quarta-feira, 3 de outubro de 2018

 

Efharisto Klonaridis ou o elogio do Choriço (assim mesmo, sem u).

Quem me visse ontem no final do jogo veria alguém a cantar a plenos pulmões aquele cântico do "campeão voltou" mas na modalidade "o chouriço voltou". Não consigo dizer aquela variante de tasca que utilizo no título, em que a ablacção do u leva a que aquele o seja um pouco mais aberto, mas compreendo perfeitamente que por muita tasca do país se tenha dito "que grande xóriço".

Não se pense por um instante sequer que estou a tentar menosprezar o trabalho que está na origem do golo. O que pretendo é utilizar a terminologia que, como disse Rui Vitória, se emprega na gíria.



Mas se calhar nem foi bem um chouriço. A pobreza de segunda parte que o Benfica fez recomendam que se lhe chame mais uma linguiça. Pode ser igualmente saborosa, mas tem certamente menos carne que o chouriço e a quantidade de carne é, parecendo que não, importante.

Uma vitória que parecia, ao fim do primeiro quarto de hora, ir acontecer por números pouco habituais, uma espécie de anti-Basileia 2017 em que pegávamos nuns desgraçados Gregos e os fazíamos pagar pelo martírio que a Big Pharma Suíça nos havia feito passar, mas que com o desenrolar do jogo, em particular da segunda parte, chegou a parecer ser uma repetição do massacre de há um ano. Para se perceber como o Benfica pode ser tão bipolar, é necessário ter um conhecimento nada profundo sobre o que é o Benfica de há três anos a esta parte.

Se à passagem do quarto de hora o Benfica liderasse o marcador por quatro golos de vantagem, não seria estranho. O que continua a espantar quem só agora acompanha o Benfica é como a equipa abdica de jogar assim que assume uma posição de conforto. Aos vinte minutos já o Benfica tinha abdicado de assumir o jogo e a espaços mesmo de entrar no meio campo adversário. Não surpreendeu portanto ninguém que o AEK fosse assumindo cada vez mais o controle do jogo e com isso Vlachodimos trouxesse à tona o seu papel de Odissalva para evitar que ao intervalo o AEK já tivesse empatado a partida.

Comentar a segunda parte do jogo fica fácil se começarmos pelo fim. No último lance da partida Cervi conduz a bola pelo meio até que é atrapalhado por Seferovic, que fica com o esférico, recua um bocado e é atrapalhado acho que por Fejsa, que consegue o bis ao atrapalhar também Gedson, antes de a bola sair pela linha lateral e o árbitro mandar recolher ao balneário. A quantidade de jogadores que se atrapalham uns aos outros é atroz, como se ninguém tenha a noção do que é ocupar espaços ou dar linhas de passe. Ninguém no Benfica parece saber o que fazer e onde estar. Não há uma ideia de jogo.

Os mais simpáticos podem dizer que o motivo pelo qual o Benfica faz apenas um remate em toda a segunda a parte está relacionado com a inferioridade numérica, mas não conseguem explicar como o Benfica sofre aqueles dois golos (iam sendo quatro...). E digo isto porque já vi o Benfica com menos um manietar uma equipa do Porto e carimbar assim uma meia-final da Taça de Portugal. Também já vi um Benfica com 10 manietar uma Juventus no estádio da equipa Italiana que só tinha Tévez, Pirlo, Llorente, Vidal e Pogba no onze inicial. E tentar explicar porque é que entre o minuto 26 e o fim do jogo o Benfica só fez... um remate! 70 minutos e só um remate contra este AEK, por parte de um clube com os recursos do Benfica, só se consegue quando propositadamente se abdicou de jogar.

Mas o que importa é que o Benfica ganhou com um chouriço marcado menos de dois minutos depois de Klonaridis, espantado com as facilidades que lhe davam para conseguir um hat-trick, ter optado por proporcionar a Odissalva Vlachodeus a defesa da partida, em vez de tocar para o parceiro que estava de frente para a baliza. Efharisto Klonaridis!

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+ Seferovic. Se há coisa que o Suíço vai mostrando é que o ano passado, após lesão de Jonas, o ponta de lança da equipa que estava mais habilitado a dar à equipa qualquer coisa que se assemelhasse sequer com o que o Brasileiro era capaz de dar, não era Mexicano. Por outro lado fica complicado de perceber porque um jogador de movimentações e posicionamento joga quando se tem o Porteiro Castillo. Não que isto seja uma crítica ao Suíço, é mesmo elogio. Tem momentos em que devia mandar tudo às urtigas e recusar-se a permanecer em campo tal a anarquia que reina e que torna ingrata a tarefa de correr atrás da bola apenas para se ser rodeado de uns três ou quatro adversários. Tem demonstrado que assim que Rui Vitória decidir apostar em jogar à bola o Benfica está bem servido de opções.

+ Ala Esquerda. Há uma diferença abismal de qualidade entre a bola estar no lado esquerdo ou no lado direito do Benfica. Uma diferença que me faz crer que Rui Vitória ganhará em breve um Prémio Nobel da Física, assim consiga explicar como coexistem no mesmo espaço Matéria e Anti-Matéria. Claro que o resultado final é a anulação do que o futebol devia ser, mas ver a Ala Esquerda do Benfica a carburar naqueles minutos em que o treinador os deixa estar soltos para jogarem à bola é delicioso. Aquela Ala Esquerda de Grimaldo e Rafa é daquelas coisas que facilitam a vida a treinadores que querem ganhar. E como se sabe, se fosse fácil não era para Rui Vitória.

+ Odysseas Vlachodimos. Ou Odissalva Vlachodeus. Redimiu-se ontem do ataque de Vlachodeu-lhe em Chaves. Quatro defesas fundamentais para segurar o resultado. Claro que ser Guarda-Redes de uma equipa que gosta de facilitar as coisas ao adversário não é fácil. Ter de segurar jogada atrás de jogada atrás de jogada do lateral esquerdo adversário também não. Tem o momento da partida minutos antes do chouriço de Alfa Semedo ao defender um remate egoísta de Klonaridis. Gosto de acreditar que mesmo que Klonaridis passasse a um dos dois companheiros melhor posicionados Vlachodeus estaria lá para Odissalvar a situação. Um facilitador de resultados por natureza, obriga a equipa técnica a encontrar outras formas de facilitar a vida aos adversários. Tentem imaginar aquilo ontem com Varela!


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- Ala Direita. É fácil culpar André Almeida pela abismal quantidade de golos que são criados pelo flanco direito do Benfica. É fácil, não de todo injusto, mas uma visão facilitista. Porque o Benfica tem um problema com a ala direita e esse problema vem dos treinos. É um problema exacerbado pela coexistência no mesmo flanco de André Almeida e Sálvio, mas que não se resolve quando o Argentino é trocado por Pizzi e este por Gedson. O comentador inglês do canal onde segui o jogo pergunta-se a dada altura "Have you ever seen a left back slaughter so much a right back as Hult has André Almeida tonight?" e a resposta ironicamente é que sim, já vimos, quando David Alaba encarou a mesma ala direita. Na Champions mesmo contra um AEK mais do que acessível, a ala direita do Benfica nem cria nem destrói. Que seja essa a via preferencial para o Benfica tentar avançar no terreno é só doloroso para quem vê e simpático para os adversários. E ontem mais dois golos em que assistência veio da direita.

- Rúben Dias. Eh pá... Quem vê Rúben Dias e João Félix rapidamente chega à conclusão que terá sido Rúben quem frequentou as escolinhas do Porto. Pura ilusão! É fácil querer desculpar Rúben por aquele segundo cartão dizendo que a culpa é de André Almeida que se retrai, mas isso é querer tapar o sol com uma peneira. Rúben Dias tem de se mentalizar que aquele tipo de entradas que fazem Bruto Alves largar uma lágrima de emoção não servem. Não servem especialmente quando se está amarelado e equipa em modo full retard. Percebo que o Benfica encarar um adversário dominante com onze é facilitar a coisa, mas é ao treinador, através da ausência de processos, que compete isso. As entradas extemporâneas têm de acabar. O anfiteatro da Luz que aplaudiu Mozer, Ricardo Gomes, Ricardo Rocha ou Carlos Marchena aprecia rigidez com finesse. Compreendemos que não estamos perante um Gamarra, mas poderia haver menos esforço em ser um Tahar.


- Rui Vitória. É fácil culpar muitos jogadores, mas um treinador que abdica que querer esmagar um adversário acessível à nossa equipa de sub-23 não pode nunca ter nota positiva. Rui Vitória demonstra ter cada vez menos ideia do que representa ser treinador do Benfica. Como li ontem no lançamento do jogo, ser do Benfica é ter o direito divino de ganhar todos os jogos e o treinador tem de encarar o seu cargo como o facultador corpóreo desse direito (o que li era diferente, mas a ideia era esta). Rui Vitória disse no lançamento que cada um tem uma cabeça e eu recomendo que ele ou use a dele ou escolha jogadores que a usam. Ambas seriam o ideal, mas eu ficava feliz já com uma. As diferenças entre Ala Direita e Esquerda, a incapacidade de segurar o ataque adversário, aquela atrapalhação que jogo após jogo vemos os jogadores do Benfica a ter... Repito o que disse acima, ninguém no Benfica parece saber o que fazer e onde estar. Não há uma ideia de jogo. E isso não é culpa de um ou dois jogadores por muito maus que sejam.
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