domingo, 2 de junho de 2019

 

A Campanha do Ajax vista a partir... do Seixal.

O final da época futebolística na Europa, marcada pela final da Liga dos Milhões, permite-nos agora olhar para trás e fazer balanços. E este ano a forma como a Liga dos Milhões se desenrolou deveria trazer lições importantes para os clubes em Portugal. Ou pelo menos, no que a mim me diz respeito, para o Benfica.

Quando o Ajax ia eliminando colossos financeiros, houve logo um clube que veio querer colar-se aos lucros de "se apostar no Seixal". De que forma então aquilo que se faz em Amsterdão é comparável com o Seixal? Eu diria que em ambos os lados se procura uma formação integral, no sentido desportivo, em ambos os lados há sociedades cotadas em bolsa e em ambos os lados se faz dessa Academia o seu principal negócio. E se até aqui tudo é parecido, a forma como isso se traduz na equipa principal é totalmente diferente e isso faz com que a colagem seja, na menor das hipóteses, uma grande desonestidade intelectual.

Para começar porque em Amsterdão essa equipa é vista como o motor que leva gente ao Estádio. A essência do negócio não é tanto o vender jogadores, mas sim o puxar pelos adeptos. E é esse motor que faz carburar toda a sociedade desportiva. Bom futebol, que leve a bons resultados, que leva à promoção de jogadores, que leva a que marcas e parceiros queiram ser associados à marca. É simples. E quando se olha para Lisboa, é um pouco mais complicado de ver isso. Basta ver como o futebol não agrada a adeptos, nem sequer andava a ser bom, mas o treinador lá fazia os fretes que o Carrossel Mendista pedia e ia-se aguentado. E o Carrossel Mendista, liderado pelo Parceiro Preferencial, é onde a coisa fica tão semelhante como a noite e o dia.

No Benfica o princípio de actuar com um Parceiro Preferencial, uma pessoa ligada ao sub-mundo e ao dinheiro manhoso, uma entidade que cobra 10% por existir, que tem um passado de vender alvos do clube a rivais e de pôr e dispôr do futebol como lhe dá mais jeito. É esse basilisco que o Presimente tornou o nosso parceiro preferencial.

(Para quem quiser perceber melhor porque estaa complicado aparecer dinheiro para Samaris, mas parece nunca faltar para Sálvio, leiam lá esta jóia e digam se um esquema destes não parece justificar a coisa.)

Sejamos francos, o Benfica goza de uma marca que faz com que, com mínimos Olímpicos de gestão, a liga Portuguesa fique perigosamente parecida com a liga Norueguesa da década de 90. Ou a grega de 00. Ou, como gosto de nivelar a coisa por cima, com a Bundesliga. E ir buscar o Ajax como exemplo até pode ser mau uma vez que o clube de Amsterdão ganhou o seu último título em 2014, tendo ficado desde aí sempre em 2º. Este ano quebrou o jejum, com dobradinha, mas vamos ver como serão os próximos dois ou três anos.

Quando olhamos para a final da Liga Europa que o Ajax perde para o Manchester United em 2017, vemos que há uma série de nomes que se repetem. Onana, Veltman, de Ligt, Schöne e Dolberg foram titulares, de Jong, van de Beek e Neres foram suplentes utilizados, Oito dos quatorze utilizados ainda hoje estão no clube e vão sendo ora titulares ora rodando. Metade da equipa que actuou era também formada na Academia do clube. Porque nem todos aqueles que ficaram foram os formados no clube. Nos dois anos que distam, Riedewald e Klaasen saíram para outras paragens. Dos não utilizados nessa final, Justin Kluivert e Kevin Tete já partiram para outras paragens. Agora falemos do que o clube fez com as verbas dessas transferências. Tagliafico, que hoje é um dos laterais esquerdos mais apetecidos, veio da Argentina para Amsterdão. Klaas-Jan Huntelaar foi para Amsterdão para começar a preparar a sua reforma dourada. O mesmo para Blind. E algumas contratações falhadas, como Kostas Lamprou. E alguns que vieram, saíram por empréstimo e já estão encaminhados para outras paragens, como Wöber, central que está no Sevilha emprestado e para onde se transferirá para o ano. E entretanto ainda deu para recuperar Tadic ao futebol inglês onde estagnava.

O que liga estas transferências todas é que elas visam suprir necessidades da equipa. Uma equipa que tem por princípio formar jogadores e vendê-los. Mas que está tão sergura do seu produto que não vende a qualquer preço. Uma equipa que tem a noção que talento é escasso e que mais vale vender um por muito, do que muitos por pouco. Todos sabemos os valores pornográficos da venda, com efeitos a partir de Julho, de Frenkie de Jong para o Barça. E é ponto assente que de Ligt sairá, só não se sabe para onde. E apesar de ter renovado, falta saber se Tagliafico fica. E David Neres com 22 anos não é bem inapelativo.

Já no Benfica multiplicam-se as notícias de como o Presimente e o Parceiro Preferencial estão no mercado a negociar as pérolas. Ainda nem duas épocas completas fizeram e já estamos mortinhos por os vender. Isto apesar das notícias de pujança financeira. Ou de notícias plantadas sobre "cortar pernas" e vontades dos jogadores. E a pagar 10% a alguém que só tem de existir.

Sabem o que justificaria 10% ou mesmo uns 25%? Eu explico. Livrar o clube de Sálvio e Jardel. Ou convencer um guarda-redes de top e arranjar um clube onde Svilar possa mostrar se merece estar no plantel daqui a 5 anos. Um ponta de lança que tenha mobilidade e inteligência. Um lateral direito que possa concorrer mesmo com André Almeida. Uma aposta firme no bom futebol e na valorização de activos. Não a depência de luzes e de parceiros preferenciais que só tratam dos seus negócios de Mar Negro.

Se formos honestos percebemos que só dois clubes em Portugal têm capacidade de mercado para tentarem dar um arzinho de Ajax. E se um está demasiado ocupado em ser um clubezeco regional, seria interessante que o Benfica abandonassse esse Parceiro Preferencial que o menoriza e se metesse em bicos de pés. Porque tem mais mercado que Ajax para crescer. E se a malta usasse óculos escuros para não ficar encadeado com as luzes, talvez visse que é preciso pensar mais como os grandes e menos como os pequenos. Até lá, essa conversa de "Seixal é que é" ao mesmo tempo que se compram sacos de cimento e se vendem pérolas futebolísticas, só serve como areia atirada ao ar que aterra em retinas.
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