quinta-feira, 8 de novembro de 2018

 

É pagar e não bufar, ou como Rui Vitória já se está a cagar.

Desde o momento em que saiu o onze titular que qualquer Benfiquista percebeu que Rui Vitória não quer mais estar onde está, mas o cheque ao fim do mês é demasiado bom para tomar a atitude de ir pelo seu próprio pé. Compreende-se, face à campanha orquestrada pela administração para que ele se vá. Compreende-se, porque ao longo de dez longos anos, pelo menos, que os treinadores do Benfica são entregues à sua sorte quando as coisas correm mal. Não se compreende no entanto de alguém que afirma ser tão honrado e blá blá blá valores e cenas. Não que os valores não contem, contam muito e no lugar de Rui Vitória eu também os quereria receber todos!

No aspecto das escolhas, vemos Félix que passou da bancada para titular regressar à bancada. Zivkovic faz-lhe companhia, porque há quem defenda que a  qualidade deve estar junta. Um amigo comentava a táctica e avançava que o mais provável seria o Benfica alinhar em 4-5----------1. Assim mesmo, com muito espaço entre todos e Jonas. De que outra forma poderia Rui Carlos mostrar que Jonas não serve?

Ora bem, os mais pessimistas não viram os seus medos materializados e até os mais optimistas pensaram que aqui estaria uma boa noite para esfregarem qualquer coisa na cara dos primeiros. Não que o jogo tenha começado bem. O primeiro balão para a frente sem critério acontece num pedido de bola para Sálvio aos 2 segundos de jogo, naquele que terá sido o segundo ou o terceiro toque na bola por um jogador do Benfica. Para aqueles que ainda não perceberam o desfecho desta jogada de laboratório, o Benfica consegue a primeira perda da posse bola aos 5 segundos. Esta jogada não seria no entanto ilustrativa de tudo o que o Benfica faria. Pode-se mesmo dizer que o Benfica passou o primeiro quarto de hora a tentar jogar à bola. Vá os primeiros 10 minutos... Não a sério, até houve uma jogada em que Sálvio no meio assiste Cervi numa abertura pela esquerda para um bom remate do Argentino mais novo. 


Chupa Fernando! Com que então extremos Argentinos e o caralho?!, diz o mais vieirista dos vitalistas.
Calma, respondo eu, o jogo ainda nem leva 10 minutos...


A inclusão de Jonas na equipa, as incursões de Grimaldo pela esquerda e um Fejsa em modo pitbull e um Rúben Dias que deve ter mamado uma caixa de calmantes garantem que o Ajax tem dificuldades com que não contava em progredir no terreno. Cervi está em modo carraça e faz que trava as saídas pela direita do Ajax. Faz que trava porque o máximo que consegue é obrigar a equipa do Ajax a fazer mais uma tabela no seu caminho para o meio campo do Benfica. Parece que isto de progredir em posse é uma coisa com potencial... O que é um Fejsa em modo pitbull? Pensem Samaris com carrapito e melhor tempo de entrada.

Melhor tempo de entrada?

Sim pá, o Fejsa não precisa de ceifar pernas porque tira os gajos da jogada com o peito, de uma forma faltosa que um árbitro mais que simpático prefere encarar como "ganhou a posição".


Passamos a barreira dos 10 minutos e ainda não houve um cruzamento sem critério para um cacho de jogadores, daqueles muito típicos em equipas com o  Vitória (alguém pode confirmar que se é um recorde?), Sálvio por sua vez já conseguiu perder 4 vezes (ou perto disso) a bola, naquelas jogadas de ruptura muito dele em que se enfia no meio de três adversários e depois fica sem saber o que fazer. Teve um bom passe, aquele para o Cervi de que já falei e que servirá para Rui Vitalis justificar a sua permanência no onze titular por mais dois meses, a menos que a lesão seja grave e nos poupe ao martírio de ter de o aturar.

Passados os dez minutos o Benfica assume a sua dimensão de equipa pequena, recua linhas, passa a bombardear bolas, apesar de alguém se ter esquecido de passar essa mensagem a Vlachodimos que, por duas vezes, tenta que a equipa saia a jogar de trás e com bola, atitude que surpreende até os colegas de equipa que pensavam estar ali para um jogo de futevólei. Exemplo paradigmático? Jardel tem uma bola, não tem pressão nem adversários por perto, toca para Fejsa, metro e meio ao lado, Fejsa manda balão para a direita, onde Sálvio toscamente nem toca na bola que fica ao dispôr de Tagliafico. É pior visto do que descrito...

O Ajax vai controlando os acontecimentos, sendo incrível a forma como apesar de terem desvantagem númérica numa dada zona do terreno, têm sempre vantagem numérica em torno da bola, o Benfica tenta saídas rápidas, que só surtem efeito quando pela esquerda, onde Grimaldo chora por Rafa, no banco, mas com Cervi a esforçar-se por reatar uma relação passada, até que, num momento de pressão estranhamente alta o guarda-redes do Ajax tenta fazer uma finta Cruyffiana sobre Jonas, quase perde a bola para o lesionado Brasileiro, dá um lançamento lateral e tem uma saída à Roberto deixando Jonas com a bola nos pés e um grande dilema: marcar ou marcar? Felizmente marcou!

O Benfica, no momento em que menos fazia por isso apanha-se em vantagem no marcador. Em solidariedade com o momento mais nervoso de Onana, a equipa enerva-se e perde critério. O jogo entra em modo ping-pong e nenhuma equipa até ao intervalo vai ser capaz de equilibrar a partida a seu favor. Seria talvez justo dizer que ao golo se seguiu o melhor período do Benfica. Mas um jogo partido de bola para um lado, bola para o outro, com o Ajax a tentar, mas a não conseguir, entrar na área encarnada e o Benfica apostado em somar milhas aéreas com balões na frente, dificilmente se pode rotular de bom. O lance mais ilustrativo da forma como o Benfica "controla" a partida é uma recuperação de bola que dá transição rápida, Cervi combina com Grimaldo que deixa a defesa do Ajax para trás, cruza atrasado para a entrada da área onde está... NINGUÉM! Grimaldo cruzou exactamente para o espaço entre as duas linhas do Benfica. Estariam uns 5 jogadores alinhados em frente à bola e, numa distância em tudo idêntica, 4 alinhados atrás dela! Se esta situação, repetida jogo após jogo após jogo, não demonstra um trabalho de excelência no campo de treinos não sei o que demonstrará! Antes do intervalo Sálvio ainda tem uma entorse, mas mantém-se em campo, o que faz sentido: a sua melhor contribuição acontecera com as mãos e essas não estavam lesionadas, e o Ajax ia marcando num livre directo, estupidamente cedido por Jardel, mas uma brilhante intervenção de VACAdimos impede o golo do empate (bem o grego a defender o livre num primeiro momento, bem a vaca benfiquista a impedir que a recarga entrasse).

Se até agora não se falou de Gabriel é porque os erros e perdas de bola não foram muito graves. Se não se falou de Gedson é porque se defensivamente não acrescenta, ofensivamente teve alguma combinações interessantes quando descaído para o lado esquerdo. Na direita no entanto foi de uma nulidade completa, sendo incapaz até de receber a bola. Jardel está nesta fase a beneficiar de um árbitro bem simpático, para os dois lados de resto, que aquele placagem ao Jonas...

Por motivos biológicos que não adianta escalpelizar, comecei só a ver a segunda parte ao minuto 51. Quando me preparava para elogiar a forma como Sálvio estava com muito mais critério e rápido com bola percebi que afinal não era Sálvio era Rafa. O que de resto fazia sentido! Por momentos cheguei a pensar que Rui Vitalis quisesse genuinamente ganhar o jogo marcando mais um ou, loucura, dois golos. Nada mais errado. A equipa estava recuadíssima, a defender em número e sem critério e o Ajax começava a desenhar jogada atrás de jogada. A falta de critério de alguns dos seus elementos mais preponderantes fora corrigida ao intervalo, lateralizavam menos o jogo e com isso punham Gedson, Gabriel e Fejsa mais à prova. Que é uma forma de dizer, passavam por ali como se estivessem a passear no Vondelpark num dia de sol. André Almeida começa entretanto a perder a moral ganha na primeira parte e começa jogada atrás de jogada a ser tão eficaz em parar o ataque do Ajax como um seixo em parar um rio.

Só os mais alucinados dos vitalistas podem dizer que o golo do Ajax vem contracorrente. Não caros amigos, aquilo esteve a ser criado desde o intervalo pelo menos. E com a saída, por incapacidade física de Jonas, só ficou mais perto de acontecer. Só em sonhos Seferovic dá o critério, a atacar e a defender, do brasileiro. Junte-se a isso a incapacidade da equipa do Benfica em reagir à perda, que tão em voga tem estado, e que teve o seu ponto alto num lance em que se permite que a defesa do Ajax progrida com a bola recuperada, consiga colocar num jogador que não tem ninguém por perto num raio de 4 metros (dá perto de 50 metros quadrados vazios) que por sua vez tem tempo para receber, enquadrar-se e meter uma bola na profundidade para o em breve marcador passar calmamente pela defesa do Benfica, ultrapassar Vlachodimos e atirar a bola para o fundo das redes.

Até chegarem reforços, na forma de Pizzi, não mais o Benfica conseguiu esboçar qualquer coisa que se assemelhasse a perigo. Mais, ainda conseguiu sofrer mais uns calafrios e só valeu a falta de pontaria e hesitações no momento do remate. Com Pizzi o Benfica conseguiu no entanto ganhar metros. De que forma? Bom, Pizzi é menos adepto do chutão na frente, Rafa estava ali e qualquer coisa de criteriosa só por ali. Via-se no entanto que Rafa chorava não ter apanhado um avançado criterioso, tal a forma como as jogadas que construia iam sendo desfeitas por inépcia alheia. Leia-se Seferovic mal posicionado e com uma leitura de jogo de amador. Gabriel, que até aqui tinha sido peso morto acordou e começou a participar no jogo. Fejsa aumentou a agressividade e começou a bater em tudo o que mexesse, o que deve no mínimo ter intimidado alguns jogadores e Jardel consegue um amarelo escusado, estúpido e idiota que o deixa de fora do jogo de Munique. Muito bem capitão!

Rui Vitória pode dizer o que quiser. O último lance da partida, em mais um momento ping-pong, é de facto a ilustração do que é o Benfica com ele: momentos de inspiração individual que podem resultar, sem sentido colectivo, sem fio de jogo, sem uma ideia. Uma equipa que depende de Jonas para ter sentido, não é equipa. E Rui Vitória em vez de vilipendiar o Brasileiro devia dar-lhe muito mimo e agradecer. Sem Jonas, ou outro cérebro, Rui Vitória fica exposto como o treinador de equipa pequena, com mentalidade de pequena equipa que sempre foi. E se acha que ainda não percebemos que já só está à espera do dinheiro da indemnização, já percebemos e até compreendemos, afinal não é o primeiro treinador deixado sozinho pela "super-estrutura" e, como bom chefe de família, sabe que as contas não se pagam sozinhas. Em particular o gasóleo para voltas a rotundas em Alverca...

+

+ Jonas. O cérebro da equipa a ligar o meio campo ao ataque. Sempre disposto a combinar, a dar linhas de passe, a trocar a bola em tabelas que desmontavam a organização adversária. Há um lance emblemático em que, nas trocas constantes que o lado esquerdo proporcionava, descai para fazer de Cervi, desmonta a pressão do Ajax e mete redondinha para Jonas no meio. O problema é que Jonas não pode meter para Jonas. Meteu para Sálvio e o extremo com muito golo, não percebendo a jogada, chega fora de tempo. Mesmo lesionado, há um antes de Jonas e um depois de Jonas. Como está lesionado o fulgor não é o de outrora. Que seja mesmo assim o cérebro da equipa é um elogio à sua capacidade futebolística e um insulto à gestão do clube.

+ Cervi. Está lentamente a tornar-se o Sálvio da Direita, mas ontem fez um intervalo nessa salvização. Com uma exibição mais de coragem do que razão, mesmo assim procurou combinar com Grimaldo e o médio de estivesse do seu lado. Procurou estar por fora quando o defesa ia por dentro, procurou estar por dentro quando o defesa ia por fora. Procurou incomodar a construção do Ajax. Falta-lhe capacidade de decisão, mas mostrou que tem de se contar com a sua disponibilidade.

+ Grimaldo. O perigo que o Benfica criou, por Grimaldo começou. Depois de um jogo a ver dois golos serem criados na sua zona de acção, revoltou-se e fechou as portas do corredor. O Ajax ainda tentou, mas por entre Grimaldo, Cervi e um Fejsa em modo Pitbull, por ali não entrou. E se o adversário não entrou, muitas foram as vezes em que só em alívios desconexos ou faltas a construção foi parada. Combinou bem com Gedson, Cervi e Jonas para trazer a bola para a frente.

– Jardel. Depois da expulsão frente ao Moreirense, que o deve afastar um ou dois jogos, agora um amarelo escusado, por uma falta que só se torna necessária dada a sua inépcia em ler o jogo e controlar uma bola e que o afasta do próximo jogo da Champions. Dois a três jogos de castigo em menos de 180 minutos é obra. Tem sido uma vergonha como capitão, sendo mais um foco de descontrolo, oferecendo muitas faltas escusadas, nomeadamente aquela do livre da Vacadimos. Se ele não quer jogar, façam-lhe o favor e mandem-no para a bancada. Pelo que se viu até agora Conti é muito melhor e Lema tem mais vontade.

– Sálvio. Foi anedota ser titular e, não fora um passe nos primeiros cinco minutos e o lançamento lateral que dá o golo, ninguém daria pela sua falta. Juro que me pareceu ver uns defesas do Ajax a rirem-se depois de lhe fecharem o cerco pela 934987ª vez antes de ele lhes colocar a bola jogável nos pés. Quem gosta de futebol e do Benfica espera que a lesão o atire para gestor da conta de Insta do clube por um mês ou dois...

– Fejsa. Um cão enraivecido no meio campo benfiquista. Só que no mau sentido! Não tem metade do critério a que nos habituou e não fora conseguir fazer com o peito aquilo que o Samaris faz com uma tesoura, dificilmente poderia ser titular. À medida que o futebol evolui fica progressivamente mais difícil justificar a sua existência numa equipa que diz querer ser campeã nacional.
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2 comentários:

  1. Um chorrilho de acefalias. Deve ter visto um jogo dos distritais e confundiu os jogadores.

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    1. Essa é uma análise muito mais sintética ao jogar do Benfica. Acertada, mas sintéctica.

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