de hoje uma análise ao que eram as previsões. Não será sequer uma avaliação do que têm sido os primeiros tempos de Jorge Jesus Regressado. Ou melhor, não será essa avaliação directamente, porque não se pode fazer a antevisão do jogo da Supertaça ignorando o que é o Benfica.

Não faço ideia de como o Porto está a jogar. O último jogo que vi do Porto foi a final da Taça em que nos manietaram. Mas tenho visto os jogos do Benfica. E tenho ouvido o que a generalidade dos adeptos pedem. E não posso deixar de ficar preocupado, quando vejo que muitas vezes o que essa generalidade dos adeptos pede arranja maneira de se projectar no relvado.

É que para mim, a única e melhor forma que o Benfica terá de se superiorizar ao Porto, não é "querer mais", não é "entrar com tudo". O que me lembro do Porto, e dos inúmeros confrontos que temos tido com o Porto de Conceição, é que são uma equipa muito susceptível a adversários que joguem à bola. Quem quiser ir para o físico e para a correria e para os duelos, acaba invariavelmente a passar por dificuldades.

Olhemos pois um pouco ao que tem sido o Benfica. No jogo para a Taça da Liga, Jorge Jesus acabou a criticar o seu corredor central por não estar a funcionar bem. Certo. Só que qual a medida correctiva que o treinador escolheu? Simples, se não está a funcionar bem, vamos acabar com ele! Frente ao Gil Vicente, esta lógica traduziu-se no XI inicial. O novo Benfica de Jesus não só não defende com poucos, como defende mal. Não só ataca quase em exclusivo pelas alas, ficando mais facilmente anulável por adversários com mínimos de organização, como ataca de forma desapoiada, o que favorece adversários rápidos e de transição.

Pelo que se tem visto, e sabendo o estilo que Conceição favorece, o Porto é a equipa na prática favorita. E digo na prática, não em teoria, porque o Porto não investiu desde Janeiro cerca de 100 milhões de Euros! E chegamos pois ao ponto em que temos de nos perguntar onde está a tal pujança financeira que é tão apregoada como a vitória que compensa as derrotas em campo.

Onde estão então essas verbas? A verdade é que é difícil perceber o critério. Everton é mais uma história de tanto craque Brasileiro. Chega numa condição física muito acima dos seus concorrentes e adversários e, mais do que jogar por decreto, mostra-se muito acima. Só que com o passar do tempo o cansaço instala-se. Pedrinho, usufruindo do facto de não ser Rafa nem ter o estatuto de Pizzi, pôde ir adaptando-se, temperar as expectativas dos adeptos e a verdade é que podendo haver dúvidas se vale o valor do passe, parece ser um jogador que acrescenta com bola nos pés e dá características à posição que não teríamos de outra forma. Otamendi tem sido o exercício de contabilidade que prometeu desde sempre. Se fosse tão necessário e desejado, era esperar duas semanas e viria 'a custo zero'. Só que era necessário que se 'pagasse' para que o City não gastasse o dinheiro que gastou com o Rúben. Verthongen é a alma solitária com uma sombra de critério naquela defesa. Isto apesar de alguns erros já cometidos que custaram golos, e pontos. Mas basta ver quantas outras vezes é ele que tem de fazer as vezes dele e dos colegas todos. Gilberto, à medidade que ganha condição física e vai fazendo mais minutos parece ser o melhor reforço para a lateral direita dos últimos cinco anos. Cinco anos para se ir buscar um jogador mediano que face à concorrência parece um arraçado de Daniel Alves! Darwin nem é que seja mau. O problema é que para fazer as vezes de segundo avançado e/ou municiador, há dois jogadores no plantel bem melhores, de seus nomes Luca e Gonçalo.

E é neste ponto que chegamos à Supertaça. Um Benfica que ainda está a tentar integrar os seus jogadores, à procura ainda dos melhores mecanismos colectivos, muito susceptível a equipas de transições rápidas, incapaz de furar blocos defensivos coesos e que na frente de ataque não tem aquele 'killer instinct' que é fundamental a este nível. As verbas dispendidas dizem que o Benfica é favorito. O Benfiquismo diz que o Benfica tem de se assumir como favorito. A ver se o jogo mais logo não é um doloroso banho de água fria de realismo.
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