quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

 

Sporting: Para lá do óbvio

Bom dia leitores,


Surpresa? 

Ainda recentemente abordámos a coerência do impensável na equipa principal do Sporting e somos brindados com mais um prova irrefutável da mesma neste jogo com o Setúbal.

Para lá de todas as condicionantes associadas a estes jogo, desde logo a ausência de alguns titulares, passando pelo desgaste dos sucessivos jogos e a perda geral de qualidade de jogo, existe um factor fundamental que mudou o curso do jogo.

E não, não estou a falar da arbitragem, isso será o foco durante toda a semana.

Estou a falar da falta de "tesão" com que a equipa entra em todos os jogos.

O Futebol não é, de maneira nenhuma, um jogo em que a "atitude, garra e capacidade de sofrimento" é o único factor que permite vitórias.
O que ganha jogos é a qualidade com bola e sem ela.

No entanto, a atitude expectante e até desligada com que abordamos os jogos faz-nos andar a correr atrás do prejuízo em TODOS os momentos.

Keizer optou por organizar a equipa para que esteja menos exposta quando perde a bola, optando por jogar muito mais pelos corredores laterais, desbaratando o capital de jogo interior que demonstrava no início da sua carreira no Sporting.

Tem tido uma enorme dificuldade em rodar a equipa, apesar de alguns acrescentos (de qualidade, na minha opinião) que foram feitos ao plantel.

No entanto, falta a Keizer e, fundamentalmente, aos jogadores perceber que os jogos são para entrar a matar, dominar desde o primeiro instante e marcar golos o mais cedo possível para que possamos controlar o jogo com bola durante mais tempo, prevenindo algum desgaste e possíveis lesões.

Para lá do óbvio, o Sporting precisa de perceber qual é o seu lugar. 

Precisa de entender que temos que dominar todos os jogos.

Precisa de entender que os adversários não terão medo de atacar se nós continuarmos a dar-lhes a bola a todo o instante.

Precisa de entender que só o talento conjugado com a tesão de um dominador é que permite ganhar campeonatos.

Para lá do óbvio, o Sporting precisa de esquecer os factores externos e ganhar por 4 todos os jogos, evitando que o óbvio faça estragos. 

Picareta Oceano
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domingo, 27 de janeiro de 2019

 

Sporting: A consistência do impensável

Boa tarde leitores,


O Sporting é, de todos os 3 grandes clubes Portugueses, o que possui características mais... peculiares.

Somos o clube que menos ganha no Futebol Sénior, o que possui, desde sempre, a massa associativa mais fracturada e um índice de auto-estima mais baixo, o que nos faz ser sempre mais críticos dos nossos jogadores/treinadores/presidentes do que a média dos adeptos dos outros Clubes.

Possuímos aquela aura inexplicável do "isto vai estoirar a qualquer momento", criando um medo quase cénico quando a responsabilidade aperta.

E a realidade é que estoiramos, de forma consistente, com jogadores, treinadores e Presidentes a cada 4 anos, sempre num rollover de expectativas que nos faz sentir em carne viva.


Esta introdução vem a propósito da recente vitória na taça da Liga.

O Sporting enfrenta a final-four no período de menor entusiasmo do Reinado Keizer, a jogar cada vez pior, a marcar menos golos mas a sofrer os mesmos.

Estávamos na fase terminal do Rollover motivacional, em que todos os Sportinguistas esperavam uma débacle monumental contra o Braga, permitindo aos nossos adeptos, sempre sequiosos de um reinício, poder subir a curva da expectativa com uma qualquer mudança dentro do plantel ou corpor técnico do Futebol.

É esta consistência de comportamento que nos torna tão especiais e um clube tão difícil, onde o impensável está sempre ao virar da esquina e à espera de derrubar a porta de entrada, com estrondo, para gáudio de todos os adeptos, do Sporting e restantes clubes, ainda que por razões diferentes.

Então, perguntam vocês, o que caralho é que aconteceu nesta final four? desafiámos o nosso prório fado?

Nada disso, quem vive um Clube como o Sporting, dentro da consistência do impensável, sabe perfeitamente que estes momentos são os parágrafos entre duas linhas de uma carta de suicídio.

Esquecendo o jogo com o Braga, já aqui escalpelizado, esta final é também consistentemente impensável.

O Porto tinha mais um dia de descanso, tem jogadores mais fortes nos duelos e está muito mais motivado pela classificação em que se encontra. Joga mal que se farta, tem um modelo que prejudica os seus melhores jogadores, mas para Portugal chega perfeitamente, tal é a pobreza franciscana do nosso futebol.

O Sporting está todo roto, em decréscimo de confiança e sem grandes resquícios do bom futebol apresentado após a entrada de Keizer.

No entanto, na primeira parte fomos muito mais fortes, subimos um pouco as linhas de pressão e a total falta de capacidade deste Porto veio ao de cima.

Claro que, após os 55 minutos, a equipa deu um estouro monumental, permitindo ao Porto subir as suas linhas e começar a enfiar charutos para dentro da área, sem grande elaboração, sem grande qualidade, mas dando uma ideia de domínio que efectivamente foi materializado num frango do Renan.

Num assomo de raiva, a equipa do Sporting foi para cima do Porto e em 10 minutos criou situações em que o Porto, com todo o seu poderio físico, não conseguia resolver, por efectiva falta de qualidade colectiva a defender.

O jogo foi para penalties e os jogadores do Porto, invejosos da prestação do Braga, acharam que deviam mostrar ao Clube anfitrião da Taça da Liga como se perde um duelo nas Grande penalidades.

Assim foi, parabéns ao Sporting por duas razões, por este título, claro, e por consistente no impensável:

Uma taça a jogar com Jefferson a Def. esquerdo e Petrovic a central...





Picareta Oceano
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quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

 

Braga vs Sporting a duas mãos com luvas!

A luta entre o auto-denominado "quarto grande" e o moribundo "terceiro grande" teve a sua batalha ontem na Pedreira para a taça que menos importa neste país.

Onze do Braga com todos os titulares habituais, enquanto que o Sporting deixou Bas Dost e Diaby no banco. Em ação vimos Phellype, que acabaria por acrescentar pouco, e Raphinha, claramente bastante acima do maliano em termos de capacidade, tendo até duas flagrantes oportunidades durante o jogo que Marafona acabaria por defender.

Entrada muito fraca do Sporting, displicente e desconcentrada, aproveitando o Braga para marcar logo no primeiro remate à baliza. Embora sem jogar bem, o Braga teve ascendente nos primeiros 20 minutos, no qual se deve à passividade do Sporting e à motivação renovada do Braga estar a jogar contra um grande; infelizmente, essa motivação perde-se quando joga contra certo e determinado clube grande que equipa de vermelho. Questiona-se assim o paradoxo argumentativo de Abel, quando no fim afirma que o futebol português está mal. Mas adiante que estas questiúnculas são tratadas noutros lugares.

Bruno Fernandes acorda a meio da primeira parte, sendo que o jogo começa a ficar equilibrado e o Sporting dispõe de algumas oportunidades, acabando por igualar o resultado com uma cabeçada à macho de Coates. O Braga tornou-se relativamente inofensivo, não apresentando argumentos de qualidade para se superiorizar ao Sporting, nem vice-versa. Foi um mau jogo de futebol, sem domínio claro de nenhuma equipa, injustificando assim o preço dos bilhetes.

Na primeira parte, do Braga destaca-se a qualidade de Dyego Sousa na letalidade e nos apoios oferecidos à equipa, e do Sporting destaca-se Coates, sendo imperial no jogo áereo, e Nani no único jogador ofensivamente esclarecido do Sporting. Como picaretas de intervalo, destaca-se o homenzinho zuca do meio campo do Braga no qual não decorei o nome, baseando o seu jogo na paulada e traulitada, e em Mathieu, completamente irreconhecível. Gudelj também merece uma palavra de desprezo, pois não acrescentou nada ao jogo: defensivamente muito permeável e arrisca pouco com bola, mastigando o jogo no meio campo.

Picareta Douala

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Depois de uma primeira parte deprimente, a segunda adivinhava-se muito melhor.

Mas não, conseguiu ser ainda pior!

A equipa do Sporting começou completamente desconcentrada e a comer um golo do Braga que foi posteriormente anulado.

O Braga demonstrou pouca qualidade em termos ofensivos, algo que partilha com o Sporting, permitindo que a segunda parte se arrastasse de forma lenta e dolorosa para descrédito total do Futebol Português.

No entanto, começamos a ver o paradigma do Sporting a mudar, sempre fomos o exemplo máximo da Lei de Murphy e o facto é que isso não está a acontecer. Keizer a mudar mentalidades?

Não, é tudo tanga, o que é facto é não merecíamos ganhar este jogo, tal é a confrangedora capacidade colectiva desta equipa, restando-nos aplaudir a sua coerência, defendemos tão mal como atacamos, o que é de louvar.

Nos penalties, mostrámos toda a nossa capacidade de acertar em todo o lado, com excepção da baliza. O exemplo máximo será D. Bufas Jefferson, que queria tanto acertar no Marafado que acabou por o magoar, permitindo que bola beijasse, suavemente, o canto interior das redes.

Valeu-nos o Braga e a sua complacência, facilitando claramente a nossa vida, tanto durante o jogo como nos penalties.

Melhores em campo:

- Depois desta porcaria achavam mesmo que alguém merecia crédito? Vá, o Renan, por ter aguentado o jogo do mata por parte do Braga durante as grandes penalidades.

Piores em campo:

- Braga, Sporting, árbitros e Liga. Assim fica fácil.

Bem, sábado temos "jogo" com o Porto. Acho que tenho ovos de 2015 ainda guardados, vou aproveitar esses 90 minutos para os comer, serão sempre um prazer, comparados com o futebol que temos vindo a apresentar.

Picareta Oceano
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terça-feira, 22 de janeiro de 2019

 

A Chave tem que abrir a porta.

Bom dia,

Todos nós, de uma maneira ou de outra, já nos vimos neste conflito:

Vamos abrir uma porta e, do molhe de chaves, apenas uma pode ser a chave certa.

Nós sabemos que tem que ser essa chave!

Mas andamos e andamos de volta da fechadura e a porta não abre, até que aparece sempre aquela personagem que nos acompanha (mulher/namorada/queca/amigo bêbedo) que regorgita as célebres palavras: "tens que dar um jeitito"....

Fdx, isso sei eu pah!!!! Estás a chamar-me de burro, sua alimária?????

Bem, isto a propósito do jogo da Champions do Shaktar de Paulo Fonseca, o que parece não fazer grande sentido e se calhar não faz.


O Shaktar é das equipas mais interessantes a nível Europeu, exactamente porque é fiel, de forma quase canina, ao estilo de jogo implementado pelo seu treinador.

Um futebol feito de domínio, de posse, de verticalidade e, após a perda de alguns elementos individualmente brilhantes, de um sentido colectivo ainda mais aprofundado.

É um equipa, na verdadeira acepção da palavra.

No último jogo da Champions, o jogo estava meio encravado, estiveram a ganhar 2-0 mas deixaram-se empatar por um hoffenheim também ele com muita qualidade.
O Shaktar continuou a jogar o seu futebol dominador mas a puta teimava em não entrar. 

Chegamos ao tempo de desconto e a chave continuava a não entrar, o que fazer?

1) Renegar por completo à forma de jogar e atirar a bola para a molhada? Ou seja, usar uma chave inteiramente nova numa fechadura com uma entrada que não é a certa?

2) Continuar a fazer exactamente o que estava a ser feito, colocando a equipa do Hoffenheim em cheque a cada posse de bola, aproximando a equipa da área contrária, com paciência e qualidade até serem encontradas as condições óptimas para fazer o golo? Isto é, continuar a usar a chave certa até a porta abrir?

O Vídeo seguinte, de um ângulo muito feliz, explica exactamente o que deve ser feito:



Paciência na circulação, apoios próximos, boas decisões.

Qualidade individual posta ao serviço de um excelente colectivo, contribuindo para um remate em boas condições.

Este é o caminho, o ideal definido à partida e nunca abandonado.

É a chave certa na fechadura que teimava em não abrir.

Picareta Oceano

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quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

 

Assalto ao Castelo - Burro velho, não aprende línguas...

Os mais velhotes, que é velhos que estamos a ficar, lembrar-se-ão certamente que a saga do polícia John McClane, conhecida hoje em dia por Die Hard, começou por ser o Assalto ao Arranha-Céus, seguida de Assalto ao Aeroporto. O título inglês contém em sim um jogo de palavras interessante. Não só o personagem titular se recusa a morrer nas cenas mais inverosímeis, um pouco como Sálvio insiste em aparecer na ficha de jogo, também os vilões encontram o seu fim em cenas bem macacas, um pouco como Félix parece talhado para retalhar defesas. Mas há um piscar de olhos naquele título ao ditado old habits die hard, que apesar da sua tradução literal poder ser hábitos antigos custam a passar, na sabedoria popular já há muito se enraizou que burro velho não aprende línguas.



Ao terceiro encontro sob a orientação de Bruno Lage, o Benfica enfrentou o seu primeiro grande desafio. Se o Rio Ave tem qualidade individual que o Santa Clara não tem, a verdade é que também o seu treinador se estreava aos comandos da equipa na Luz. Se o treinador do Santa Clara tem feito um trabalho muito interessante para deixar os Açores na Primeira, não é menos verdade que a diferença de qualidade individual para o Benfica não permite esperar muito mais do que perder por poucos, e depois ver para onde sopram os ventos da fortuna. Já no Vitória Sport Club, que tratarei por Branquinho só para não ter de pronunciar a palavra Vitória, um plantel feito com jogadores de qualidade, acima até à do Rio Ave, e boa orientação técnica, personificada na figura competente de Luis Castro, estão casados há mais de seis meses. Se havia adversário para aferir o que duas semanas de Bruno Lage deram à equipa, este era o adversário.

A análise, se é que análise se pode chamar, à partida remete muito para o imaginário da série Die Hard. Os filmes caracterizam-se por um recurso à violência muito acima do que são os limites do aceitável. E assim foi com o Branquinho! Gozando do que alguns chamam um critério largo, os jogadores do Branquinho foram querendo criar contraste com os jogadores do Benfica através do recurso a técnicas que tornariam o jogo num equipamentos brancos contra nódoas negras. Várias entradas para lá do limite das leis, não penalizadas por um dos agentes da marca dos seus equipamentos, criaram nos jogadores Vimarenenses um sentido Yippee Ki-Yay, Motherfucker! de cada vez que disputavam um lance.



Só que, passe a redundância, é redutor reduzir o Branquinho à sua capacidade demolidora de causar inveja a Miley Cyrus no clip de Wrecking Ball (bastante apreciado aqui no Estaleiro). A equipa de Luis Castro foi, a partir da meia hora de jogo, conquistando metros no terreno, através de uma pressão intensa progressivamente mais alta e de corte de linhas de passe. Sabendo que da linha recuada do Benfica, três em cinco jogadores têm dificuldades em sair com a bola nos pés, houve uma aposta em forçar o bombo para se ganharem as bolas mais à frente. A estratégia foi dando frutos, mas só após se verificarem algumas premissas, tais como cansaço acumulado, e um meio campo que perdeu a noção de descer para ajudar a defesa.

Um dos problemas deste Benfica é precisamente essa ajuda. Se Pizzi dá pouco apoio, Gabriel, Fejsa e Samaris procuraram fazê-lo, mas obtendo diferentes graus de sucesso.

Por partes: Gabriel foi muito eficaz na ligação entre defesa e ataque enquanto a forma física lhe deu a capacidade de discernimento para o fazer; Fejsa tem, nestas duas semanas, redescoberto uma capacidade de jogar com bola que lhe desconhecíamos desde que o 433 vitoriano montou arraiais na Luz, mas mesmo assim insuficiente para o que se exige; e Samaris procurou fazer essa ligação, com algum sucesso, conquanto a bola andasse por perto dele. Falta então falar aqui dos centrais. Jardel com espaço parece um bom central com bola. Se lhe fecham os espaço parece um cachorrito bebé alimentado com uma garrafa de whisky: até pode ser que a bola lhe bata nos pés e tome a direcção certa, mas o factor decisivo é que a bola lhe bate no pé e não é o pé que direcciona a bola. Rúben é mais limitado, está ciente da limitação e não se mete em aventuras. Se Fejsa varre o campo a toda a largura e confia em Gabriel para as dobras, Samaris prendeu-se mais a um lado e entregou o lado oposto a um Gabriel já cansado e sem o discernimento do início do jogo. E a equipa ressentiu-se.


No entanto, nem só de limitações técnicas com bola vive a equipa do Benfica. Algumas peças importantes no jogo sem bola foram também ficando mais cansadas, outras foram saindo e os que foram entrando não deram o mesmo. Nestas é de particular importância a troca de Zivkovic por Sálvio. Se o Sérvio fez um jogo mau, em que deu mais boas intenções do que outra coisa, o Argentino deu um canto. Só. Nem reacção à perda, nem auxílio à defesa, nem ajuda a transportar jogo. Só se explica a sua renovação recente num contexto de parcerias estratégicas nas águas turvas do Mar Negro, porque o que dá à equipa em termos de jogo recomendam um contrato das Arábias, nas Arábias, para não dizer no caralho! Fiquei com a sensação que teria sido mais proveitoso trocar Krovinovic por Pizzi e colocar o Sérvio na direita. Pior não faziam e Pizzi sempre descansava para o próximo assalto ao Castelo.


A questão então é porque é que comecei este texto com todo aquele discurso sobre a saga de filmes? Não foi só para falar da violência tolerada aos jogadores da Cidade-Berço, não! Há hábitos que custam a passar e o Benfica demonstrou-os todos na segunda parte. A forma como a equipa se revela incapaz de ultrapassar a defesa do Branquinho com bola é um eco do passado. O recurso ao chutão para uma corrida louca idem. Mas já  coisas boas. Naquela primeira meia-hora de domínio absoluto percebemos que afinal não há uma lei que impede o uso do corredor central para se contruirem jogadas. Aliás, as duas coisas que Lage já trouxe foram verticalidade na forma de jogar e reacção à perda. Agora é trabalhar para melhorar ambas e fazer com que durem mais de meia hora. A fé que bom futebol é possível renasceu, é só trabalhar para que ela viva.

+

+ Rúben Dias. Um jogo imperial, no sítio certo, à hora certa. Quando desliga o modo intempestuoso e se foca consegue exibições como a de ontem. Premiado com uma assistência que explica ao mais bronco dos adeptos a diferença entre tocar o bombo e fazer um passe longo, foi também imperial no posicionamento e na dobra de companheiros de sector. Sabe que não tem os pés mais delicados do mundo da bola, portanto preocupa-se em fazer o que sabe e consegue sem complicar. Não é vistoso, mas resulta.

+ Svilar. Se trabalhar e conseguir melhorar em cima da exibição de Guimarães, tem tudo para cumprir tudo o que se disse dele antes de a anterior gestão ter decidido dinamitar a confiança de um júnior. Bom a cruzamentos, bom posicionamento entre os postes, boa noção de profundidade na área e ainda uns pezinhos bem mais seguros do que os de Vlachodimos. Face aos últimos jogos do helénico, arrisco dizer que marcou pontos na luta, deixando os adeptos a savilar pelo que pode dar.

+ Gabriel. Melhor jogo desde que chegou ao Benfica. Deu o estoiro mais ou menos quando Sálvio entrou em campo, mas até aí foi primeiro construtor de jogo, demolidor implacável de vontades vimarenenses, maestro aprendiz. Está a beneficiar e muito de um treinador novo. Por aqui é aproveitar para carburar nos treinos. E passar umas noites com Fejsa a perceber o segredo do Sérvio para estar em todo o lado. E levem o Gedson com vocês, que o saber não ocupa lugar.

– Sálvio. Só jogou meia hora, mas foi o suficiente para ser o pior em campo. Ziv fez um dos piores jogos da época, mas face ao que o Argentino não fez, o Sérvio deixou saudades. A primeira acção de relevo de Sálvio é uma falta que faz fruto de... falta de jeito! Chega tarde a um lance, tropeça em si mesmo e ao cair empurra o adversário que lhe fugia. Teríamos de esperar pelo minuto 80 e picos para outra acção de relevo, ao ganhar um canto depois de se colocar num nó de adversários quando instantes antes poderia ter dado num companheiro melhor colocado para prosseguir as jogadas. Dizer que foi um defesa adversário seria estar a dar-lhe mais relevo do que realmente teve. O Branquinho agradeceu o nunca estar onde devia e nunca saber o que fazer. Seria necessário esperar pela entrada de Gedson, a dez minutos do fim, para que a ausência de Sálvio começasse a ser colmatada. Para não ser acusado de só dizer mal, direi que foi muito útil para Lage perceber o que melhorar quando treinar os momentos em que a equipa tiver menos um em campo. Lembram-se do burro velho que não aprende línguas? Pois...

– Zivkovic. Um dos piores jogos da época. Um bom lance no segundo minuto prometia muito mais. Sempre muito por dentro da defesa vimarenense na primeira parte, o que seria útil se conseguisse contruir aí dentro, foi mais útil a limitar a primeira fase da construção do Branquinho do que a combinar com colegas e portanto ofensivamente nunca conseguiu dar os rasgos e o brilhantismo que são seu apanágio. Só não foi o pior do Benfica porque... Sálvio!

– Hugo 'Maccron' Miguel. Aqui ia pôr um misto de Jardel, Almeida e Pizzi, que longe de bons, tiveram um somatório de falhas que poderiam ter sido decisivas. Só que houve algo que estragou o jogo e isso foi o fraco profissionalismo do árbitro. Diz-se por aí que é representante da marca que equipa o Branquinho. Se isso for verdade, então fez um muito mau serviço na divulgação da mesma. Não que os jogadores da equipa da casa não lhe dessem motivos de sobra para dar cartões em barda, por via de darem porrada sem fim nos da equipa visitante. Ele é que não quis! Com o jogo em sinal aberto, aquele logotipo teria tido muito mais tempo de antena. Nem estaria aqui mencionado não fosse o facto de ter investido muito mais em divulgar a marca concorrente. Se é certo que deveria ter sido mais ríspido para com Jardel (uma liability em forma de central), se aplicasse o mesmo critério que levou ao amarelo a Pizzi apenas podemos especular se o VSC chegaria ao intervalo com nove em campo e o jogo acabaria lá para o minuto 70, ou se ao fim de dois ou três cartões bem mostrados, os da casa procurariam ganhar os lances por melhor posicionamento ou desarmes limpos. Ficará sempre a questão...
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terça-feira, 15 de janeiro de 2019

 

Sporting - Porto: Uma análise De Profundis

Boa tarde estimados leitores,


Deparei-me com esta tradução de um texto do Oscar Wilde:

"Por detrás da alegria e do riso, pode haver uma natureza vulgar, dura e insensível. Mas por detrás do sofrimento, há sempre sofrimento. Ao contrário do prazer, a dor não usa máscara"

O Sporting - Porto foi a glorificação da dor.

Mal jogado, pouco pensado, muito sofrido, muito corrido.

Neste tasca mal amanhada acreditamos que o Futebol é prazer e é alegria, acreditamos que mesmo o mais empedernido atleta (Alô Marega, Alô Jefferson), se bem orientado, poderá desfrutar do jogo de uma forma positiva.

Mas, para isso acontecer, tem que existir uma ideia.

Essa ideia deverá estar sempre orientada para a valorização do atleta e das suas capacidade técnicas, de divertir o espectador enquanto, de forma o mais profissional possível, cumpre com os princípios delineados pelo seu treinador para garantir a vitória da sua equipa.

O que assistimos foi ao enaltecer do sofrimento sem máscara, sem filtro, do futebol do bombo, do esgar de dor e do infinito fado, como se fosse o nosso destino a vitória heróica e não a vitória da felicidade.

As culpas poderão ser assacadas às mais diversas instâncias, desde as administrações, ao roupeiro passando pelo Mestre Alves, mas no fim da linha estão sempre os treinadores e os jogadores.

De Sérgio Conceição pouco podemos esperar, tem uma tipologia de jogador totalmente definida, assente nos constantes duelos físicos e fé em Brahimi, dando-se ao luxo de deixar o melhor médio deste campeonato no banco. Ao fim, ao cabo, espectáculo é no Coliseu né?

Já de Keiser esperava-se, até pela necessidade imperiosa de ganhar, mais alguma coisa.

O Sporting conseguiu ultrapassar com relativa tranquilidade a primeira fase de pressão do Porto, conseguindo colocar jogadores enquadrados com a última linha defensiva do Porto.

Esta situação ocorria apenas quando o Sporting decidia jogar a bola pelo chão, utilizando os apoios prestados pelos médios e avançados, algo que aconteceu muito poucas vezes, tal era a pressa do Renan de mandar a charutada para a cabeça do Bas Dost.

Se o Sporting conseguiu ultrapassar as linhas do Porto, então o que fallhou?

Guardiola costumava dizer "o meu trabalho é levar-vos à entrada da área, depois disso, é convosco".

E foi precisamente aqui que o Sporting claudicou de forma aberrante.

Isto é, quando o Sporting quis jogar pelo chão, conseguiu chegar perto da área do Porto com relativa facilidade, porque o Porto, ao contrário do que os estimados comentadores escrevem/falam/regorgitam, não defende particularmente bem, bastando uma equipa com um mínimo de qualidade na sua circulação, fugindo aos duelos físicos, para desestabilizar defensivamente Filipe, Militão e companhia.

Isto revela algum trabalho de Keiser, apesar de ser criticável a postura de pouco risco, o pouco tempo de trabalho que leva em Portugal levou-o a ter uma abordagem mais cautelosa.

O que é totalmente incompreensível é a escolha de alguns intervenientes para quando decide, finalmente, jogar futebol.

É inacreditável a quantidade absurda de bolas perdidas por Diaby, sabendo que, principalmente neste jogos de maior pressão, todas as bolas valem Ouro, este senhor vindo da Bélgica torna tudo pechisbeque. Um autêntico penedo, tal a falta de qualidade técnica, mas principalmente de entendimento daquilo que o jogo pede.

Com o avolumar dos minutos, com a entrada de Oliver e a passagem de Corona para defesa direito, o Porto dominou os primeiros minutos da segunda parte e criou duas ou três ocasiões com relativa facilidade, o que demonstra que ainda existe esperança, desde que os intervenientes certos estejam em campo.

Com o cansaço a instalar-se voltou o futebol sem máscara, da dor e do pânico, como se o bom futebol fosse incompatível com o ganhar, quando está provado que é o bom futebol, em que os jogadores se divertem de forma responsável, que marca mais golos, que ganha mais jogos e garante mais pontos.

É o bom futebol que ganha campeonatos, que valoriza atletas e projecta a nossa liga.

No sábado passado, a única coisa de jeito deste clássico foi o horário.

O resto está documentado nesta imagem:





Picareta Oceano
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sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

 

Morituri te salutant.

Há um certo sentimento de pertença que governa o nosso apoio a um clube mas isso traz consigo um lado negativo que é o de rapidamente transformar qualquer discussão futebolística num nós contra eles perigoso. Foi sempre assim. Na tasca ou no recreio, sempre foi assim. E é assim no futebol ou na política.

Coisas como o "meu coxo é melhor que o vosso" ou "nós somos tão bons que até podemos jogar com o Cepo contra vocês" são bocas usuais na preparação de um jogo qualquer. Mas lá no tasco é sempre especial quando se prepara um Dérbi ou um Clássico. Mas o dia de jogo, é diferente. Assim que saem os onzes titulares a descrença vem ao de cima. "Ah, mas aquele isto, e o outro coiso". Mas a descrença vai-se ali por breves instantes após o apito inicial.

Durante o jogo é quando o sentimento tribal assume o seu auge. Quer-se mesmo é que os nossos sejam e joguem melhor. Queremos ter a bola, acampar no meio campo adversário, fintas em cima dos melhores defesas deles se possível. Meter-lhes cabritos, cuecas e sentar os gajos. Fazer golos do meio campo, rabonas e trivelas. Vale meter-lhes todo o lote técnico em cima. Não basta ganhar, são precisos pontos de mérito por valia técnica.

Em tempos recentes no entanto, temos visto o foco a mudar. As picardias de "a minha picareta é mais romba que a tua" tem dado lugar à discussão sobre "o meu projectista pagou menos por fora do que o teu". E se não ajudou a forma como a Sociedade encarou o processo Apito Dourado, há um outro factor pior. Nada terá tornado um jogo de futebol num autêntico Circo Romano mais do que o momento em que os programas onde se devia falar das fintas, da táctica, dos golos e das defesas se tornaram conversas de tasca em frente a câmaras. Já aqui foi falada a parca qualidade, ou pseudo-qualidade, do jornalismo desportivo em Portugal. Não vou portanto falar de como com tanta gente capacitada, e digo pessoas que percebem mesmo e discordam umas das outras (quem queira fazer um debate sumarento, veja os beefs que por aí vão), se aposte em gente sem formação, sem conhecimento e que fogem de falar do jogo mais depressa do que o Sálvio se enfia num cacho de três adversários.

Não é difícil de compreender que não exigirá espectáculo quem não sabe o que espectáculo é. Lembrar o Domingo Desportivo da RTP é lembrar uma noite em que se reviam os jogos das Primeira e Segunda Divisões, depois das Ligas Espanhola, Italiana, Inglesa, jogos mais importantes da Liga Alemã e se houvesse tempo metiam-se uns jogos Franceses e Holandeses para encher chouriços. Não era pouco. E nem eram precisas análises, bastava ver os golos. E as jogadas. E não repetir em cinquenta ângulos diferentes lances polémicos. Normalmente um ou dois davam para perceber que o Baía defendeu mesmo fora da área e que não era fora de jogo. Mas nem todos os lances são assim tão decisivos, nem descarados. E, se em caso de dúvida no fora de jogo, se dá(va ?) vantagem ao avançado, para quê repetir? E a malta ia no outro dia para as escolas, ou para os jogos entre colegas de trabalho, a querer imitar o nó do Caminero, as defesas do Buffon, os livres do Roberto Carlos, as fintas do Romário ou outras coisas que tais. E a conversa do árbitro ficava para as bocas.

Sai caro hoje fazer isso, com os direitos ao preço que estão? Se calhar sai. O que não sai caro é convidar o equivalente de três bêbados da tasca, ter o cuidado de não escolher bêbados que no seu estado sóbrio consigam assinar o nome, metê-los numa sala e filmar.  Num caso até se junta aquele gajo que sabe ler as gordas porque teve um tio que lhe publicou uns textos no jornal da aldeia, mas que acrescenta bola. Se calhar até retira! Isto porque não interessa aos responsáveis pelo produto futebol promoverem esse produto, para o poderem vender mais caro. Há uma certa ideia paroquiana que nos impede de perceber que o produto futebol é global e focamo-nos em quezílias de família que só esburacam a casa que estamos a tentar vender, sem pensar no efeito desses buracos no preço final.

Quem alinha nisto, e é demasiado fácil deixar-mo-nos levar pelo tribalismo a que se apela, baixa intrinsecamente os seus níveis de exigência. E é logo levado pela sua paixão a defender a sua tribo e a ver conspirações em tudo e a santificar os seus demónios.

Quando Sérgio Conceição no início da época remeteu o espectáculo para o Coliseu ele acabou por resumir o que o mais cego dos adeptos defende. Muitos dos que defenderam Rui Vitória até à última, há um ano exigiam calma porque era ele quem nos tinha dado o tetra. A ideia de que os resultados justificam os meios está a remeter o futebol português a um papel menos do que marginal. E daí a necessidade de se defender o treinador Português só porque é Português e portanto dos melhores do mundo. As performances Europeias deixam a nu a relevância do futebol Português, e nenhum clube se apresentou inicialmente sem treinadores "do melhor" do Mundo. Mas a verdade é que há hoje na Primeira Liga poucos jogadores que pudessem competir com qualquer um dos titulares de equipas portuguesas que nos últimos dez anos tenham ido a uma final da Liga Europa, Braga incluído! 

Enquanto não virmos a luta pela verdade sem óculos com lentes coloridas; enquanto não exigirmos qualidade nas equipas; enquanto não soubermos torcer por uma forma de jogar como forma de chegar aos resultados, não conseguiremos exigir uma lei que torne seguro famílias irem à bola, que puna a corrupção, que nos dê bilhetes acessíveis, clubes pujantes, não teremos direito a ver futebol na televisão.

Enquanto não quisermos que a equipa jogue bem, estaremos sempre sujeitos a pontapés do Herrera, que tanto vão para canto, como ao ângulo e que decidem maus jogos e definem campeões ou não. Enquanto não quisermos jogar bem porque isso é que traz resultados sustentados, estaremos sempre sujeitos a golpes do destino. Golpes esse que fazem de um duelo entre dois clubes que lutam para não descer da Bundesliga, um jogo melhor e mais atraente do que um Clássico português.
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terça-feira, 8 de janeiro de 2019

 

Keizer: uma valente Peseirada

Bom dia caros Tomanés,


O jogo de ontem adivinhava-se difícil, a equipa treinada por Ricardo Costa gosta de dar cacetada, é organizada e o Sporting tem perdido alguma da sua capacidade ofensiva, tanto na fase de construção como em criação.

Depois deste texto tão certinho, só apetece dizer asneiras.

Foda-se oh Keizer, pela tua formação e até pela tua Nacionalidade sabes perfeitamente que a força das ideias é o único motriz de um bom futebol!

Conseguiste fazer o mais difícil, colocar a equipa a jogar um futebol de ataque num curtíssimo espaço de tempo. E agora retrocedemos, voltámos a jogar cruzabol, temos cada vez menos jogadores no meio e os laterais avançam a medo.

Que se passa? São fracos? Nós sabemos caralho, mas coloca-os a jogar da forma que queres, até chegarem outros melhores que consigam interpretar tudo o que pretendes.

O que não faz sentido é abdicar da tua ideia porque são fracos.

Mas queres saber o que fez retroceder tudo um par de meses? O que fez os teus jogadores acreditarem um bocadinho menos em ti?

EPA COLOCAR O ANDRÉ PINTO!!!!!! POR TROCA COM O NANI??????

Keizer, a malta gosta de ti porque viu um pouco de lirismo, um conceito romântico de "live by the idea, die for the idea".


Quero o Sporting dos teus primeiros tempos de volta, perdendo, ganhando ou empatando. Mas quero isso de volta.

Cartão amarelo para Keiser, todos temos direito aos nossos momentos Peseiro, já tiveste o teu, já chega.


Picareta Oceano
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sábado, 5 de janeiro de 2019

 

Vergonha na Luz!

O despedimento de Rui Vitória dias apenas, se não horas, ter recebido o prestigiado prémio Betoneira 2018 é uma pouca vergonha como há poucas no futebol português. É escandaloso que um treinador premiado, com a sua nova forma de comunicar e tão amigo de seguir as ordens do presimente do clube seja colocado no olho da rua. Nem vou falar de como ainda há menos de dois meses o presimente disse que era com Rui Vitória que o clube ia ganhar. Se calhar faltou a luz naquela noite...

Como aqui gostamos tanto de malhar com a picareta, como de construir algo a partir dos escombros, aqui seguem as sugestões para quem deve suceder a Rui Vitória, sem que os jogadores notem grandes diferenças no futebol jogado. Sim, sabemos que o nível de exigência é alto, mas o caminho faz-se caminhando. E se fosse fácil não era para nós.


José Mota

Quando Rui Vitória chegou à Luz muitos defenderam essa contratação porque Rui Vitória havia ganho uma taça de Portugal a Jorge Jesus. Desde o ano passado também José Mota já ganhou uma taça a Jorge Jesus, apresenta um futebol com melhores mecanismos de jogo do que o Vitória do Rui Carlos tinha, e é o paradigma do futebol que se tem visto na Luz: defendemos este ponto ou o perder por poucos até à morte!

Abel Xavier

Antigo homem da casa, como Rui Vitória, com uma carreira a orientar clubes perfeitamente alinhada com os sucessos que Rui Vitória tem conseguido e que tem a vantagem, ao contrário de José Mota, de parecer ser a fonte de inspiração de Gustavo Santos. A sua épica conferência sobre o "treina a dor" só encontra paralelo numa qualquer boçal palestra rui vitoriana.

José Peseiro

Duas vezes os Sportings (o Lisbon e o de Braga), uma vez o Porto. Claramente o homem precisa de mais um cromo na caderneta de grandes, tem a vantagem de ser Ribatejano e por isso a malta não estranhar que tenha de passar por rotundas em Alverca, e com os dotes de forcado até era capaz de domar o Sálvio. Isso e quando se contratasse um treinador holandês de currículo obscuro depois dele (van den Brom a custo zero no final da época) a equipa passaria a jogar duzentas ou trezentas vezes mais.


Deixem aí na caixa de comentários outras sugestões, mas sérias que a malta aqui leva tudo muito a sério. Menos os prazos. E os orçamentos. Ou os horários de trabalho.
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quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

 

Prémios Estaleiro - As bolas que interessam.

Caríssimos,

É chegada a altura do ano em que se fazem balanços. Aqui pelo estaleiro, aproveitando a baixa de trabalho, decidimos parar para reflectir em quem mais se destacou na nobre arte do picaretismo. Não será de estranhar que se fale de jogadores dos ditos grandes, que por vezes apenas parecem um grande monte de cimento. Afinal os trolhas seguem é esses clubes e não temos uma Liga em que um Portimonense-Machos do Sado apele a alguém mais do que os portistas camuflados de um e outro. Traduzindo, estes são, após votação bem regada a mines e recheada a sandes de courato, aqueles que colheram mais votos no Estaleiro. Se podíamos estar a assentar tijolo ou a encher uma cofragem? Podíamos, mas quem é que consegue trabalhar com sol e calor em Dezembro?

Numa liga tão nivelada por cima, e onde a qualidade do treinador português valoriza exponencialmente a qualidade do jogador sul-americano, e alguns portugueses, esperava-se uma difícil tarefa. Nada de mais errado! Parece que afinal os resultados das equipas Portuguesas são alicerçados na qualidade do aço e do cimento, que permitem uma beleza arquitectónica só comparável à beleza dos prismas forrados a marquises que cresceram em Portugal no pós-25 de Abril.

Como esta é a primeira edição dos Prémios Picareta importa explicar que apresentaremos os vencedores do prémio Picas d'Aço, o nosso 11 do ano, aqueles que pela qualidade do seu jogo se foram da lei da morte libertando. Uma espécie de herdeiros de Pringle, Quinzinho ou Missé-Missé, nomes incontornáveis e imortaiss na história do fute-luso.

Só que nem só de jogadores se faz uma equipa. É importante nesta altura não esquecer o cimento que junta todo o talento em campo. Herdeiros de um Autuori, um del Neri ou Vercauteren são tão imporantes como as vigas e os tijolos que entram em campo. Assim, em homenagem ao cimento que tudo junta, nasceu o prémio Betoneira 2018.

E agora, sem mais demoras...


Picas d'Aço 2018


Varela - Um Guarda-Redes de um teórico candidato ao título que obriga a equipa a jogar recuada, mal sai da pequena área e que começa a chorar, metafórica e, acho, literalmente, não pode ser guarda-redes de clube grande. O treinador do Benfica discordou. Depois de muita experimentação, seria o titular. Não comprometeu ao nível de um Roberto ou um Bossio, mas foi incapaz de demonstrar um mínimo de qualidade que justificassem ser o herdeiro de Quim, Oblak ou Ederson. O seu papel como terceiro guarda-redes este ano fazem dele um sério candidato a herdeiro de Paulo Lopes. Só que Bruno Varela ainda nem 30 anos tem...

André Almeida - Não é tão mau como o pintam. Demonstra sistematicamente estar mais talhado para a posição do que qualquer lateral-direito que Fernando Santos tenha levado ao Mundial da Rússia. É um jogador que demonstra uma alegria em campo apenas comparável à que eu exibiria se alguém achasse que eu era a melhor opção para lateral direito do Benfica. Quando vemos as performances da concorrência que lhe arranjam, no caso o também nomeado Douglas, percebemos porque é titular. Quando se vê a percentagem assustadora de golos que nascem pelo seu flanco, percebemos porque ganha este prémios.

Luisão / Lisandro López - Entre o estado de pré-reforma de um, e o empréstimo do outro, juntos fazem um aceitável central picareta. Sozinhos nem isso... O melhor reforço para o centro da defesa benfiquista foi a saída do Argentino. Primeiro por empréstimo, depois a título definitivo. Um dia poderá contar aos netos que jogou no Benfica, que houve quem achasse que poderia vir a ser um novo Garay e que até houve um treinador que fez dele titular em detrimento de Lindelöf. Já Luisão um dia dever-se-á esquecer de contar aos netos o fantástico ano de 2018 que teve em campo, com culpas em golos, a jogar por decreto e a ter uma retirada com o Estádio vazio.

Felipe (by Moussa Marega) - O Xerife da defesa do Porto, mais não seja porque saca da "pistola" mais vezes do que supostamente devia para um central de um grande, sendo esta "pistola" como os caros leitores bem sabem a cacetada que dá nas canelas dos pobres avançados que o defrontam. Fiel seguidor da filosofia futebolística de outro central do Porto, Jorge Costa, que consistia na seguinte expressão: "Passa a bola mas não passa o jogador".

Jeffferson (by Picareta Douala) - O eterno defensor do cruzabol. O eterno defensor da ingestão de grandes quantidades de picanha duas horas antes de entrar em jogo. "É para corrê muito, véio!", afirma Jefferson. Ninguém mete mão neste gandim brasileiro? Ninguém lhe ensina a encurtar espaços atrás das costas? Já lhe tentaram explicar que um lateral pode fazer passes para o interior do jogo que não implique levantar a bola? E que ele próprio pode explorar espaços interiores e que a linha só serve para snifar? Estas e outras questões quintessenciais associadas ao pior defesa esquerdo a jogar no Sporting depois de Evaldo.

Battaglia (by Picareta Douala) - Uma de duas picaretas de aço com metal argentino. O jogo de Batta - carinhosamente apelidado assim pelos adeptos mais fervorosos de MMA com bola - resume-se a dois de três termos anatómicos: tronco e membros. A cabeça, ou melhor, o cérebro, não conta para Battaglia. Os únicos cálculos que emprega durante o jogo serão, porventura, quanta força precisa para deitar um jogador adversário e quantos quilómetros tem de correr para completar aqueles achievements engraçados em apps de fitness.

Herrera (by Moussa Marega) - A cirurgia plástica que fez no mês de Agosto conseguiu mascarar a sua deficiência a nível estético, no entanto, não conseguiu mascarar a sua deficiência futebolística. Perdeu a aerodinâmica que o caraterizava com o corte dos seus "pára-choques", mas nem por isso perdeu a capacidade de fazer os adeptos "ventilar" após as suas perdas de bola sucessivas  nos jogos. Capitão de equipa, encarna de forma sublime as ideias do seu treinador, que são correr, correr e batalhar, batalhar. Enquanto isso, Óliver fica no banco a pensar se tem que ganhar barba para ser titular.

Acuña (by Picareta Douala) - A segunda picareta das terras argentinas. Esta com qualidade premium, pois por vezes utiliza o cérebro, nomeadamente quando precisa de discutir com o árbitro. GODACUNA aparece a médio centro, mas nem aí nem a extremo se evidencia, matando sem piedade 90% das jogadas que chegavam aos seus pés. No entanto, a lateral esquerdo tem evidenciado evolução, substituindo a picareta brasileira de forma satisfatória, isto é, pior não fica.

Sálvio - Falam que é muito intenso e tem muito golo. A verdade é que num dia bom precisa de meia hora para ter uma acção positiva no jogo e meio minuto para ter uma má. É um dos principais municiadores de contra-ataques perigosos do adversário, é sempre muito intenso em meter-se em cachos de adversários, não é de todo inocente naqueles golos que André Almeida, com quem se diz ter muito bom entendimento, era incapaz de evitar pelo flanco direito. Marca golos importantes e decisivos? Sim, porque antes disso ou depois vai desperdiçar quatro a cinco ocasiões e boicotar outras tantas jogadas perigosas. A sua lesão foi uma má notícia para os adversários, a sua recuperação o reforço que os rivais precisavam. Diz-se que terá renovado, o que faz sentido se o salário for pago pela unidade hospitalar que tem uma parceria com o clube e que precisa de garantir a publicidade que vem de se ter um jogador com a robustez deste na ala das visitas frequentes.

Hernâni (by Moussa Marega) - O nosso caro velocista com nome de velhinho da Beira Interior e cara de vendedor de cachorros quentes entra no nosso onze muito por causa das suas incríveis prestações no ano de 2018. Por incríveis, digo a sua capacidade para correr 100m em 12 segundos e também por colocar os portistas em desespero e os rivais mais aliviados com a sua entrada em campo. De certa forma é parecido com Salvio, na forma como privilegia meter-se no meio dos adversários e daí municiar os contra-ataques adversários, tal como refere o caro Robocop, ou como a única solução que apresenta para se desenvencilhar dos defesas contrários é basicamente correr mais do que eles. No Tugão até resulta. De vez em quando.

King Marega (pelo próprio) - O que hei de dizer acerca deste fenómeno? Absolutamente consensual entre os caros membros deste blog, a sua capacidade inata para a picaratice e ao mesmo tempo destruir os blocos defensivos adversários conferiu-lhe um lugar especial nos corações de todos, especialmente no meu, que atribuí a mim mesmo um pseudónimo com o nome do King (sacrilégio eu sei). As suas receções são lendárias, a sua visão de jogo incomparável e a sua elegância magistral. Dizem que estraga o jogo do Porto, eu discordo, não se pode estragar o que já nasce torto...


Prémio Betoneira 2018


Rui Vitória - poderia este prémio ser dividido? Podia, mas nem todos os treinadores tiveram um plantel como o de Rui Vitória e o boicotaram de forma épica. A nível internacional prolongou o seu record de derrotas consecutivas. E como se isto não batasse, uma boca mal medida sobre o rácio de vitórias. E este ano quebrou o enguiço do Ribéry não marcar em jogos da Champions. E ainda deu para ajudar a valorizar o Renato Sanches, pena que fosse depois de o termos vendido (melhor negócio de sempre). Se não falo da gestão desastrosa do dossier Guarda-Redes é porque em 2018 a única coisa de destaque é como faz de Varela o terceiro Guarda-Redes, depois de o ter feito titular o ano passado. Se não falo de mais Europa é porque por um lado só jogou para a Europa na metade final do ano, graças a um 2017 de nível Vilafranquense, e se foi à Champions é porque o Sporting Sportingou como nunca visto. A nível doméstico, conseguiu perder o campeonato para o Porto de Conceição. Mudou para o 433 para alegadamente proteger o Jonas, mas depois rebentou com ele e esqueceu de treinar os pontas-de-lança restantes para fazerem o que Jonas faz. Ou de preparar a equipa para jogar sem Jonas. Quis vender o Brasileiro mas o Presidente temeu uma Guerra Civil. Quando o cu apertou lá o meteu a titular e os resultados, por artes mágicas apareceram. Tem o condão de não saber aproveitar jogadores e ter ódio aos jogadores de qualidade. Não se sabe se um dia foi colhido por um touro dos balcãs, mas os minutos que Zivkovic e Krovinovic passaram no banco para verem coxos nos seus lugares é incalculável. E até alguns coxos, como Raul "Pino" Jiménez, estão a demonstrar que com uma mudança de ares a qualidade vem ao de cima. Está num novo processo de comunicação em que vai a canais de adeptos dissecar mudanças tácticas com argumentos que não encontram paralelo na realidade. E pelo meio vai dizendo frases mais dignas do Clube de Futebol Benfica do que do Sport Lisboa em Benfica. E com isso justifica ser o cimento que une o nosse onze de luxo.

Esperemos que 2019 nos traga mais "qualidade" como esta, só assim seremos felizes.

Feliz 2019 para todos,
Picareta Robocop
Picareta Douala
Marega
Picareta Oceano
Rui Vitalis
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