Um rabolho, um frutista e um dragarto entraram num tasco...

Um rabolho, um frutista e um dragarto entraram num tasco. Nenhum se conhecia antes. Tinham, na melhor das hipóteses trocado umas mensagens em cantos obscuros da net. E propuseram-se fazer uma coisa igual a tantas outras e no entanto diferente. Um blog onde se fala de bola. Não aquela merda que se vê nas televisões, antes a merda que eles queriam ver. Como em muitas outras coisas, poderia ser um sê a mudança que gostarias de ver. Se calhar é, mas é capaz de ser algo mais.

Na era em que os seguidores se medem em dezenas de milhar, em que se premeia a frequência de aparições e não a qualidade das mesmas, fazer um texto a celebrar a centésima entrada num blog parece pequenino. No entanto, achei que era uma boa altura para um balanço pessoal.

O título deste post é a descrição mais sintética do que é este blog. Este blog é um tasco e os seus participantes tratam-se com aqueles mimos. Este blog é o remeter para um tempo em que se podia falar com malta de outros clubes como adversários e não como inimigos. É um piscar de olho a um tempo sem programas de debate futebolístico sem futebol. Como já foi dito, é relembrar o Domingo Desportivo e a quantidade insana de futebol que lá se passava. É o querer que o clube ganhe, para podermos passear a basófia. É ficar de trombas quando se perde e esquecer isso tudo na véspera do jogo seguinte. E essa é a parte do ser a mudança que se quer ver.

Quando surgiu o convite pensei que isto seria apenas mais um canal para desabafar sobre a miséria em que estava o meu clube. Era bom, porque um dos pressupostos era não falar nem de árbitros nem dos outros. Sinto que já falhei nestes dois últimos pontos, e como as misérias são ciclos, a vontade de me queixar tem estado reduzida. Mas isso foi há 100 posts atrás. Há 100 posts atrás havia sítios de que tinha ouvido falar mas nunca lá tinha ido. Estava demasiado fechado na minha bolha e isso toldava-me o raciocínio.

Desde que comecei a minha participação no blog que redescobri o gosto por falar de futebol. Futebol como deve ser vivido, na lógica do adepto que quer que o seu clube ganhe e não que o adversário perca. Não é o falar de futebol das assépticas análises imparciais, aqui cada um tem o seu gosto e vive-o. Não é o falar de futebol das análises técnico-tácticas ao jogo, para isso há um rol de outros sítios onde gente mais bem formada e informada o faz. É o falar de futebol a cheirar a gordura de couratos e minis na mão. A roulote onde se casca na equipa depois do jogo entre os das mesmas cores e o tasco onde se mandam umas bocas aos gajos das outras. E no entanto tornou-se algo mais. Para mim tem sido um espaço de enriquecimento. Dou por mim a ler as queixas de adversários sobre o tratamento da imprensa e dos comentadores, e sinto-as como minhas porque aos anos que o digo do meu clube. Vejo malta do Porto a refilar com o árbitro e com a postura de alguns dos meus jogadores, e queixo-me da ironia com que o fazem. E ao mesmo tempo sinto uma afinidade por essa gente que não conheço e uma vontade de jogo após jogo comentar as incidências das partidas com eles. E depois a partilha dos blogs que cada um nas suas cores lê. E aqui foi o verdadeiro enriquecimento, o rebentar a bolha. Ir ler as blogosferas e descobrir que os grunhos são grunhos em todo o lado e em todo o lado há adeptos. E que os problemas do futebol são-no para todos.

Um rabolho, um frutista e um dragarto entraram num tasco. Nenhum se conhecia antes. Tinham, na melhor das hipóteses trocado umas mensagens em cantos obscuros da net. E deles pelo menos um deu por si a redescobrir o gosto pelo futebol, pela provocação barata mas inconsequente, pelo insulto que não o é e com a rebentar a bolha clubística onde estava isolado do mundo. E a ficar muito mais rico por isso, por ter deixado que o inimigo se tornasse adversário.