O Dérbi Eterno é fonte inesgotável de lendas do futebol. Desde a lenda de que ganha quem está pior até jogos memoráveis em si, já provocou despedimentos por não renovação, humilhações sem títulos, e até a procura de brincos no relvado. São jogos em que, como diria Gabriel Alves, as equipas não jogam nem bem nem mal, antes pelo contrário. De entre as muitas frases de Gabriel Alves que lhe granjearam fama imortal, há uma que todo e qualquer Benfiquista e Sportinguista conhece e à qual reage com sentimentos ajustados à cor da camisola que defendia naquela cinzenta tarde de Maio num dos mais apaixonados Dérbis Eternos de que há memória. "Erro táctico de Carlos Queiroz".
Serve esta introdução para lançar um comentário em jeito de Desafio dos 25 anos. Tal como há 25 anos o Benfica segue na frente do Sporting. Tal como há 25 anos o Benfica vai para o intervalo a ganhar pela margem mínima. E tal como há 25 anos o treinador do Sporting aproveita o intervalo para fazer ajustes na equipa que em vez de equilibrarem a equipa, desequilibram e a afastam irremediavelmente do sucesso. Não sei se alguém em Alvalade explicou que um jogo entre Benfica e Sporting é uma espécie de Ajax-Feyenoord mas muito mais importante, que faz parar muito mais casas no Mundo, que estraga mais relações entre familiares e amigos. Seria bom, para os Sportinguistas, que alguém tenha avisado Keizer na véspera de três confrontos em curto espaço de tempo. É que saber isso poderia evitar que a imagem que fica do Keizerball seja a de tirar Nani, o único jogador que faz qualquer coisa semelhante a desequilibrar o adversário, para colocar um Diaby da vida. Enquanto Benfiquista agradecido, enquanto adepto de futebol, nem por isso. Como há 25 anos, erro táctico do treinador do Sporting.
Só que nem só de erros tácticos se fez este Dérbi. Como há 25 anos, este Dérbi vem na sequência de um Verão Quente. Provavelmente devido ao Aquecimento Global e ao alargamento das zonas tropicais, o calor estival mudou-se para o lado Norte da Segunda Circular e foi o Sporting que teve direito a experimentar o calor de jogadores em debandada. Há 25 anos o Presidente do Benfica, para evitar uma sangria na equipa fez o possível e o impossível por segurar um tal de João Vieira Pinto. O Presidente do Sporting na altura, ressabiado, haveria, nas vésperas do Dérbi, de o chamar de mercenário. A resposta foram 3 golos (2 deles de antologia), 2 assistências (aquele abrir de pernas...) e uma exibição em que sozinho estraçalhou toda a equipa verde e branca. 25 anos depois, como que a elogiar essa tarde de Maio, Bruno Lage não deixou Félix ficar no banco. E se o hat-trick lhe foi negado (primeiro pelo VAR depois por azelhice sua), não menos ficou ligado à história do jogo. A sua capacidade com e sem bola foram profundamente desequilibradoras para uma equipa do Sporting que não sabia o que fazer com ele. E porque não dizê-lo, com ela. Há jogadores que jogam bem, jogadores que fazem os outros jogar bem e depois há os que só por estarem em campo fazem a equipa jogar melhor. JVP era um deles. Félix parece estar a ir pelo mesmo caminho. E Nani será o jogador do Sporting mais perto desse estatuto.
Noutros aspectos no entanto o mais recente Dérbi para o Campeonato não tem paralelo no de há 25 anos. Tal como o Verão Quente se mudou para Alvalade, também a descrença em vésperas desse jogo se mudou. Exepção feita a Nani, nunca ninguém do Sporting pareceu acreditar realmente que o Sporting podia discutir o jogo com um Benfica que redescobria o que é ter um treinador. Incapazes de sair a jogar, quer pelo chão quer pelo ar, os jogadores do Sporting pareciam desde cedo conformados que a questão do dia não era 'qual o resultado' mas sim 'por quantos'. No fundo, os jogadores do Sporting eram os adeptos do Benfica em campo. Adormecidos que estamos de anos a fio do mais entorpecedor Vitalismo, demos por nós a meio do jogo a pensar no bonito que é assumir o jogo frente a um rival, não defender magras vantagens de um golo e, melhor ainda, não ficar à espera que um Bryan da vida abate um satélite coreano. Dei por mim, confesso, a dada altura a ter medo de uma recuperação sportinguista épica, tal a descrença ainda enraizada. Olhar para Lage e algumas opções não dá tranquilidade. Ao menos a equipa já procura defender e recuparar a bola no meio campo adversário. Para vice campeão português basta. Para mais, veremos...
Porque o Benfica tem pontos fracos que os adversários podem explorar. Aquela ala direita com Pizzi e Almeida, apoiados ao meio por Samaris ficou com as suas capacidades bem ilustradas no lance do primeiro golo do Sporting. Jardel passou o jogo mais em sofrimento do que outra coisa. E não fosse por a motivação ser uma coisa estranha, isto poderia ser a crónica de uma outra coisa. Quanto mais os minutos passavam, mais os jogadores do Benfica acreditavam. Se, ao contrário de há 25 anos, o Benfica chegava a Alvalade a acreditar num bom resultado, essa motivação foi crescendo à medida que as coisas iam saíndo bem. Há 25 anos um João pegou no colectivo e este cresceu às custas do individual. Desta feita um colectivo fez de um João a figura maior de um jogo. Já o Sporting, a cada novo golpe faltou sempre alguém que desse um grito de inconformismo e pegasse na equipa. E por golpe aqui entenda-se cada bola perdida e cada jogada adversária. Eu sei o que os Sportinguistas sentiam. Ainda há menos de quatro meses em Munique passei por isso! Mesmo com menos um jogador e já com Cervi e Sálvio em campo o Benfica nunca pareceu perto de perder. Se calhar até pareceu perto de aumentar a vantagem, pese o lastro Argentino.
É prematuro e limitado falar de Lageball, quando tudo o que o treinador do Benfica fez até ao momento foi ensinar a equipa a reagir à perda e meter aquele diamante em forma de João num lugar que cada vez se percebe menos porque não é dele desde o início. Só que do outro lado está uma coisa que já não é bem Keizerball. Pode-se até queixar de alguma xenofobia nos mimos que recebe de uma certa imprensa e blogs da especialidade, mas a menos que esses o tenham obrigado a abdicar das suas ideias e de Nani ao intervalo, tudo o resto é culpa própria.
Já disse que como há 25 anos o Benfica ganhou ao Sporting, em casa deste, pelo dobro dos golos sofridos? Ah, e para quem acha que a culpa é do estrangeiro, tal como há 25 anos Sousa Cintra teve dedo na formação da equipa. Aquele presidente do mercenário? Ora pois...
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+ João Félix. Fez relembrar João Vieira Pinto sem nunca andar perto do que foi a masterclass de há 25 anos. Poderia ter feito um hat-trick mas o VAR (bem) primeiro e a sua azelhice depois impediram isso. Nunca o Sporting encontrou maneira de o anular. E quando encontraram, ele arranjou outras formas de desequilibrar. Como diria Gabriel Alves, joga bem com bola, sem bola e vice-versa.
+ Seferovic. Sempre dissemos aqui no Estaleiro que tinha tudo para vingar.
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O caralho é que dissemos! Está feito um jogador, aparecendo atrás a querer construir, a dar linhas de passe e a falhar golos cantados de uma forma que nos relembra que apesar do nome balcânico vem de um País historicamente neutro que prima pela descrição. Que é como quem diz, nada de marcar tudo o que a equipa dá senão isto é goleada atrás de goleada e isso é coisa para criar animosidade.
+ Marcel Keizer. Terá, nas eliminatórias da Taça oportunidade para limpar a má imagem. Esperemos que não limpe demasiado bem, só o benzinho suficiente para não evitar a viagem do Benfica até ao Jamor. Mas ontem foi um aliado de peso de Bruno Lage. Se as coisas até se poderiam complicar, tratou de matar o sonho do Sporting com a saída de Nani para a entrada de Diaby. O corredor direito do Benfica respirou de alívio e a equipa descansou, que é como quem diz marcou só mais dois golos e falhou uns quantos mais.
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– Bruno Lage. Sabemos que é preciso gerir o plantel, mas tirar João Félix ontem é um crime de lesa-adepto. Mostrando que não está preocupado com ser um homem respeitado, não acabou o jogo sem, do lote de disponíveis no banco (Jota e Krovinovic por exemplo), eleger Sálvio como o jogador para entrar na fase de (ainda) maior bombardeamento do Sporting. O Benfica ganha em Alvalade mas só por culpa do treinador do Benfica é que acabou com menos dois em campo.
– Jardel. Estava aqui a tentar lembrar-me de quem esteve mal na equipa do Benfica. Como não me lembro de ninguém vou primeiro por um ódio de estimação. Se não encontram nenhum problema vejam a segunda parte. De certeza que em alguma altura foi ultrapassado por um jogador do Sporting. Ou então era a relva, sei lá eu!
– Samaris. Eu sei que com o Lage até parece um gajo mediano, mas aquilo de querer fazer o que não se sabe e perder a bola para um golo que poderia ter galvanizado o Sporting não se faz. Cuidado que o Keizer não estará lá sempre para ajudar a emendar esses erros!
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