quarta-feira, 31 de outubro de 2018

 

O DESASTRE DA TANGENTE - a falhar o cerco ao tema desde 1982

Após libertarmos o gato do Artur Semedo, decidimos raptar o cão. Tivemos medo que ele viesse para cima das picareta em modo John Wick, mas ainda não foi desta. Queiram ler e desfrutar.

 

Encostei-me para trás na cadeira de escritório e fechei os olhos, sentindo-me ali, em cima da cadeira, como um livro que alguém do departamento sueco aí deixasse. Entreabri as pálpebras e mirei o tecto, onde uma mancha ténue parecia alastrar-se e retrair-se no mesmo compasso da minha respiração. Exalei mais profundamente e, dada a ausência de um corta-unhas, decidi enganar o tédio olhando o dia cinzento pela janela.
Uma grande avenida onde qualquer Fittipaldi de trazer por casa adoraria acelerar em fúria espraia-se a uma vintena de metros, esparsamente tocada. Há poucas semanas, instalaram um sistema de controlo de velocidade média nessa via, pelo que hordas de automobilistas preferem desviar por um outro itinerário, agora quase sempre entupido ao final do dia. Para não terem de controlar os instintos vertiginosos, preferem, portanto, a modorra do pára-arranca. Um pouco como preconizado no lema inscrito nas notas de dólar ou no emblema dos encarnados (porque dizer vermelho não é apropriado para gente temente), de muitos se faz uma só massa de faróis, indistinta e ilógica como só as boas massas sabem ser.
Por falar em massa indistinta, talvez algum leitor de orgulhosa juba me saiba explicar o que se pretende com «Esforço, Dedicação, Devoção e Glória». Assim de repente, aqueles três primeiros vocábulos parecem remeter aproximadamente para a mesma coisa, como uma versão mais culta do muito trabalho, muito trabalho, muito trabalho. Tentei obter mais informações lendo a pequena glosa do anterior presidente, para sempre imortalizada numa peanha junto ao estádio, mas, com o vaivém de emoções tão típico por aquelas bandas, temo que possa já não ser essa a interpretação canónica.
Ainda assim, continuará a ser melhor que o lema oficial do FCP que, acima de tudo, peca por inexistente, mal-grado várias tentativas mais ou menos sonantes, das quais a última será a premissa de que o clube se encontra a vencer desde 1893, ou seja, desde o segundo ano de presidência de Pinto da Costa.
Se me fosse dada opção de escolha, selecionaria como lema para o meu clube… não! Selecionaria como lema para todo o futebol uma frase que me confidenciou uma vez o meu tio ser um mote algures entre o oficioso e o jocoso dentro da Guarda Nacional República: «A cavalaria da GNR nunca recua. Dá meia volta e avança!»
Quão belo seria um mundo em que o adepto da bola entendesse que dar um passo atrás é, não raras vezes, a melhor forma de chegar lá em frente: «O bom apoio nunca recua. Devolve a quem está de frente e avança!» Quão bela seria a bancada que não assobiasse o terceiro passe que não indiciasse verticalidade: «A boa construção nunca recua. Desloca o adversário e avança!» Quão belo seria o comentador que não menosprezasse o avançado que não tenta sempre virar-se para a baliza adversária mal recebe a bola, seja em que condições for: «O melhor ataque nunca recua. Contemporiza e avança!» Quão bela seria a área demarcada se o treinador do meu clube não preferisse a vertigem dos três passes às voltinhas assassinas de um minorca. Quão belo seria eu nunca ter deixado de ser um adepto, um comentador, uma bancada, um mundo como esses que negam tudo isso e pretendem apenas um rasgo de esforço, de dedicação, de devoção, pela vã glória de ganhar!
Ah, todo eu anseio por esse momento, como por outros análogos em que não tinha consciência nenhuma e contemplava todo o vácuo da velocidade sem inteligência para o compreender.
E havia correr e saltar e a intensidade, ó Artur, vamos ao café, perguntou-me o Júlio, que não é o Esteves, que está de férias, mas que bem podia trabalhar numa tabacaria. E eu fui.
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segunda-feira, 29 de outubro de 2018

 

Sporting 18/19: Twitter simulado


Era minha intenção comentar o jogo via Twitter e depois fazer uma colagem dos comentários e fazer um texto no blog.

Mas depois fui ficando cada vez mais estupefacto com a nossa exibição e esqueci-me.

Assim sendo, vou fazer uma simulação do que teria escrito no Twitter se não fosse um malandro:


1) Pronto, Gudelj e Battaglia a atrapalharem-se como sempre;

2) A transição defensiva do Sporting é tão merda. A ofensiva também. A construção nem se fala;

3) Valha-nos o facto de existirem 4 verdadeiros jogadores de futebol no 11 do Sporting: Nani (O Rei), Mathieu, Montero e Bruno Fernandes;

4) Os 4 verdadeiros jogadores de futebol do Sporting estão muito longe do potencial possível porque colectivamente somos merda;

5) O Bruno Gaspar é a reencarnação do Cedric, cruzabol!;

6) Já disse que o Nani é o Rei desta merda toda?;

7) Colectivamente estamos abaixo do Loures... e do Sporting B Feminino;

8) Apetece-me dormir...

9) Se Futebol fosse oxigénio, entrava em défice passado 5 minutos do início do jogo;

10) Boavista é merda, obrigado Jorge Simão;

11) Jogamos tão pouco e estamos a 2 pontos do 1º... Pobre liga Portuguesa;

 12) Obrigado Porto e Benfica, a vossa incompetência obriga-nos a aguentar o Peseiro por mais algumas semanas;

Pronto, ganhámos 3-0 e já somos os maiores...

Acordem!!!!!


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sábado, 27 de outubro de 2018

 

Deixar os melhores jogadores fora e jogar com os cepos e os burros

Escrevo estas linhas ao intervalo do jogo do Benfica no Jamor contra o Belenenses SAD. É triste. É "sad". Não me consigo castigar mais e portanto não esperem comentário ao que aí vem, vou para junto da família que precisam mais de mim do que esta equipa.

O único comentário é que temos de continuar a beber muita água enquanto damos voltas às rotundas, porque o treino se calhar nem é o mais importante.

Sejam felizes!
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sexta-feira, 26 de outubro de 2018

 

O IMPÉRIO DO MALI OU OS 11 METROS EM FÚRIA

As picaretas decidiram roubar a luva do grande Artur Semedo e chantagear a pobre alma em troca de um texto.

Para texto feito sob coação, está espectacular:


Por motivos que decidi associar, por iniciativa própria e sem qualquer fundamento científico, a uma queda numa fase bem precoce da minha existência, vivo atormentado por vertigens. 
Abomino alturas, em geral, varandas envidraçadas e escadas em caracol, em particular; mas também montanhas-russas e os seus ziguezagues em ambos eixos x e y, ou qualquer outro engenho similar a que alguns chamam divertimento. E, porém, não temo viagens de avião, algo que contribui, em certa medida, para a minha actual situação de expatriado. 
Não que fosse demasiado penoso aqui chegar sem apanhar um avião, ainda para mais numa Europa agora [por enquanto?] «sem fronteiras», mas a verdade é que, amiúde, o percurso aéreo e quase recto de um avião é mesmo a melhor forma de se chegar a algum lado. Falando em linhas, talvez não tenham conhecimento, tal como eu não tinha até há pouco tempo, da chamada Teoria da Curva em U. Não, esta teoria não tenta explicar como a circulação contínua por fora do bloco e de um lado para o outro permite transformar a construção ofensiva numa sequência inócua de transferências do esférico até perder o jogo num contra-ataque adversário, tal como a economia não se propõe a explicar de que modo o dinheiro circula de mão em mão até desaparecer do mapa. O que se pretende com esta teoria é descrever o efeito de montanha-russa vivido por um expatriado no seu processo de adaptação cultural. 

Teoricamente, o expatriado (chamemos-lhe «eu») passaria por uma fase inicial de deslumbramento, rapidamente seguida de um choque, causado pelo mergulho mais profundo na nova cultura de acolhimento, e subsequentes fases de recuperação e ajustamento. Posteriormente, a teoria sofreu um impulso decisivo, sendo-lhe adicionado um segundo ciclo, agora já não imediato ao expatriamento, mas ao repatriamento. 
Quis o destino, ou a evolução dos alfabetos, que, pelo rincão luso, as curvas suaves de um duplo –u se transformassem em arestas vivas de um duplo –v, pelo que temos então um percurso psicológico em W, em vez de UU. Deste acrescento se segue que, quando estes ulisses mui pouco heróicos, ainda que quiçá algo engenhosos, regressam, de vez, às suas ítacas natais, se vêem cingidos por uma cultura e uma sociedade que já não são as suas: nem aquelas a que se acostumaram enquanto expatriados, nem aquelas de que partiram inicialmente. Tornam-se, assim, estranhos em terras que deveriam ser conhecidas. Não admira, portanto, que cerca de dois meses passados desde o último jogo do FCP visionado, algo me parecesse afligir no âmago. Recostei-me no sofá, mas o problema não era estar sentado. Troquei de lado, mas também não era do ângulo de visão. Dez ou quinze minutos passaram até que, finalmente, me apercebesse da razão do meu desconforto mental: POR QUE RAIO ESTÁ O ÓLIVER A AQUECER DENTRO DO CAMPO COM O JOGO A DECORRER?

Mas não era sobre isto que queria aqui falar.

Toda a gente sabe as perguntas que se fazem quando alguém avança para a marca de pontapé de grande penalidade, essa sanção tão bela que pune equanimemente uma infração cometida sobre quem está isolado de frente para a baliza e só com o guarda-redes pela frente e um agarrão sobre um tosco que tente dominar uma bola com a canela junto à linha de fundo de costas para a baliza:

«Vai rematar em força ou em jeito?»; «… rasteiro, a meia altura ou junto à trave?» «… para a esquerda ou para a direita?». Toda a gente sabe, igualmente, que, se o marcador do dito livre directo vestir de azul e branco, a verdadeira pergunta é: «Será que este vai conseguir marcar?» Ontem, porém, talvez tenha surgido o antídoto para a maldição dos penalties, encapsulado num invólucro que entende naturalmente cada toque na bola como o espoletar de um processo mais aleatório do que a atribuição de processos a juízes — Marega. 
Tudo na marcação de uma grande penalidade parece enquadrar-se o melhor possível com as competências para o jogo demonstradas pelo maliano, alçado a novo herói da arquibancada e que me faz lembrar da magnum opus inacabada de Musil: não precisa de se virar para a baliza, porque já começa nesse sentido; não tem de ultrapassar defesas com fintas, porque não os há; não necessita de pensar em dominar a bola, porque a mesma está parada; nem tem de se preocupar com o segundo toque, porque só lhe é permitido um…

Aqueles cerca de seiscentos e sessenta e cinco metros quadrados de solidão, onde apenas pontificam o árbitro e dois adversários, a bola e o guarda-redes, são, para Marega, a possibilidade de ligar o pé às redes numa linha recta mais perfeita que os corriqueiros arremessos originados metros antes da linha de meio-campo, estilo de jogo que, em vez de apostar nas entrelinhas, valoriza as sobrelinhas aéreas. Quando ele respira fundo e começa a correr para a marca dos onze metros, subsiste apenas uma pergunta, que anula todas as outras e resume aquilo que todos parecem adorar no futebol:

«Será que ele vai acertar na bola?»
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quarta-feira, 24 de outubro de 2018

 

Benfica em Amsterdão: Normaal. Doen.

A campanha do VVD que reconduziria Mark Rutte como minister-president foi conduzida sobre o lema "Normaal. Doen.". A tradução literal será qualquer coisa como "Normal. Faz-se." Confesso que andei às voltas para encontrar uma frase que traduzisse na sua essência o que foi a viagem do Benfica a Amsterdão para defrontar o Ajax. Tinha-me decidido com um Audaces Fortuna Iuvat, mas senti que o lema dos Comandos poderia induzir em erro e os meus leitores pensarem que eu estaria a comentar a prestação do Ajax e não a do Benfica. E aí lembrei-me como o Benfica nos últimos dez jogos na Champions conta com nove derrotas e a única vitória ser aquele chouriço de Atenas. Normal perder. Faz-se. Ver o jogo também deu uma sensação de um dejá vu de partidas recentes. Alguém se lembra daquele jogo na Luz em que o Benfica ainda tenta ganhar na primeira parte e na segunda baixa as linhas e tenta estoicamente defender o empate, sofrendo um golo num remate de fora da área, no caso pelo Herrera? Normal não querer ganhar e perder. Faz-se. O Benfica em Amsterdão integrou a cultura de normalidade Holandesa e brindou os seus adeptos com a normalidade reinante no consulado vitoriano. Não quis ganhar o jogo, deixou peso morto no relvado quando decidiu tarde mudar algo e sofre um golo quando o adversário faz uma pressãozinha final. E perde. Tudo normal no novo paradigma portanto!

A melhor forma de comentar a partida será mesmo começar pelo fim. O resultado é de uma injustiça atroz para três dos jogadores com melhor prestação da noite. Começa numa infeliz não-intercepção de Conti, a afirmar-se como provavelmente o melhor da central da equipa, envolve um toque infeliz de Grimaldo, um dos melhores em campo e acaba em golo, apesar de todos os esforços que Vlachodimos teve para o evitar. Só faltou um infortúnio de Rafa, substituído minutos antes, para todos os jogadores que mostraram nível de Champions terem um azar qualquer naquele golo.

E se o resultado traduz o que se passou no relvado ao longo da totalidade do jogo, ao intervalo teria sido injusto. Isto porque o Benfica nem começou mal o jogo. Parecia haver uma clara intenção de jogar pelo chão, evitando assim a necessidade de Seferovic, mais uma vez triste só e abandonado na frente, ter de lutar por bolas aéreas sem critério com a dupla de centrais Blind-de Ligt. Foi inteligente não o fazer porque entre um maduro como Blind e um dos melhores centrais jovens da Europa, a coisa ficaria complicada para o nosso Canivete. Assim sendo o Benfica acabava por dar muito espaço para o Ajax progredir, pressionava normalmente só à passagem do meio-campo e tentava na medida do possível meter a bola no seu corredor esquerdo. E se a bola chegasse ao corredor esquerdo do Benfica, era a miséria. Miséria da defesa holandesa que teve imensas dificuldades em travar o Rafaldo, aquela dupla formada por Rafa e Grimaldo. Só por via do talento daqueles dois, com o apoio aqui e ali de Pizzi e algumas combinações com o solitário canivete de ponta romba Seferovic, é que o Benfica se acercava da área de Onana. O Ajax por seu lado respondeu bem. Progredia pelo centro até ao meio-campo e depois variava para o flanco direito do Benfica. Um sinónimo de "flanco direito do Benfica" poderia ser "a zona onde o Benfica se esqueceu de colocar jogadores", tais as facilidades que os holandeses tinham em passar por Gedson, que era a única coisa parecida com pressão, ou por Conti, a personificação da contenção ou para falar de factos, da compensação.

Um bom resumo da primeira parte seria pois que muita miséria os lados esquerdos do ataque trouxeram aos lados direito das defesas. Muita bola pelo chão, mas o Benfica com medo de arriscar passes de ruptura, algo que o Ajax fazia e bem, em particular Frenkie de Jong, instrumental a tirar de jogo todo o meio campo Benfiquista, quer pelo que não deixava construir quer pelo que construia depois. Gedson andou sempre por perto dele mas nunca conseguiu impedir nada de significativo e foi muitas vezes ultrapassado, quer em posse, quer através de tabelas. (Seria interessante de ver como evoluiria Gedson e em que tipo de jogador se tornaria, com um treinador que valorizasse o treino e uma forma de jogar inteligente, mas) face à proximidade que teve com Frenkie de Jong, foi evidente a papinha que Gedson tem de comer para poder dizer que é um jogador de top. E teremos de nos questionar se o refeitório que frequenta tem o melhor chef para lha dar... Na defesa Conti era o abono de família. Tem dificuldades ainda em manter a linha defensiva, mas compreende-se a falta de entrosamento porque chegou ao plantel há cerca de um mês (ai não?!) e não ajuíza ainda muito bem alguns tempos de entrada, mas foi o único que estava no sítio certo à hora certa, transporta a bola como há muitos anos um central do Benfica não o faz e ainda teve o brinde de tirar uma bola já quase para lá da linha de golo e assim evitar o golo do Ajax, naquela que terá sido a única falha de Vlachodimos. Por falar nele, ontem vestiu a camisola de Odissalva Vlachodeus. Duas defesas no 1x1, muita atenção a cruzamentos venenosos e o bom jogo de pés fazem dele já uma certeza e um melhor exemplo para Svilar do que Varela. Ah! Sálvio teve a sua boa acção na partida aos 37 minutos.

Da segunda parte não há muito a dizer. O Benfica entra retraído, deixa de tentar sair a jogar, o Rafaldo ao fim do primeiro quarto de hora já não tinha a velocidade de Rafa e a capacidade de transportar bola dependia em grande parte de onde no terreno se recuperava a bola. Mais atrás não passava do meio campo, mais perto do meio até se conseguiria rondar a área adversária. Vlachodimos voltou a vestir a camisola de herói ao defender a segunda situação de 1x1 que o Ajax criou na partida e, ao cair do pano, Conti falha uma intercepção sem pressão e a velocidade do lateral do Ajax constrói a jogada que acaba num remate do lateral contrário que desvia em Grimaldo e trai Vlachodimos.

Do jogo ficam muitas questões. Para começar a gestão dos alas. Sálvio só não foi mais inútil do que é costume porque não fez nada. Normalmente só faz asneira, pelo que não fazer nada é uma melhoria. Rafa rebentou perto dos 60 minutos. No entanto demorou e demorou e demorou a sua substituição... Por Cervi! Jogar com Cérvio é pedir que o laterais adversários castiguem a nossa área. E foi isso que aconteceu com o lateral-esquerdo do Ajax a criar a jogada que o lateral direito finalizaria. Seferovic foi um espectador esforçado na segunda parte. Não havia um Jonas no banco que pudesse entrar nem que fosse ali os últimos 10 minutos? Tirava-se o Sálvio se fosse preciso, também não estava lá a fazer nada! Não sei o que Félix precisa de demonstrar mais para poder jogar nestas partidas. A menos que a estratégia fosse não jogar para não ter de ser vendido. Gedson a fazer sombra a Frenkie de Jong mostrou a papinha que lhe falta comer para ser um jogador de top. Conti, passe o erro final, mostrou que é o mais próximo de um bom central moderno que o Benfica tem. Rafa não pode mais ceder o lugar a Cervi. Cervi nem a Félix ganha o lugar. Gabriel soma o segundo jogo com más indicações. André Almeida é esforçado, mas na Europa do futebol é insuficiente. O Corchia não está inscrito? E quando olhamos para aquilo que o treinador do Ajax faz com os jogadores que tem e aquilo que o do Benfica deixa no banco, sem sequer considerar usar, é que percebemos que o problema do Benfica é que tem um novo paradigma em que o treino nem sequer é o mais importante! E isso tem consequências.

+


+ Rafaldo. Com apenas quatro notas positivas dignas de registo e não querendo nem escolher um para deixar de fora, nem alterar a estrutura da rúbrica decidi fundir Rafa e Grimaldo. São neste momento o duo dinâmico do ataque do Benfica, os destruidores de defesas. Têm ajuda de um Pizzi cujo trabalho passa por vezes despercebido? Têm, mas a dinâmica é entre estes dois. Seja na defesa, seja no ataque, ver o Manto Sagrado a jogar à bola com critério é algo que aparentemente só este duo nos pode dar. Porque Félix, Ziv ou Jonas foram para fazer número no banco, porque o Benfica claramente não precisa dessa coisa de critério com bola. 

+ Conti. Um azar todos temos. O de Conti foi que o azar dele foi a última coisa do jogo e a malta esquece depressa aquela bola que ia perigosamente para lá da linha de golo e que ele impediu de a transpôr totalmente. Bom a sair com a bola controlada, com uns quantos passes a comerem a primeira linha do Ajax, algumas boas jogadas de antecipação e outras tantas de compensação a André Almeida. Precisa de mais entrosamento com os restantes parceiros, mas começa a confirmar a boas indicações que deu na pré-temporada. A julgar pelo jogo de ontem, o melhor central do Benfica, com algum avanço para a concorrência.

+ Vlachodimos. Negou dois golos cantados, se a bola não ressalta em Grimaldo teria segurado o empate e ainda boa atenção a alguns cruzamentos e bom jogo de pés. Transmite segurança aos colegas e às bancadas.


– Sálvio. Peso morto é o que melhor se pode dizer dele. Uma boa acção em todo o jogo, ao minuto 37, devia fazer o treinador repensar porque é que o clube não tem um Zivkovic ou um Félix ou um Pizzi que pudessem jogar naquela posição. Deixa no comum dos adeptos com a curiosidade de onde se compra o Red Pass para assistir aos jogos junto dos jogadores. Apesar de tudo há melhorias é que se em Amsterdão não fez nada, normalmente só faz porcaria. 

– André Almeida. Outro homem invisível. É esforçado e raçudo, mas a verdade é que na Europa, em especial quando o parceiro mais à frente é o raçudo Sálvio, o lado direito é o couto de Aquiles. O que é o couto de Aquiles? É uma espécie de calcanhar de Aquiles se o pé do famoso calcanhar tivesse sido amputado. Com Sálvio e André Almeida o Benfica está sempre mais próximo de atacar mal e defender pior. Há debilidades do processo, mas a forma como é comido por extremos e laterais contrários jogada após jogada após jogada tem uma dose de culpa individual.

– Rui Vitória. Até começaram bem as coisas. O Benfica arriscava dar espaço para depois atacar com a velocidade de Rafa. E a espaços resultava. Mas a verdade é que Seferovic sozinho na frente não dá. Nem ele nem ninguém, porque a linha de apoio mais próxima está demasiado atrás. Eu lembro que nem Jovic nem Cristante conseguiram singrar e agora vemos outro jogador, Zivkovic, que vai de titular para o banco em menos de um fósforo, em detrimento da nulidade que Sálvio foi. Sálvio teve uma boa acção no jogo todo e demorou 37 minutos para a ter. Espero que haja tolerância semelhante para com o Sérvio. Ou se não for o Sérvio, Félix também nem saiu do banco. Deve ser certamente porque com tantos tubarões a verem as pérolas do Ajax, ainda Félix resolvia o jogo a favor do Benfica e era vendido com umas cláusulas em Janeiro. Ver Gedson a desaprender coisas e olhar para Frenkie de Jong quase que faz quem gosta do miúdo desejar que ele se transfira para um Ajax da vida. Nem que seja para evoluir em vez de estagnar. E quando a equipa deixou de construir jogadas ali aos 60 minutos, que fez o Génio das Rotundas? Deixa andar até estoirar. No fundo disse que não ia jogar para o pontinho e tinha razão. Todas as suas acções da segunda parte indiciam que foi a Amsterdão jogar para os três pontos. Para o adversário. Para ser ainda mais difícil o Benfica passar à fase seguinte. Porque já se sabe que se fosse fácil não era para ele.
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sexta-feira, 19 de outubro de 2018

 

Tudo está bem quando acaba bem

Todos os jogos deviam ser assim. Pouca ou nenhuma história, uma boa defesa do nosso guarda-redes quando o resultado está mais que feito, um ou dois cepos em campo para o adversário pensar que pode entrar por ali, mas sem nunca alinhar o Alfa e Omegaris do desposicionamento e das entradas fora de tempo, e para acabar encher o ataque de tanta qualidade que os adeptos até se esquecem que em Amsterdão os prováveis titulares argentinos não são dignos sequer de limpar as chuteiras de João Félix.

Tudo está bem quando o adversário está tão abaixo que podemos mudar meia equipa, mostrar que ainda não sabemos bem o que se pretende de Alfa Semedo neste Benfica, gerir tão bem o lote de centrais indisponíveis que atiramos com Conti e Ferro para a bancada, como se pelo menos o argentino não precisasse de todos os minutos que possa ter para se integrar com Rúben Dias. E digo isto dando de barato que Jardel está recuperado e será titular em Amsterdão. Porque se os titulares de Amsterdão forem Conti e Jardel, claramente não era necessário terem jogado antes. Ou então o impensável Conti e Alfa. Se Alfa se apresentar em Amsterdão na excelente forma que demonstrou frente ao Sertanense o mais certo é o Huntelaar dar a vaga a um jogador dos júniores ou dos iniciados para não correr o risco de se cansar a marcar golos.

Ao nível do meio campo, Gabriel foi ontem uma desilusão, apenas amenizada por partilhar o terreno com Samaris. Cada vez que dava por mim a pensar "este gajo hoje está uma real bosta" lá vinha o grego fazer qualquer coisa que me fazia dizer para comigo "mas este ainda está pior". A única coisa que amenizou isto foi quando Samaris passou para central e Alfa subiu no terreno. Aí Alfa tornou-se o Omega da qualidade no centro do terreno e quer Samaris quer Gabriel pareceram razoáveis.

Um treinador que tem Rafa e Ziv não tem desculpa para andar a não massacrar qualquer equipa de nível de Liga Europa ou abaixo. Ontem ficou à vista quando se abdicou daquela merda de ter estes gajos a cruzarem para o meio de um cacho de adversários. Quando a táctica foi a de cruzar e muito o Sertanense quase que sonhou com fazer uma gracinha. Bem o treinador do Benfica a nunca alinhar Alfa e Samaris. Porque vou buscar estes dois novamente? Porque queria dizer que Jonas construiu mais no meio no jogo todo do que Alfa/Samaris e Gabriel juntos. É aquela coisa dos que fazem os outros jogar melhor. E apesar de Ferreyra ter ficado em branco (deixemo-nos de merdas, aquele fora de jogo aceita-se), o que se viu do período que o Argentino e o Brasileiro passaram em campo é que têm de jogar e muito mais para afinarem aquela parceria. Sendo certo que Jota não teve muito tempo, entrando com a típica calma dos jovens lançados por Rui Vitória que têm de demonstrar em cada toque porque merecem estar ali, já João Félix demonstrou mais uma vez porque é que só não joga para poder ficar no Benfica até aos 23/25 anos. É que se calha jogar mais, e o que fez ontem já o havia feito contra clubes maiores e até contra o Sporting, alguém em Manchester, Londres ou Barcelona pode pensar que 60 milhões até é barato.

A crítica principal vai no entanto para o relvado lastimável na Sertã. Ah não foi na Sertã, foi em Coimbra? Compreende-se então, não queríamos um jogo destes num batatal autêntico onde a bola mal rolava pois não? Se calhar já era tempo de acabarmos com esta palhaçada de os "grandes" terem de jogar fora para depois obrigarmos os pequenos a alugarem um estádio longe da sua casa. Com tanto lucro da publicidade que a FPF ganha, ajudar os pequenos a terem relvados dignos de receberem a festa da Taça (para não dizer ajudar a que se jogue futebol) custará assim tanto?

+


+ Jonas. Bons olhos o vejam caro Pistolas. Que saudades de um avançado que para lá de jogar bem faz a equipa jogar bem. Não que Seferovic seja o cepo que alguns fazem dele, mas não faz a equipa jogar bem. Jonas cheio de cruzes e artrite metafórica joga e faz jogar. Bom jogo para ganhar ritmo, ninguém acredita que Rui Vitória o lance a titular em Amsterdão, mas está aí para ajudar no campeonato. Desde que a estratégia não passe por jogar cruzabol, mas para isso não há avançado que nos salve. Demonstrou na segunda parte que passando mais minutos com Ferreyra em campo, terá tudo para causar calafrios ao comum dos defesas da Liga. Caro Rui Vitória, vamos facilitar por uma vez e meter isso em campo.

+ Rafa. Com minutos vem a confiança e até o golo. À velocidade e boa capacidade de decisão começa até a mira a ficar mais apertada. Aquela bola a rasar a trave com o nulo ainda no marcador poderia minar a confiança. Mas não, lá apareceu letal a finalizar uma recarga apertado por um cacho (ia dizer uns vinte, mas se calhar é exagero) de jogadores do Sertanense e a abrir o jogo. No fundo a repôr alguma justiça. Atendendo à forma e ao número de vezes que foi obrigado a descer até à linha de cabeceira do Benfica, cai por terra aquele mito de "não defende" e que Cervi é melhor. Não é. Havendo Rafa, Cervi não serve.

+ Félix. Se contra graúdos e até mesmo contra o Naval de Alvalade já tinha mostrado que está uns furos acima da média, da mediana e da moda, ontem foi vê-lo a brincar. Passeou passes de qualidade, apoio à defesa, lances de ruptura com a bola nos pés em barda e arrisco dizer que no fim nem sequer suou. Tinha um brilho nos olhos por combinar em campo com Gedson, Jonas e Ziv. Em combinações infindáveis com este trio mostrou que o Benfica só não vira aos 5 e acaba aos 10 a maior parte dos jogos, por um elevado sentido de humildade, aquela coisa de querer dar uma hipótese aos adversários.


– Alfa. Um verdadeiro Alfa Metemedo. O princípio do dar hipóteses aos adversários. No primeiro lance que é chamado a intervir falha uma intercepção de uma bola que pinga na sua área de central adaptado, sem pressão de adversários e obriga Svilar a mostrar porque é que Varela está remetido ao papel de novo Paulo Lopes. (Sobre os méritos dessa gestão, Rui Vitória que explique como Varela passa de titular a terceiro redes do plantel.) A dada altura um comentador da RTP, um verdadeiro Alfa Varela do comentário, disse que Alfa tinha "sempre aquele ar pragmático". Eu achei bonito o eufemismo para "este gajo está sempre tão fora da jogada que quando chega ao lance já não dá para fazer mais nada senão mandar uma bordoada no adversário e talvez até na bola". Ah, e se recuou para dar mais qualidade na saída, eu só queria dizer que falhou. Como ao André Almeida ainda lhe falta o cromo de central é arriscar. Ou então rezar para que este ensaio a central tenha sido uma forma de despistar o Ajax. Rezar e muito!

– Samaris. Eu gosto da personalidade aguerrida de Samaris, gosto de como se adaptou ao país, gosto de como força os outros adaptarem-se. Gostava que houvesse um cargo de capitão e que Samaris tivesse a braçadeira por decreto até se reformar. Só que em campo, quando é necessário, Samaris demonstra fragilidades terríveis. Nós sabemos que o treino para este treinador não é o mais importante, mas alguns jogadores precisam mesmo de treinos de qualidade e Samaris é um deles. Samaris está sempre no sítio certo, mas sempre, sempre à hora errada. Ou cedo demais, e tira-se da jogada, ou tarde demais e tem de recorrer a sarrafo para limpar. Ontem safou-se pelos minutos a central, mas não se pode dizer que o adversário o tenha realmente testado. No meio falhou e conseguiu que Gabriel não parecesse ter jogado a merda que realmente jogou. E um treinador que faça dele o 6 que o Benfica precisa, ou um central que transporte bola, não se arranja?

– Yuri. Ia falar de Gabriel, mas se o Gabriel não estiver bem, Ziv ou Gedson podem jogar com Pizzi. Pior é a situação na Lateral Esquerda. Como outros laterais esquerdos que há por aí, querem fazer dele o que não é. Terá esquecido os princípios do bem jogar assim que deixou de ser obrigado pelo treinador a tal e abraçou aquela coisa do "desde que se consigam resultados tudo pode ser encarado como bem jogar". Frente a um adversário como o de ontem demonstrou fragilidades e desposicionamentos defensivos comprometedores, sem nunca deslumbrar no ataque. Contra um adversário de outro nível teria sido diferente. Rafa e Félix e Gedson tiveram incontáveis vezes de vir em seu axílio... Bom, em seu auxílio não, em sua substituição. Pode ser falta de ritmo? Se calhar pode, mas sabendo nós da importância que é dada ao treino, haverão motivos para estarmos tranquilos que ele chega lá sem esse estímulo?
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quinta-feira, 18 de outubro de 2018

 

Heróis Injustiçados (2)


Voltamos hoje à nossa rubrica de heróis esquecidos e arrumados na gaveta (podia fazer piadas com o "socialismo" Soarista, mas o homem já se foi).

É sempre bom ter um rubrica destas, permite ocupar o espaço deixado pelo buraco negro que é a falta de qualidade futebolística em Portugal.

Nesse sentido, hoje trago-vos o grande
                                                o enorme
                                                o gigante
                                                o Insubstituível!!!!!

BETO ACOOOOSTA!!!!!


Vamos ser honestos, Acosta era uma picareta, sobreviveu num tempo em que o futebol transitava de um jogo que era, basicamente, uma súmula de individualidades, para outro onde as movimentações colectivas assumiriam o foco principal.

Era um avançado com a manha sul-americana, com um sentido de ataque às zonas de finalização temível mas... pouco mais.

Vamos analisar o seu golo mais famoso:



                        

O bom do Acosta recebe um mega passe do Secretário e atira-se para a área. Como sabia que não tinha velocidade nem técnica para ultrapassar um Jorge Costa em modo "eu mato-os a todos", decidiu atirar já dali e bater Baía.

Ou seja, este golo, para além da óbvia oferta do cepo do Secretário, configura a grande qualidade de Beto Acosta, o saber exactamente a qualidade que (não) tinha.

Mas se o Beto Acosta foi um dos grandes artífices para o título conquistado pelo Sporting, porquê herói esquecido?


Meus caros, Beto Acosta pode ter marcado aqueles golos todos e tal, mas aquilo que deverá perdurar na memória de todos é o facto de ele ter colocado um parênteses na carreira de um dos arruaceiros mais porcos, vis e nojentos da história do futebol português.

Paulinho Santos era um rapaz a quem nunca foi explicado que o futebol joga-se com um esférico, utilizando para isso as extremidades inferiores na maior parte do tempo.

Paulinho Santos foi, por isso, um elemento fulcral no estilo de jogo do Porto durante largos anos, na medida em que tudo o que era talentoso e que lhe passasse perto do raio de acção, seria inapelavelmente pontapeado, esmurrado, cuspido e outras coisas que lhe fossem permitidas.

Os duelos com João Vieira Pinto ficaram para a história e parecia que nada iria parar o bom do Paulinho Santos.

Até que, num Sporting - Porto, Paulinho Santos cuidava da sua vidinha, com socos em tudo o que mexia e o habitual jogo de intimidação que garantia vitórias.

Beto Acosta, um cidadão exemplar, decidiu interceder pelos milhões adeptos indignados e tratar do assunto.

Para verem do que falo, é ver este vídeo:




É por este momento que Beto Acosta tem o seu lugar no Olimpo. Ter ganho o campeonato é, convenhamos, secundário.

De notar que este escriba e este blog não é favorável ao recurso à violência para a resolução de conflitos futebolísticos, com as devidas excepções, como os seguintes possíveis exemplos:

- Extradição imediata de Battaglia - Argentina;
                                        Ristovski - Macedónia;
                                        Peseiro - Santarém;

Devemos por isso guardar todos um minuto do nosso tempo para agradecer ao grande Beto Acosta, retirando-o do estaleiro futebolístico e colocando-o nos píncaros por actos de heroísmo altruísta.

Quanto a Paulinho Santos, que seja um exemplo de uma era picareta que não tem lugar no futebol dos nossos dias (aqui estou a gozar, têm visto os grandes a "jogar"?).
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sexta-feira, 12 de outubro de 2018

 

Em Defesa de Cristiano Ronaldo

Com o jogo da Selecção na Polónia tornou-se evidente que urge ter uma posição no que à defesa de algumas situações da vida de Cristiano Ronaldo diz respeito. É preciso compreender que dentro dos relvados é um dos grandes da história do futebol mundial. Isso nunca deve ser esquecido. Mas neste momento recomendamos-lhe para a Selecção a mesma postura que deve ter em relação a férias nos EUA: manter-se longe.

A sua presença ao longo dos anos na Selecção levaram a que se criasse uma dependência extrema que condicionava a forma de jogar da equipa. No entanto não será demais dizer que a sua lesão naquela gostosa final terá sido o primeiro passo para a ganharmos.

Digamos que até agora vivíamos um período de qualidades colectivas ao serviço do individual. Só que o corpo humano é como a lei e há limites e vontades que não se devem forçar, para não sofrermos consequência negativas. Válido para o gordo que vai à baliza às Quartas no torneio da empresa e também para um super-atleta. E um colectivo tem de se preparar para a vida para lá de um indivíduo que sozinho desequilibra as coisas a seu favor da mesma forma que um ariete força uma porta entreaberta e apertada. E é preciso que se criem situações para que o individual passe a funcionar em prol do colectivo.

Não vou aqui dissertar sobre o que Ronaldo, ou alguém em seu nome, possa ter forçado os vários seleccionadores que o orientaram a escolher, quer ao nível de jogadores, quer de tácticas, mas o que se tem retirado deste exílio de Ronaldo da Selecção é precisamente que o individual trabalha agora mais em prol do colectivo. E Portugal, apesar de uns quantos picaretas, tem jogadores de imensa qualidade que o Seleccionador tem de colocar a funcionar como um colectivo.

Esperemos que o processo continue e que o tridente de Silvas continue a fazer estragos. Ou que William e Rúben Neves continuem a dominar o meio. E que no regresso de Ronaldo (quando ele ou outra forças quiserem) seja Ronaldo a dar à Selecção o seu valor individual e não a exigir que ela lhe dê o seu colectivo.

Até o processo estar suficientemente desenvolvido, defenderemos sempre a não convocatória de Ronaldo. Depois logo se vê!
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O que é essa coisa do talento?

Boa tarde, estimados leitores!

Estive uns dias internado com uma crise de urticária provocada pelo clássico Benfica - Porto e depois, com erupções, pruridos e outras maleitas, provocadas pela "exibição" do Sporting frente ao Nakaj... Portimonense.

Em conversa num fórum de interessados por esta coisa de jogar à bola, surgiu uma pergunta: Como é que vocês definiriam talento?

Houve diversas respostas, todas elas válidas, incluindo buscas a dicionários, mas, enquanto estava a lavar loiça mais porca que os estilo de jogo dos 3 grandes, tive uma pequena epifania:

Num desporto colectivo, todos os intervenientes dependem uns dos outros. É válido em equipas com menos elementos, mas no futebol, devido às suas regras e ao número de jogadores, essa dependência assume uma vertente ainda mais exacerbada.

Assim sendo, e querendo contribuir para a discussão no dito forúm, retorqui que "talento é a colocação de todas as capacidades (atléticas e cognitivas) de um determinado atleta ao serviço do colectivo em que está inserido".

Obviamente que esta dissonância gerou uma pequena conversa, na medida em que a separação do talento individual do colectivo onde está inserido é perfeitamente justificável, mas o verdadeiro talento é sempre, na minha opinião, aquele que faz melhorar o colectivo, independentemente de fazer sobressair ou não o indivíduo em questão.

Na altura dividi o jogador de futebol em 3 tipos de talentos e explico:

1) Zero Talento:

- O jogador que, independentemente de possuir uma ou outra capacidade (ser muito rápido, muito forte ou marcar bem bolas paradas), não consegue, ao longo de 90 minutos, tomar decisões suficientemente correctas que ajudem os seus colegas e, por conseguinte, a equipa, a ser melhor.

- Um exemplo muito claro do ZERO TALENTO é este estimado mamífero, já aqui abordado anteriormente:



Esta imagem não é inocente, porque, apesar de "ir a todas", "ter intensidade" e bater muito, seja na bola, seja na canela dos jogadores, o Dótôr Battaglia é uma nódoa, na medida em que a sua tomada de decisão está algures entre a de uma alforreca e um manatim. Piora, de sobremaneira, o colectivo do Sporting, notando-se a diferença na qualidade de jogo, por exemplo, de Gudelj quando joga com este senhor ou com o Dótôr Petrovic, que não é grande espingarda, mas pelo menos não atrapalha.

2) Falso Talento:

- Esta é a categoria mais polémica, na medida em que se destina a jogadores que, apesar de possuirem uma série de características que o poderiam tornar um grande talento, apenas buscam a visibilidade própria, sem terem qualquer tipo de interesse pela evolução positiva do colectivo em que se inserem.

- O exemplo mais consumado do falso talento é Ricardo Quaresma:




Ricardo Quaresma tem competências técnicas de um nível estratosférico, uma aptidão física de um predestinado e, ao longo da sua carreira, tem conseguido ser marcante em diversos jogos, tanto no seu clube como na Seleção Portuguesa.

"Oh Oceano, porquê um falso talento pah? Está burro?".

Estimado leitor mais picareta, Ricardo Quaresma executa 2 jogadas boas por jogo e perde 35 vezes a bola de forma irresponsável, expondo a sua equipa à sua falta de compromisso perante o colectivo.

Apesar de toda a sua qualidade técnica, o Dótôr Quaresma faz duas coisas durante o jogo, ou quer fazer o centro para o golo do "avançado que lá estiver" ou o "golo de bandeira que vai aparecer em 900 compilações de youtube".

Como estamos numa época em que pouco futebol se vê, onde os resumos imperam, Quaresma é percepcionado como um grande jogador, quando a sua forma de jogar "vou para cima deles, fintar tudo e espetar a bola para a área" é, na realidade, prejudicial em todos os colectivos onde se inserem.

Não é à toa que Quaresma falhou sempre que a exigência subiu, foi a grande estrela no Porto e é a estrela no Besiktas, mas, tanto no Bacelona como no Inter foi um rotundo fracasso.

Existem diversos exemplos de falsos talentos, como Salvio, como Taraabt ou até como Vidal.

3 - Grande Talento:

Esta será a categoria mais fácil, engloba o top dos Tops do mundo futebol e/ou campeonato onde se inserem.

Para mim, o exemplo acabado do grande Talento é o Dótôr Andres Iniesta:


Mais uma vez, não é inocente a escolha do vídeo acima.
Iniesta nunca ganhou prémios individuais de relevo, nunca foi visto como candidato para Bolas de Ouro, etc... Tudo, repito, TUDO no seu jogo era com o intuito de melhorar a situação em que se encontra.

Notem como o nível dos seus colegas no Vissel Kobe, bastante mais baixo que o que encontrou no Barcelona, sobe exponencialmente a cada bola que recebem de Iniesta, são bolas de golo atrás de bolas de golo, em óptimas condições de finalização, de construção e de criação.

Tudo em Iniesta é a minha definição de talento, a colocação da sua visão, da sua técnica, na capacidade mental associada à reacção à perda de bola (isso sim, a verdadeira intensidade), ao serviço do coletivo para que a equipa, enquanto conjunto, progrida em busca de mais golos marcados e menos sofridos.

Era em Iniesta que estava a pensar quando o meu comparsa perguntou "o que é o talento", porque Iniesta é fazer dos outros, à sua volta, muito melhores do que aquilo que são.

Talento, na realidade, rima com altruísmo.

Iniesta é Altruísmo.
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segunda-feira, 8 de outubro de 2018

 

Ligado às Máquinas

Noutro assomo infalível do destino, totalmente imprevisível e inescapável (NOT!), o Sporting volta a perder pontos. Desta vez foi com uma equipa que se encontrava em último lugar e tinha uma média de golos sofridos de 2 golos por jogo (que até acabou por se concretizar...). No entanto, esta equipa apresenta bons jogadores, especialmente do meio campo para a frente (menção especial para Nakajima e referência a Tabata).

Foi aqui dito que seria uma questão de tempo até este Sporting começar a perder pontos a partir do momento que jogasse contra equipas esclarecidas do ponto de vista ofensivo. Bastou um jogador muito acima da média para dinamitar a defesa leonina.

Isto apenas aconteceu porque o Sporting em termos defensivos é quase inexistente. E ofensivamente é medíocre, que vive de laivos de qualidade de Nani e Montero.

Pergunto aos caros leitores: é isto realmente uma surpresa que ninguém previa? É totalmente uma surpresa o Sporting ganhar por vantagem mínima quase todos os jogos desta época, apresentando futebol que, sem detrimento específico, se assemelha muito a futebol praticado em competições amadoras? É assim tão surpreendente o Sporting ter o 6º melhor ataque e a 8ª melhor defesa da liga, numa diferença de golos marcados e sofridos de 3 (11-8), quando dos 11 golos, 3 foram penáltis e outros quantos de bolas paradas variadas?

Meus amigos, o Sporting estar em 5º neste momento é uma dádiva! Os deuses do futebol estão a ser muito amigos desta equipa, e digo deuses, porque para Peseiro o futebol e os seus resultados dependem de mudanças de humor repentinas divinas e não há nada a fazer para mudar isso. O futebol apresentado é para andar a lutar para não descer de divisão. O que vai safando a traseira de Peseiro é ter alguns jogadores acima da média que vão resolvendo aqui e acolá - quando resolvem.

Quando se teve a possibilidade de ter jogadores jovens acima da média, que sabem tratar a bola e controlar um jogo, que criam jogadas de efetivo perigo e não milhentos remates de longe, e se empresta os mesmos para apostar em Jovanes e Battaglias, está tudo dito acerca do horizonte futebolístico de quem toma as decisões no Sporting.

Não esquecer os Ristovskis, os Acunas, os Salins, os Jeffersons e outros tantos que compõem o plantel do Sporting. Mas criticar os jogadores será sempre uma critica direcionada para o treinador, porque é este que os coloca (ou não..) a jogar. Um bom treinador é sempre capaz de arrancar alguma perfomance de um jogador fraco/mediano. Peseiro é totalmente incapaz de tal. É este treinador que decide que Nani deve começar no banco e Jovane a titular, um jovem que procura sempre o contacto físico para criar oportunidades de bola parada - acredito eu na minha inocência que será por ordem do treinador. É este que decide que Viviano - um GR italiano internacional, muito valorizado no seu país e com experiência comprovada - nem deve ser convocado para jogar um eterno GR de equipa pequena (que até tem cumprido relativamente bem...) ou outro que foi titular na equipa que ficou em último lugar da época passada no campeonato português.

Não é só no relvado que a tomada de decisão importa. É também fora dela e neste momento o Sporting está à deriva. A célebre frase "o Sporting nem ao Natal chega" retornou. Muito provavelmente, em 2019 ouvir-se-á que "é preciso um Sporting forte para o futebol português". Sinceramente, creio que os sportinguistas têm o que merecem.
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Vitória à Vitória - Do elogio da apatia ou a glorificação do Chouriço.

Para os apreciadores de futebol enquanto espectáculo, o fim de semana que passou deve ter sido o que se chama um prato cheio.

Ao nível da Bundesliga, começou com o Borussia de Dortmund a cimentar a sua liderança num jogo com sete golos  e em que ao intervalo estava a perder, e que acabaria com o outro Borussia ir a Munique enxovalhar o poderoso Bayern. Tudo montado para um cenário em que a Bundesliga acabava a jornada com quatro equipa empatadas no segundo posto.

Em Inglaterra, quem gosta de futebol estava em retiro espiritual para Domingo, havendo tempo no entanto o Wolves de Nuno Espírito Santo, que continua a revelar-se uma agradável surpresa, o Bournemouth continua contra todas as expectativas a criar incómodos e já na véspera o West Ham havia sido vítima da sua incapacidade de marcar um golo apesar de bem jogarem. Para aperitivo o fim-de-semana estava a correr bem.

Chegados a Domingo, e de água já na boca, foi um fartar vilanagem. Em Inglaterra o Arsenal atropelou o Fulham, o Chelsea deu um recital em Southampton e os dois extremos do bem jogar empataram-se num jogo calculista a espaços sem nunca ser aborrecido. Entretenimento puro, foi o que se viu na tarde de Domingo na Alemanha, com o Frankfurt a dar uma facada no Hoffenheim e o Leipzig a trazer o factor golo com uma goleada à moda antiga. Em Espanha o Sevilha isolou-se na liderança. Em França o PSG vulgarizou o Lyon. Na Holanda o Ajax mostrou o que acontece quando a duas formas de querer jogar à bola se encontram e de um lado estão jogadores de futebol e do outro cones de treino.

Em Portugal no entanto, os adeptos do futebol tiveram de se contentar com um bom jogo nos Barreiros e um aceitável em Braga. Ambos ocorridos no Sábado. Porque ontem na Luz o que se jogou não foi futebol! Futevólei talvez...

A primeira vez de Rui Vitória ao Porto acontece, ironia das ironias (ou nem por isso), naquele que terá sido o pior encontro entre o Benfica de Rui Vitória e a malta dos pijamas às riscas. Foi mal jogado. Foi aborrecido. Foi um jogo que só faria sentido num campo de vólei tal o número de vezes que andou pelo ar trocada entre equipas. Foi um Clássico com três remates à baliza e em que o Porto fez um aos 5 minutos de jogo e o Benfica faz o primeiro aos 58, para San Iker dar um ar de sua graça, e o segundo, este para golo e que decidiria a partida, aos 61. Eu diria que é preciso esforço para se conseguir jogar tão mal, mas isto parece ser o novo normal. Deve ser aquela coisa do novo paradigma.

Rui Vitória, cujo apelido parece aquelas alcunhas inglesas tipo João Pequeno para um gajo que tem dois metros e pesa 150 quilos, levou o primeiro escalpe do Porto para a sua colecção. E como ganhou não falou de árbitros. Mas disse que foi uma vitória à Benfica. Não caro Rui, não foi uma vitória à Benfica. Se o Benfica jogasse à Benfica, este Porto tinha levado uma tareia à moda antiga, uma espécie de agradecimento por aqueles 5 de uma Supertaça. Isso teria sido uma vitória à Benfica. Um jogo borrado destes, fruto novamente de um chouriço nascido puramente da vontade e do querer dos jogadores, é uma vitória à "Vitória". E por muito que eu goste de ganhar, acho que está na hora de ganhar e jogar.

+

+ A hora do jogo. Todos os jogos grandes se deviam jogar a estas horas. É um crime de lesa futebol que um Liga que é cada vez mais marginal empurre os seus jogos grandes para horas proibitivas porque o futebol quer-se com gente nos estádios. Não temos uma liga em que o último da tabela tem, num dia mau, o estádio meio cheio e lista de espera nos bilhetes de temporada. Temos uma liga, cada vez mais marginal, em que quem a gere não se preocupa em promover o espectáculo. O que se compreende, quando o nível entre os dois melhores é tão mau como o que ontem se viu. Mas o adepto merece mais e merece ter estes jogos a horas como as de ontem, ir para o Estádio com sol, comer a sua gordura de eleição no pão ainda com o bafo quente de fim da tarde a animar as conversas e voltar a casa a horas de poder ver os casos da partida na televisão com os putos acordados para poderem ouvir as asneiradas todas. Queremos mais jogos grandes a estas horas.

+ Gabriel. Um reforço útil para o meio campo do Benfica pela sua disponibilidade física e por um conhecimento do jogo acima da média do campeonato. Face ao que tem ao seu dispôr, dificilmente será o centro do terreno a zona onde Rui Vitória conseguirá dificultar a sua própria vida. Não que seja impossível, mas quando se pode meter Pizzi, Gabriel ou Gedson ao lado de um Alfa ou um Samaris, há sempre qualidade para equilibrar com a falta de noção. Uma coisa que facilita. Bom remate à baliza.

+ Sérgio Conceição. Foi muito útil ter um treinador do outro lado que acha que espectáculo é no Coliseu. Apesar de ser Rui Vitória o ribatejano, Sérgio é que tem uma visão ribatejana de como a equipa se deve comportar. É marrar de frente até partir. Apesar da expulsão de Lema, o seu ponta-de-lança (romba) fetiche foi presa fácil para o argentino. E para Alfa. E para Rúben. E para quem quer que disputasse com ele um duelo, até Grimaldo. Merece nota positiva deste Benfiquista por começar o jogo com Tiquinho e Marega a titulares, Corona e Óliver no banco e o espanhol nem ter saído de lá.

- Sálvio. Na óptica do facilitar a vida ao adversário, Sálvio foi titular. Faria sucesso no Porto de Conceição não é um elogio, é insulto, e seria isso mesmo que Sálvio faria. Lento a decidir, horrível no passe, foi o melhor defesa do Porto. Grande parte da porcaria que o jogo passou pela necessidade de meter a bola em Sálvio e de como Sálvio quis participar no jogo mesmo em zonas do terreno que não a sua. Que tenha feito os 90 minutos é um insulto a quem gosta de futebol.

- Iker Casillas. Aproveito o facto de agora ter este espaço para desejar que Casillas torça os pulsos e fracture os dois pés antes de cada jogo na Luz. Lembro aquele jogo em que Casillas sozinho ganhou na Luz, no ano do último tri, ou no ano do tetra em que impediu novamento sozinho o Benfica de ganhar a partida. E se o ano passado o Herrera foi a tempo de fazer mossa é porque San Iker lhe havia possibilitado essa possibilidade. Quando ontem, depois de uma primeira parte em que deveria ter sido obrigado a pagar bilhete, defende aquele remate de Gabriel tive medo que San Iker tivesse novamente aparecido na baliza grande do Estádio do Sport Lisboa e Benfica. Felizmente Seferovic encontrou o buraco no queijo para meter a bola lá dentro e assim evitar mais herreradas. O Benfica, para evitar dar o protagonismo ao guardião espanhol optou por não fazer mais nenhum remate, o que foi inteligente.

- O jogo. Qualquer adepto quer que o seu clube ganhe. Não importa se o faz com um golo de rabo num ressalto de um chutão que bateu numa bola anatómica de um adversário. Portanto não confundam estas críticas todas com insatisfação com o resultado. Mas a verdade é que o jogo de ontem deveria envergonhar todos os intervenientes. A começar pelo árbitro, sobre cujo trabalho nos comprometemos aqui a não comentar, e a acabar no adepto que acha que ontem foi um grande jogo. Não, não foi! Ontem foi um jogo em que o treinador vencedor deveria ter dito o cliché "mais satisfeito com o resultado do que com a exibição", mas não foi isso que disse. E vimos ainda o treinador derrotado deixar implícito que foi prejudicado pela arbitragem, quando quem viu o jogo terá visto outra coisa. Não vimos, nem ouvimos, nenhum interveniente dizer que o jogo foi mal jogado porque nenhuma equipa o quis jogar. E quando as duas melhores equipas em Portugal fazem isto, podemos mesmo admirarmo-nos de perdermos relevância na Europa do futebol?


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sábado, 6 de outubro de 2018

 

O Fim do Fim do estilo?

Como o estaleiro fecha aos fins de semana, tivemos que pedir a alguém que goste de trabalhar para escrever alguma coisa.

Assim sendo, recorremos a habilitado outsourcing, neste caso, ao OliverTorres:


O fim do fim do estilo?

30 de Junho de 2010 – Joan Laporta deixa de ser presidente do Barcelona. No seu currículo leva 4 ligas e 2 Champions League e, como momento mais icónico,  uma escolha: Pep Guardiola como treinador da equipa principal, contrariando a escolha consensual de José Mourinho.
Para o seu lugar chega Sandro Rosell, vencedor incontestado das eleições do clube, e representante de uma viragem no rumo seguido pelo clube (o candidato apoiado por Laporta ficou em último nas eleições).

2 de Julho de 2010 – A nova direcção decide retirar o título de “Presidente honorário” a Johan Cruyff alegando que o cargo viola os estatutos do clube e que é “anti-democrático”.
27 de Abril de 2012 – Pep Guardiola anuncia a decisão de deixar o cargo de treinador do Barcelona alegando, como principal motivo, o cansaço. Há rumores de que a relação com a direcção e com alguns jogadores é a principal causa desse cansaço.
Para o seu lugar serão posteriormente contratados Tito Vilanova, Tata Martino, Luís Enrique e Ernesto Valverde.

6 de Junho de 2015 – Xavi Hernandez, talvez o jogador mais inteligente que já vestiu a camisola blaugrana, faz o último jogo pelo Barcelona, na final da Champions com a Juventus. Encerra o seu ciclo levantando pela 4ª vez o troféu. No entanto, há muito que a sua despedida do Barcelona vinha sendo “forçada” por um treinador que já não o compreendia. O Barcelona jogava um futebol com mais vertigem e transições rápidas, que gostava de médios com capacidade para correr muito e que fizessem a bola chegar à frente o mais rápido possível. Médios como Rakitic, não como Xavi. Xavi não acelerava sempre, não corria sempre. Acelerava quando entendia que o jogo pedia isso, não precisava de correr porque sabia onde tinha de estar e quando lá precisava de chegar. Xavi tinha o seu estilo, o estilo que nasceu da cultura de La Masia, o Barça já tinha outro.

Gradualmente o Cruyffismo e o tiki-taka foram sendo arrancados do coração do Barcelona. A nova direcção rompeu com Cruyff, rompeu com Guardiola e rompeu com La Masia (que criou Xavi, Puyol, Pique, Busquets, Iniesta e Messi). Escolheu treinadores como Tata Martino e Luís Enrique - Um que mal sabia dar um treino; outro que sabia mas que optou por enterrar, época após época, todas as bases do jogo de posse que Pep Guardiola tinha deixado.
Escolheu jogadores como Rakitic, André Gomes, Paulinho e Arturo Vidal
A queda do Barça foi lenta e gradual. O Barça continuou a ganhar, continuou até a golear o principal rival. É natural, continuou a ter o melhor jogador da história do futebol na equipa, rodeado de alguns jogadores de alto nível.
No entanto, alguns sinais “estranhos” começaram a surgir. Viu um Atlético de Madrid, que nada mais faz do que correr desalmadamente em campo, tirar-lhe um campeonato em casa; viu um Rayo Vallecano tirar-lhe a posse de bola pela 1ª vez em 317 jogos, viu-se a ser encostado e até goleado por equipas que antes eram facilmente atropeladas e mal tocavam na bola durante um jogo e, viu-se a cair cada vez mais cedo na Champions, muitas vezes depois de humilhações e demonstrações de incapacidade históricas.
Viu o estilo ruir até ao ponto em que o estilo era “só” Messi.


3 de Outubro de 2018 – O Barça desloca-se a Wembley para defrontar o Tottenham de Pochettino, uma das equipas mais bem treinadas da Premier League. O Barça, treinado por Valverde, chega a este jogo após três jogos seguidos sem vencer na Liga contra equipas do meio e fundo da tabela. Chega envolto num mar de críticas à incapacidade da equipa para controlar os jogos e para criar ocasiões de golo, apontadas essencialmente a um treinador que recorrentemente renuncia à bola e que opta por um perfil de jogador tecnicamente limitado mas fisicamente imponente. No fundo, as mesmas críticas que vêm surgindo nos anos transactos.
No entanto, e até contra as expectativas do novo “cão de caça” da equipa, Arturo Vidal – que até a amigos próximos teria anunciado que ia ser titular – Valverde coloca a titular um miúdo brasileiro de 22 anos – Arthur Melo.





O que se seguiu foi uma das exibições mais fabulosas de um médio do Barcelona nos últimos anos. Estamos habituados a ver Messi e Iniesta (até à época passada) a brincar com a bola e com os adversários, estamos habituados a ver Busquets iniciar a construção com os olhos sempre colocados dentro do bloco adversário. Não estávamos era já habituados a ver um jogador a querer ter bola como eles querem e a gostar dela como eles gostam.

Arthur tem pormenores assombrosos: os passinhos e orientação dos apoios para receber a bola já virado para onde deve ir; a recolocação imediata como opção para receber após dar o passe; o descaramento com que guarda a bola mesmo estando a ser agarrado e pontapeado pelo jogador que está na pressão, com total confiança de que não a vai perder; ou aquelas voltinhas, as deliciosas voltinhas, com que confunde a marcação e temporiza o passe para o fazer só no momento que sabe ser o certo. As comparações com Xavi entendem-se. Xavi está num patamar talvez inalcançável talvez, mas Arthur tem-lhe o estilo. Este Arthur tem de e vai crescer ainda mas a maior esperança, de todos os que amam o Barcelona ou são saudosistas do velho estilo, é a de que seja o Barça a crescer com o Arthur. A de que quem manda, seja Valverde ou seja Bartomeu, perceba que é com jogadores como Arthur que o Barça poderá voltar a ser a equipa mais controladora, mais dominadora e mais temida no mundo. Porque foi com jogadores com este estilo que se tornou grande.


P.S. Noutro campo, bem mais próximo, diz-se que um menino como o Arthur voltou a fazer 20 minutos de excelência. Voltará a ser suplente no próximo Domingo, certamente. O clube onde joga, desde o topo até à base da estrutura acredita que não é com “Arthures” que se ganham campeonatos. Nessa casa não há espaço para “voltinhas”, só para alta “rotação”.

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sexta-feira, 5 de outubro de 2018

 

Portugal na Europa: #SomosTodosZéMota

O que esperar do resto da participação Portuguesa na Champions e na Liga Europa?

Jogamos pouco, muito pouco, para almejar o que quer que seja de relevante.

Ganhamos uns jogos, obviamente, e vai dando para nos mantermos à tona de àgua no que à classificação Europeia concerne, mas a realidade é só uma.

Jogamos para a vitória moral, para sermos cercados pelos adversários e num golpe de asa tentar o golito numa bola longa, o que permite, à cabeça, definir dois tipos de discurso:


Outcome 1: Ganhámos 1-0, depois de sermos massacrados
Desculpa 1: "Fomos bravos e corajosos perante um adversário fortíssimo, grande carácter, garra e atitude"

Outcome 2: Perdemos 1-0, depois de sermos massacrados
Desculpa 2: "Apesar de o adversário ter tido algumas chances, aquela bola longa aos 87 minutos quase que dava canto, o que teria sido a nossa oportunidade para empatar, logo o resultado é injusto. Grande carácter, garra e atitude"


Falta coragem ao treinador Português, de fazer os seus jogadores acreditar que é possível ganhar, que é possível, dentro de um grande modelo de jogo, suplantar as óbvias diferenças qualitativas entre nós e os monstros da Europa.

Continuamos com o chip Salazarento dos "pobres, mas honrados", que se prestam ao chicoteamento com um sorriso pio, cândido e resoluto, como se soubéssemos que o nosso fado é aceitar galhardamente a derrota, independentemente das circunstancias da mesma.

O perder não é o problema, o problema é o não jogar, é o não agarrar num modelo colectivo que faça transcender o potencial que temos.

O último a levar essa ideia foi Jesus, em 2014, antes tinha sido Mourinho, nos idos de 2004.

Na actualidade, os nossos treinadores resumem-se a esta foto:





Façam melhor, seus picaretas.




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quinta-feira, 4 de outubro de 2018

 

Invenções mais inúteis da história

Num formato diferente do habitual, apresento aos caros leitores as cinco invenções mais inúteis da história:


1 - Porta-papel higiénico de cabeça;

2 - Manteiga em stick;

3 - Cone de gelado giratório;

4 - Molde para colocar batom;

5 - Marega a ponta de lança.

6 - Árbitro de baliza (exceto quando é para anular golos legais ou assinalar penáltis estapafúrdios).

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quarta-feira, 3 de outubro de 2018

 

Efharisto Klonaridis ou o elogio do Choriço (assim mesmo, sem u).

Quem me visse ontem no final do jogo veria alguém a cantar a plenos pulmões aquele cântico do "campeão voltou" mas na modalidade "o chouriço voltou". Não consigo dizer aquela variante de tasca que utilizo no título, em que a ablacção do u leva a que aquele o seja um pouco mais aberto, mas compreendo perfeitamente que por muita tasca do país se tenha dito "que grande xóriço".

Não se pense por um instante sequer que estou a tentar menosprezar o trabalho que está na origem do golo. O que pretendo é utilizar a terminologia que, como disse Rui Vitória, se emprega na gíria.



Mas se calhar nem foi bem um chouriço. A pobreza de segunda parte que o Benfica fez recomendam que se lhe chame mais uma linguiça. Pode ser igualmente saborosa, mas tem certamente menos carne que o chouriço e a quantidade de carne é, parecendo que não, importante.

Uma vitória que parecia, ao fim do primeiro quarto de hora, ir acontecer por números pouco habituais, uma espécie de anti-Basileia 2017 em que pegávamos nuns desgraçados Gregos e os fazíamos pagar pelo martírio que a Big Pharma Suíça nos havia feito passar, mas que com o desenrolar do jogo, em particular da segunda parte, chegou a parecer ser uma repetição do massacre de há um ano. Para se perceber como o Benfica pode ser tão bipolar, é necessário ter um conhecimento nada profundo sobre o que é o Benfica de há três anos a esta parte.

Se à passagem do quarto de hora o Benfica liderasse o marcador por quatro golos de vantagem, não seria estranho. O que continua a espantar quem só agora acompanha o Benfica é como a equipa abdica de jogar assim que assume uma posição de conforto. Aos vinte minutos já o Benfica tinha abdicado de assumir o jogo e a espaços mesmo de entrar no meio campo adversário. Não surpreendeu portanto ninguém que o AEK fosse assumindo cada vez mais o controle do jogo e com isso Vlachodimos trouxesse à tona o seu papel de Odissalva para evitar que ao intervalo o AEK já tivesse empatado a partida.

Comentar a segunda parte do jogo fica fácil se começarmos pelo fim. No último lance da partida Cervi conduz a bola pelo meio até que é atrapalhado por Seferovic, que fica com o esférico, recua um bocado e é atrapalhado acho que por Fejsa, que consegue o bis ao atrapalhar também Gedson, antes de a bola sair pela linha lateral e o árbitro mandar recolher ao balneário. A quantidade de jogadores que se atrapalham uns aos outros é atroz, como se ninguém tenha a noção do que é ocupar espaços ou dar linhas de passe. Ninguém no Benfica parece saber o que fazer e onde estar. Não há uma ideia de jogo.

Os mais simpáticos podem dizer que o motivo pelo qual o Benfica faz apenas um remate em toda a segunda a parte está relacionado com a inferioridade numérica, mas não conseguem explicar como o Benfica sofre aqueles dois golos (iam sendo quatro...). E digo isto porque já vi o Benfica com menos um manietar uma equipa do Porto e carimbar assim uma meia-final da Taça de Portugal. Também já vi um Benfica com 10 manietar uma Juventus no estádio da equipa Italiana que só tinha Tévez, Pirlo, Llorente, Vidal e Pogba no onze inicial. E tentar explicar porque é que entre o minuto 26 e o fim do jogo o Benfica só fez... um remate! 70 minutos e só um remate contra este AEK, por parte de um clube com os recursos do Benfica, só se consegue quando propositadamente se abdicou de jogar.

Mas o que importa é que o Benfica ganhou com um chouriço marcado menos de dois minutos depois de Klonaridis, espantado com as facilidades que lhe davam para conseguir um hat-trick, ter optado por proporcionar a Odissalva Vlachodeus a defesa da partida, em vez de tocar para o parceiro que estava de frente para a baliza. Efharisto Klonaridis!

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+ Seferovic. Se há coisa que o Suíço vai mostrando é que o ano passado, após lesão de Jonas, o ponta de lança da equipa que estava mais habilitado a dar à equipa qualquer coisa que se assemelhasse sequer com o que o Brasileiro era capaz de dar, não era Mexicano. Por outro lado fica complicado de perceber porque um jogador de movimentações e posicionamento joga quando se tem o Porteiro Castillo. Não que isto seja uma crítica ao Suíço, é mesmo elogio. Tem momentos em que devia mandar tudo às urtigas e recusar-se a permanecer em campo tal a anarquia que reina e que torna ingrata a tarefa de correr atrás da bola apenas para se ser rodeado de uns três ou quatro adversários. Tem demonstrado que assim que Rui Vitória decidir apostar em jogar à bola o Benfica está bem servido de opções.

+ Ala Esquerda. Há uma diferença abismal de qualidade entre a bola estar no lado esquerdo ou no lado direito do Benfica. Uma diferença que me faz crer que Rui Vitória ganhará em breve um Prémio Nobel da Física, assim consiga explicar como coexistem no mesmo espaço Matéria e Anti-Matéria. Claro que o resultado final é a anulação do que o futebol devia ser, mas ver a Ala Esquerda do Benfica a carburar naqueles minutos em que o treinador os deixa estar soltos para jogarem à bola é delicioso. Aquela Ala Esquerda de Grimaldo e Rafa é daquelas coisas que facilitam a vida a treinadores que querem ganhar. E como se sabe, se fosse fácil não era para Rui Vitória.

+ Odysseas Vlachodimos. Ou Odissalva Vlachodeus. Redimiu-se ontem do ataque de Vlachodeu-lhe em Chaves. Quatro defesas fundamentais para segurar o resultado. Claro que ser Guarda-Redes de uma equipa que gosta de facilitar as coisas ao adversário não é fácil. Ter de segurar jogada atrás de jogada atrás de jogada do lateral esquerdo adversário também não. Tem o momento da partida minutos antes do chouriço de Alfa Semedo ao defender um remate egoísta de Klonaridis. Gosto de acreditar que mesmo que Klonaridis passasse a um dos dois companheiros melhor posicionados Vlachodeus estaria lá para Odissalvar a situação. Um facilitador de resultados por natureza, obriga a equipa técnica a encontrar outras formas de facilitar a vida aos adversários. Tentem imaginar aquilo ontem com Varela!


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- Ala Direita. É fácil culpar André Almeida pela abismal quantidade de golos que são criados pelo flanco direito do Benfica. É fácil, não de todo injusto, mas uma visão facilitista. Porque o Benfica tem um problema com a ala direita e esse problema vem dos treinos. É um problema exacerbado pela coexistência no mesmo flanco de André Almeida e Sálvio, mas que não se resolve quando o Argentino é trocado por Pizzi e este por Gedson. O comentador inglês do canal onde segui o jogo pergunta-se a dada altura "Have you ever seen a left back slaughter so much a right back as Hult has André Almeida tonight?" e a resposta ironicamente é que sim, já vimos, quando David Alaba encarou a mesma ala direita. Na Champions mesmo contra um AEK mais do que acessível, a ala direita do Benfica nem cria nem destrói. Que seja essa a via preferencial para o Benfica tentar avançar no terreno é só doloroso para quem vê e simpático para os adversários. E ontem mais dois golos em que assistência veio da direita.

- Rúben Dias. Eh pá... Quem vê Rúben Dias e João Félix rapidamente chega à conclusão que terá sido Rúben quem frequentou as escolinhas do Porto. Pura ilusão! É fácil querer desculpar Rúben por aquele segundo cartão dizendo que a culpa é de André Almeida que se retrai, mas isso é querer tapar o sol com uma peneira. Rúben Dias tem de se mentalizar que aquele tipo de entradas que fazem Bruto Alves largar uma lágrima de emoção não servem. Não servem especialmente quando se está amarelado e equipa em modo full retard. Percebo que o Benfica encarar um adversário dominante com onze é facilitar a coisa, mas é ao treinador, através da ausência de processos, que compete isso. As entradas extemporâneas têm de acabar. O anfiteatro da Luz que aplaudiu Mozer, Ricardo Gomes, Ricardo Rocha ou Carlos Marchena aprecia rigidez com finesse. Compreendemos que não estamos perante um Gamarra, mas poderia haver menos esforço em ser um Tahar.


- Rui Vitória. É fácil culpar muitos jogadores, mas um treinador que abdica que querer esmagar um adversário acessível à nossa equipa de sub-23 não pode nunca ter nota positiva. Rui Vitória demonstra ter cada vez menos ideia do que representa ser treinador do Benfica. Como li ontem no lançamento do jogo, ser do Benfica é ter o direito divino de ganhar todos os jogos e o treinador tem de encarar o seu cargo como o facultador corpóreo desse direito (o que li era diferente, mas a ideia era esta). Rui Vitória disse no lançamento que cada um tem uma cabeça e eu recomendo que ele ou use a dele ou escolha jogadores que a usam. Ambas seriam o ideal, mas eu ficava feliz já com uma. As diferenças entre Ala Direita e Esquerda, a incapacidade de segurar o ataque adversário, aquela atrapalhação que jogo após jogo vemos os jogadores do Benfica a ter... Repito o que disse acima, ninguém no Benfica parece saber o que fazer e onde estar. Não há uma ideia de jogo. E isso não é culpa de um ou dois jogadores por muito maus que sejam.
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