domingo, 30 de setembro de 2018

 

Sérgio Conceição não gosta de Futebol

Enquanto aqui o vosso estimado escriba espumava de raiva por mais uma exibição absolutamente deprimente do Sporting frente ao colossal Marítimo, deu de caras com as declarações de Sérgio Conceição, que reproduzimos:

Ao 1:23, o Sr Sérgio, treinador do Campeão Nacional de 2017/18, profere a seguinte frase "se os espectadores querem espectáculo, que vão ao Coliseu, à gala dos 125 anos do FC Porto".

Meu caro Sérgio, você é a cara, o rosto e o exemplo perfeito do Futebol Português, onde se desvaloriza quem paga (seja em casa, seja no estádio) para ver um jogo de Futebol.

O Futebol é um espectáculo desportivo, de cariz recreativo.
Sim, Sr. Sérgio, as pessoas deveriam ir ao estádio com a fundada expectativa de serem entretidas.

Para si o Futebol é entendido como um conjunto de 11 duelos que tem ser ganhos, onde não interessa se o chuto foi dado numa bola, rótula ou cabeça, mas o Futebol é o maior desporto do Mundo exactamente porque é jogado, no seu máximo esplendor, como um movimento colectivo coordenado, onde a Bola é o elemento máximo e os seus bons tratos o garante de vitórias, proporcionando um espectáculo de qualidade.

O que deduzo das suas palavras é que o Futebol, a si, interessa-lhe pouco, interessa-lhe a preservação do seu lugar numa hierarquia (seja treinador ou fiel de armazém, que desconfio ser a sua vocação), sem qualquer tipo de preocupação pela valorização do espectáculo que deveria proporcionar e não o faz, nem a valorização dos activos que tem a seu cargo e, por consequência, do clube.

O Sr. Sérgio poderá ganhar 20 campeonato seguidos, mas a sua atitude de desprezo para com o adepto e para com a sociedade que lhe paga o salário é nojenta, esclarecedora do nível a que, hoje, se joga no Futebol Português.

Veremos. mesmo que faça uma boa carreira durante a presente época, a valorização de elementos tão talentosos como Brahimi (a caminhar para os 30 anos sem conseguir encontrar um treinador que efectivamente entenda o nível elevadíssimo que pode atingir) ou Oliver Torres (um crime de lesa-pátria a sua falta de utilização).

Este último parágrafo é, no entanto, um problema da SAD do FC Porto, o grave é mesmo a sua falta de respeito para com o verdadeiro adepto, que gosta de ganhar, obviamente, mas que pretende ver a sua equipa jogar alguma coisa para lá dos lançamentos para a profundidade de Marega ou Aboubakar.

Tenha vergonha na cara e retrate-se, você, tal como muitos outros, são a razão para o declínio evidente que a Liga Portuguesa, hoje, sofre a nível qualitativo.

Para o Armazém das Picaretas já!

Picareta Oceano
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sexta-feira, 28 de setembro de 2018

 

Impressões de um Benfica que mete impressão.

"Friends, Romans, countrymen, lend me your ears;
I come to bury Caesar, not to praise him.
The evil that men do lives after them;
The good is oft interred with their bones;"
É desta forma que Marco António se dirige à multidão de Romanos na segunda cena do terceiro acto da peça Júlio César de William Shakespeare. Para aqueles que não são tão versados em inglês, a tradução livre da coisa será parecida com: "Amigos, Romanos, concidadãos, ouvi-me/Venho para enterrar César, não para o louvar./O mal que os Homens fazem vive para lá deles/O bem é enterrado com os seus ossos". A forma como isso se relaciona com o Benfica é apenas marginal. Estamos longe de fazer o enterro de quem quer que seja, e mesmo que estivessemos aqui reunidos para um funeral, tudo indica que o homenageado seria cremado numa pira e não enterrado, tal a lenha que tem amontoado para se queimar. Não nos impeça no entanto essa quantidade de matéria combustível de atirar umas pazadas de terra ao que tem sido o consulado miserável de Rui Vitória.

O título deste texto foi sugerido por um confrade picareta quando pedi autorização para colocar este texto aqui hoje. Tudo o que leram até agora e o que lerão daqui para a frente é a versão maturada e acalmada daquilo que sinto. De facto, se escrevesse ontem à hora em que acabou o jogo, teria de começar não com citações de Shakespeare, mas com uma frase qualquer como: "Se dissesse tudo o que me vai na alma mandava Rui Vitória para o real caralh**** que o fo**, seu fi*** de um *** manco pari*** numa noite de cheia do Tejo.". Não comecei o texto com esta frase, nem sequer a escrevi, isto é tudo hipotético!

Dito isto, vamos recuar um pouco. Rui Vitória ao nível da comunicação é o que resultaria se fundissemos um Gustavo Santos com um Pedro Chagas Freitas e lhe dessemos um grau de treinador de nível o que quer que lhe permita orientar equipas na Liga dos Campeões. Uma dessas manifestações é o famoso "se fosse fácil não era para nós". Olhar para o consulado de Rui Vitória à frente do Benfica é ver o que acontece quando se acredita de tal forma nesta banalidade que se vai dificultar tudo, mas tudo, só por se acreditar que só assim tem valor. Se Rui Vitória fosse autorizado a participar na Volta a Portugal em Bicicleta com a mota do Miguel Oliveira, ele havia de furar os pneus e usar aguardente como combustível só para não ser demasiado fácil. Porque se fosse fácil não era para ele.

Veja-se ontem em Chaves. Para quem jogou FM2016 há um tipo de tácticas que usam uma fraqueza do código chamadas strikerless (sem ponta de lança) que consistem em jogar sem ninguém na zona do PL. Rui Vitória parece que olhou para isso e achou uma boa ideia, tal o número de vezes que Seferovic descaiu para uma ala para combinar com os alas (quer defensivos quer ofensivos) e deixou os centrais do Chaves à vontade para beberem umas minis. Só que não estamos em 2016, nem a vida real é o FM.

Não foi só Seferovic no entanto quem foi apanhado a passar bolas para a sua posição onde não estava ninguém. O mesmo pode ser dito de Cervi (cada vez mais o Sálvio da esquerda) ou de Rafa. O ataque do Benfica é tão móvel que acreditava piamente que era possível desfazer a defesa do Chaves só com autopasses de vinte ou trinta metros. Passes feitos para zonas onde um jogador do Chaves chegaria mais depressa a rastejar do que o Usain Bolt a correr. Porque se fosse fácil não era para o Benfica.

Outro aspecto interessante é o habitual recuar depois do golo. Rui Vitória é um homem que acredita piamente em dar oportunidades. Não a jogadores de qualidade inegável do seu plantel, porque isso seria facilitar-lhe a vida a ele, mas aos adversários. De outra forma fica difícil compreender porque é que o Benfica cada vez que se apanha com vantagens magras oferece o controle do jogo ao adversário. Não é esporádico, não foi ontem, é a regra do Benfica há pelo menos três anos. O único intervalo foi quando JJ teve aquela deselegância, digamos assim, de "não o [ver] como treinador". Nessa altura sim, o Benfica jogava a virar aos 5 e acabar aos 10.

Outra característica do Benfica de Rui Vitória que veio ao de cima ontem foi o que realmente importa para Rui Vitória. Para Rui Vitória o treino nem sequer é o mais importante. Devemos pois sub-entender, quando vemos a forma como se prepara a barreira no primeiro golo do Chaves, que se o treino não é o mais importante coisas como observação de adversários devem acontecer in loco no dia do jogo. Foi uma situação isolada? Talvez, se descontarmos a tragédia de Basileia o ano passado e tantas outras surpresas que toda a gente sabia que iam acontecer. Toda a gente não, porque isso de estudar o adversário é facilitar e como sabem, se fosse fácil não era para Rui Vitória.

Se eu dissesse tudo o que me vai na alma, ficava aqui o dia todo a insultar Rui Vitória por aquilo em que transformou o Benfica. Poderia dizer, mas não direi, que fique claro, que a sua sabujice a Vieira é de tal forma que... Calma, respira... Pronto! Acho que passou, pelo menos até ao próximo jogo, e que percebem a ideia. Com o plantel que o Benfica tem, quem o orienta devia ser alguém que quisesse facilitar coisas como ganhar competições, não para aquilo que tem sido. Mas é o novo paradigma e se fosse fácil não era para ele.


+

+ Dr OdiSalva. Se o Benfica chegou ao intervalo a ganhar muito o deve a duas ou três defesas monstruosas de Odysseas. Útil ainda a construir e a dar linhas de passe aos defesas, com um guarda-redes a sério fica mais fácil. Deve ter levado um raspanão ao intervalo tal a forma como estava a facilitar a vida à sua equipa, mas sobre o Sr VlachoDeu-lhe falamos mais à frente!

+ Rafa. Esperemos que não tenha jogado hoje para descansar o tipo muito intenso e com muito golo que costuma alinhar ali, mas sim para mostrar porque é que o outro não devia ser titular tão cedo. Não vou sequer pegar em nenhum dos golos, coisas estranhamente estranhas nele, mas há uma jogada na primeira parte em que uma bola lhe chega aos pés, dois jogadores do Chaves apertam com ele, escorrega, chega um terceiro do Chaves e quando finalmente um quarto jogador do Chaves se junta ao grupo e Rafa sofre falta, já a bola está uns 15 metros mais à frente do lugar inicial e dentro do corredor que seria delimitado pelo prolongamento das linhas laterais da grande-área do Chaves. Na segunda parte foi o único a quem a bola não queimou os pés e o único cujas recepções de bola de costas para a baliza não acabavam com a bola 4 metros mais atrás. Esperemos que o facto de equipa ter desperdiçado dois golos seus não conduza a uma situação de "foda-se se é para isto nunca mais marco".

+ Sei lá... Queria muito colocar aqui um terceiro ponto positivo. Ia falar de Gedson, mas a movimentação dele no segundo golo é de amador. Queria falar de Conti, que pareceu ser mesmo reforço na pré-época, mas que ontem pensou que ou estava na Argentina ou que se chamava Felipe e joga no Porto. Queria falar de Gabriel, o novo tanque do meio campo, mas como saiu de campo quando levou o amarelo (ai não saiu? desculpem) não ficou muito mais. Queria falar de Jonas ou de Seferovic, mas mais uma vez mostrou-se que se é para chutão não vale a pena meter jogadores da bola. O relvado! Impressionante como depois daquela chuvada bastou picar um pouco o relvado para ficar, não diria impecável, mas de forma a permitir um bom jogo com a bola a correr sem grandes poças. A malta de Alvalade bem podia pedir umas dicas para tratarem do batatal. Como o relvado contribuiu para fazer a vida fácil ao Benfica, algo ou alguém tratou de dificultar a coisa.


-

- Sr Vlachodeu-lhe. Se na primeira parte o guarda-redes salvou a coisa, na segunda contribuiu e muito para o balde de água fria que levámos, mesmo quando já não chovia. Tem de lhe ter dado alguma coisa muito má para achar que aquela táctica das duas barreiras resultava. Não viram duas? Vejam outra vez! Há uma com Cervi e Rafa ao lado um do outro a cobrir o poste direito. Para cobrir o poste esquerdo outra com Fejsa encolhido atrás de um colega. E o Sr Vlachodeu-lhe posicionado bem no meio. Imagino que a ideia seria criar dúvidas no Ghazarianalho (aproveito o nome dele para lhe dedicar uma mal camuflada palavrinha "amiga"). Imagino que a única dúvida foi para que lado o Vlachodeu-lhe a queria... Ainda tem um mau posicionamento no segundo golo do mesmo tipo, mas aí já a movimentação colectiva era toda ela tão má e desajustada que destoaria haver um só jogador que soubesse o que tinha de fazer. E isso seria facilitar que como sabemos, se fosse fácil não era para o Benfica!

- Cervi. Temos Zivkovic no banco. Temos Gedson no banco.  Tinhamos Jonas e Castillo no banco. Temos portanto condições para encostar Rafa à esquerda e Pizzi flectir para a ala direita. Ou Ziv na esquerda. Ou Ziv e Rafa a alternarem as alas. Temos condições até para meter um avançado mais fixo (Castillo) com Seferovic a flectir para uma ala, como passou o jogo a fazer de resto. Ou meter um jogador que desse mais qualidade com bola (Jonas) deixando Seferovic mais fixo. Tinhamos qualidade no banco suficiente para não ter de sofrer mais um jogo com o novo Sálvio, o Cervio. Se ninguém reparou, é ver quantos lances perdeu, quantas bolas entregou redondinhas para o adversário. Houve uma altura em que trocou com Rafa e passou a jogar na direita. O Benfica nem passava do meio campo sempre que a bola estava no flanco dele. Já chega. Há qualidade individual para não mais termos de alinhar com nenhum dos extremos argentinos a titulares. Só que isso seria facilitar e se fosse fácil não era para o Benfica.

- Rui Vitória. Penso que enquanto houver paciência para estas impressões, Rui Vitória se arrisca a ser cliente habitual do sector negativo. Não que seja má pessoa, até imagino que não seja mau treinador, simplesmente porque é a pessoa errada para o lugar que ocupa. Não nos iludamos, o futebol do Benfica está entregue à criatividade e capacidade de onze indivíduos jogarem à bola. Não há um plano estratégico, como se pode ver no critério das contratações e renovações, nem uma ideiazinha de jogo que retire a complementariedade que se pretende que as diferentes soluções individuais dêem à equipa. Aliás, não há equipa, há um conjunto de egos. Ontem perdi conta ao número de vezes que dois jogadores do Benfica ocupavam o mesmo espaço a atrapalharem-se, sem ninguém compensar. Ele foi Rafa e Seferovic, Cervi e Seferovic, Gabriel e Pizzi, Gabriel e Cervi, Ruben e Conti... Conti! Conti é lançado a jogo sem ter a noção do que se espera dele, é notório pela linguagem corporal do jogador. Há um lance em que recua desfazado de toda a linha defensiva e ceifa Ruben Dias quando este se preparava para aliviar a bola. Já falei no capítulo Cervi do que não se vê trabalhado na frente de ataque. Não há uma ideia que não seja bola larga nos extremos e cruzamento para a área, estejam lá 10 ou 2 jogadores adversários. E imagino que se estiverem só dois a ordem será para cruzar para o meio dos dois... E o estudo dos adversários? Descobriram ontem que o Ghazaryanalho é dextro e bate bem livres? Ninguém o conhecia da carreira no Nacional, querem ver... Rui Vitória o debitador de banalidades que não fala de árbitros exepto quando fala não é um homem que goste das coisas fáceis. Mesmo que para isso tenha ele de as dificultar. E isso é o que mete mais impressão!
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terça-feira, 25 de setembro de 2018

 

...Quem paga é a exigência!

Ser adepto do Benfica na menos Gloriosa década que corre de 1995 a 2005 é pertencer a um clube muito elitista que acreditou que era possível ser campeão com jogadores da qualidade de um Martin Pringle, um Paredão ou um Leónidas. A lista é curta, pouco representativa da falta de qualidade e se não me alongo é porque seria mais fácil fazer uma lista dos jogadores de qualidade que envergaram o Manto Sagrado. Preud'homme, Enke, Gamarra, Ricardo Gomes, Poborsky, Valdo ou João Vieira Pinto tiveram de entrar em campo com vedetas que faziam um coxo com bicos de papagaio acreditar que podia ser jogador do Benfica.

Não me vou sequer alongar no excelente trabalho de implosão do plantel que Manuel Damásio, como presidente, e Artur Jorge, como treinador, levaram a cabo. Vamos resumir os assuntos extra-futebol a uma simples frase, quem acha que Vale e Azevedo é que destruiu o Benfica ou tem memória curta ou...

O que nunca aconteceu, apesar da mucha ilusión, quase a roçar a alucinação colectiva, dos dois ou três mil que não arredavam pé da verdadeira Catedral do Futebol, foi haver uma desculpabilização de quem jogava. O Inferno da Luz das décadas passadas transformou-se nessa década em algo que os habituais chamavam a Fornalha da Luz, tal o ritmo com que queimava técnicos e treinadores. E nem as reais estrelas, como JVP, Preud'homme e Poborsky, passaram totalmente incólumes a essa fornalha, tendo tido de ouvir volta e meia a sua assobiadela monumental.

Serve pois o presente para questionar o actual estado de coisas no futebol. Não só Benfiquista, mas em geral. É uma característica geral de todos os populismo a necessidade de arregimentarem as massas com uma narrativa de "nós contra eles" que tem o interessante corolário de "quem não está por nós está contra nós". No futebol, para lá do apoio cego e acéfalo a líderes de reputação e idoneidade no mínimo discutíveis, isso manifesta-se noutros aspectos. Nomeadamente na forma como se lida com a crítica aos intérpretes. Há o clássico quem não apoia Cristiano Ronaldo na sua luta contra o mundo, não é bom português, como se o próprio Cristiano não tivesse, em momentos da sua carreira, beneficiado do clube que agora o mina, para se pôr acima do que é realmente o seu estatuto no Mundo do Futebol. Ainda no domínio das Quinas e da Esfera Armilar, há a necessidade de achar que José Mourinho ainda é aquele treinador de pressão alta, controle absoluto do jogo e futebol jogado, e não o condutor de um camião TIR carregado de barras de chumbo, com três pneus furados e atravessado no tabuleiro da 25 de Abril.

No domínio interno as discussões rapidamente derivam para um tom em que quem ousa criticar as escolhas do treinador tem de ser dos outros. Não importa se os outros são os dragartos ou os lamps, se não se gosta de quem o treinador do nosso clube... Aliás, se não se gosta sequer do treinador, então já se é dos outros. A mim isto custa-me. Em parte porque passei boa parte da minha juventude a ser castigado por Glenn Helders e Martin Pringles da vida e sei como o anfiteatro da Luz desses anos reagiria a cada toque na bola de um qualquer Cervi ou Seferovic de pacotilha que nos servissem nessa altura. Se acham que não, eu relembro que José Calado estando longe de ser dos mais picaretas a envergar o Manto Sagrado, não se livrou de ter de ouvir o Estádio a cantar, várias vezes, o "Coração de Melão" enquanto envergava a bracadeira de capitão.

Do que se passa noutras casas só sei o que vou ouvindo aos poucos. Do que oiço, acho difícil que quem hoje aplaude Marega nutra um qualquer sentimento de saudade pelos dotes de Quinzinho. Ou que quem aplaudiu Rui Barros aceite que Óliver Torres alterne entre o banco e a bancada. E só mesmo o clube de fãs de um Rodolfo ou de um Chippo pode achar que a venda de Rúben Neves foi acertada.

Ainda no capítulo de equipas às riscas, os que acham que Jefferson ou Ristovski são jogadores de quem quer ser campeão, lembrar-se-ão com saudade de Quim Berto ou Luis Andrade? Ou será que acham que César Prates e Rui Jorge foram muito sobrevalorizados?

Dito isto, quando é que exigir qualidade se tornou uma manifestação anti-clubística, qualquer que seja o clube? Estará errado o adepto que deseja que o seu clube retenha os melhores jogadores e os coloque a jogar, por dessa forma estar mais próximo de conseguir boas exibições e bons resultados? Não será através da promoção e da elevação da qualidade que o futebol português tem espaço para crescer?

Não nos iludamos, o grau de exigência que temos para com os nossos é reflexo daquilo que somos e daquilo que queremos. O Desporto Português em geral, e o futebol em particular, carecem de uma visão geral, global e estratégica e uma das causas que o impedem de crescer é precisamente a falta de exigência qualitativa que nos impomos. Queremos ganhar a todo o custo de uma forma imediata, sem nos preocuparmos em ganhar de forma consistente e com essa atitude vamos endeusar os Sálvios, os Acuñas e os Maregas da vida que nos dão aquela sensação imediata de satisfação. Mas com a mesma celeridade que cegamente os endeusamos, quando conseguem aquele momento vistoso, rapidamente os condenamos quando nos apercebemos que com esses ídolos de pés de barro dificilmente conseguiremos mais do que ser um peixinho grande num aquário pequeno.

Eu que almejo a Bayernização (ou Rosenborguização) do Benfica recuso-me a aceitar isso. E acredito que clubismo saudável é muito mais desejar que os nossos sejam melhores do que os outros serem piores. Não quero um cepo que brilha contra os Nacionais e os Aves da vida e não é capaz de criar uma jogada contra os Bayerns. Seria bom que isso ou o não compreender a dispensa de Matheus, o melhor jogador da pré-época leonina, para se oferecer o lugar a Acuña, ou o questionar-se porque Óliver só aquece, não fossem confundidos com anti-clubismo e que fossem reconhecido como a real manifestação de clubismo. Porque quando o grunhismo e o picaretismo, manifestações futebolísticas dos populismos de hoje, se tornam a corrente oficial de amor ao clube, quem paga é a exigência.
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quinta-feira, 20 de setembro de 2018

 

"He does everything for those around him."

O título deste post em bom português e em linguagem futebolística seria " Ele cria as melhores condições para os seus colegas"

Esta afirmação vem de uma entrevista de Valdano a Guardiola, onde o técnico espanhol disse que Messi gostou logo de Busquets e numa conversa entre os 2, Guardiola acrescentou que o génio espanhol criava as melhores condições para os seus colegas. Supostamente é o que todos os jogadores de futebol deviam fazer mas nem sempre é assim, e essa é uma das razões que fazem de Busquets tão especial e talvez o melhor médio defensivo de sempre.

O espanhol sabe onde dar linhas de passe, sabe que passe fazer, com que força tem de fazer(rápido e tenso ou lento para chamar a pressão), sabe para onde tem de fazer( espaço, pé) e por vezes inventa lançes de génio. Como o seu colega de seleção disse "He encourages you to make the next play, by playing the ball to you in a way that you can figure out what to do next. If he plays it to the back of you it's for you to return it, if he plays it to your front it's because you're free to turn.". 

Mas não é só com bola que Busquets faz a diferença. Quando a sua equipa está sem a bola, ele sabe posicionar-se, sabe os timings para ir apertar o adversário, a forma como anda sempre em cobertura aos colegas permite que seja muito intenso e agressivo na reacção à perda, entre tantas outras coisas.

Para finalizar, deixo aqui uma pequena amostra do que é o génio de Busquets  
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Curtas do Benfica 0 - Bayern München 2

*Rui Vitória a dar forte num onze que conta com extremos "intensos" e "com golo". O resultado foi que o Benfica fez o primeiro remate praticamente à meia hora de jogo, quando já perdia e para aquela que seria a única defesa de Manuel Neuer na primeira parte.

*O Benfica sofre mais dois golos criados pelo lado direito da sua defesa. É certo que André Almeida não será propriamente o lateral direito de sonho para quem quer ganhar títulos na Europa, mas ignorar que o Bayern só abraçou realmente a condição de "gerir o resultado" quando saíu o extremo que é muito intenso, com imenso golo e que ajuda nas tarefas defensivas e que joga no lado de André Almeida, é não perceber que crucificar André Almeida é só querer simplificar um problema muito maior.

*Melhor em campo do Benfica, e talvez o Homem do Jogo por ter evitado um resultado que rima com "alhada", é o Guarda-Redes Odysseas Vlachodimos. Fica difícil dizer quem terá sido o segundo melhor tão mal esteve o colectivo.

*Alguns génios elegeram Renato como o melhor em campo. Eu recomendava mais tabaco. A movimentação de Renato no golo que faz só é boa no mesmo sentido em que a movimentação da defesa benfiquista representa um boa pontaria na analogia do tiro no pé.

*Voltando aos extremos do Benfica, fica bem patente a distância da Liga Portuguesa para Ligas onde o que importa é jogar à bola. Mesmo que Kovac seja uma picareta promovida a martelo pneumático e se desperdice talento em Gelsenkirchen. A sensação clara é que cada vez mais as nossas equipas dificilmente lutariam por sequer irem à Liga Europa em cada vez mais ligas.

+Qualquer pessoa com dois neurónios funcionais que ainda não acreditasse que não faz sentido o Benfica começar jogos com dois extremos argentinos deveria ter ficado esclarecida sobre a inutilidade desses dois como titulares.

+Boas indicações de Gabriel a demonstrar que pode ser reforço, especialmente se empurrar Pizzi para a direita e Sálvio para o banco. Ou Pizzi para o banco e Sálvio para a bancada...

+Apesar do desnorte colectico, Gedson a ser o mais esclarecido e a tentar jogar à bola. Algumas interessantes movimentações e recuperações de bola devem ter deixado a equipa técnica do Bayern a pensar se podem trocar o Pirite Boy por este lá para Junho.

-Os extremos argentinos cheios de intensidade e golo não se viram. Estou-me a repetir muito? Estou, mas eles também estão sempre a jogar...

-Seferovic jogou? É que balão para um tronco entalado entre Hummels e Boateng com Javi Martinez a fechar o triângulo só é eficaz se... Esqueçam, é só estúpido pensar que se consegue o que quer que seja assim! E "tronco" não é uma apreciação sobre as qualidades do jogador, antes as indicações que quem joga ali deve receber. Convenhamos que neste momento a equipa técnica do Benfica olha para as pretensas lesões de Jonas e Ferreyra como reforços e não contratempos...

-Há uns anos, depois de um empate na Luz, tivemos de ouvir qualquer coisa como "mudança de paradigma" e "agora temos um treinador que compreende a dimensão Europeia do Benfica". O resultado é um recorde de derrotas consecutivas (8), a pior série de derrotas em casa (4), a pior prestação de sempre de um clube na Champions. Se isto é o novo paradigma e se isto é a visão da dimensão europeia do Benfica, então quero ser apoiante do Santa Clara. É que ao menos a Comunicação é ao nível do melhor da Europa, diverte com realismo e projecta o clube a querer ser mais.
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Pequenas notas sobre o Schalke-Porto

-Para este jogo, tal como foi apanágio da época passada, Sérgio Conceição mudou o sistema tático para o 4-3-3 formado por um trio de meio campo composto por Danilo, Herrera e Otávio(na época passada o escolhido era Sérgio Oliveira);

-Com esta mudança, a equipa conseguiu evitar (só um bocadinho) o despejar de bolas na frente por parte dos centrais ou de quem se arrisque a ter a bola mais do que 5 segundos, visto que deve dar uma coisa má ao "treinador" e os jogadores não querem arriscar tal desfecho;

-A quantidade de passes errados no jogo de ontem não se pode explicar apenas pela falta de qualidade de alguns jogadores, mas sim pela pobreza do modelo, ou seja, culpa do treinador, que não oferece aos seus jogadores boas linhas de passe e que os obriga a errar mais do que seria habitual, aliás, o jogo ofensivo do Porto só dá nota da sua existência quando a bola chega a Brahimi, que dispõe de total liberdade para se movimentar para as zonas que quiser;

-Mais uma vez Marega faz 90 minutos num jogo da Liga dos Campeões, de facto, mais vale cair em graça do que ser engraçado;

-Óliver desta vez nem sequer fez os seus 15 minutos da praxe, deve ter feito uma cueca ao treinador nos treinos e desde aí foi cortado pelo mesmo.

Outras notas:

-Tedesco desiludiu-me, já sabia que era um treinador que não se importava de apostar numa organização defensiva forte e procurar quase sempre a transição para ferir o adversário, só que ontem foram a maior parte do tempo inofensivos (acho que Casillas deve ter pregado o olho durante alguns períodos do jogo, daí algumas distrações nos últimos 15 minutos do jogo);

- O central do Schalke, Salif Sané, acho que não tinha lugar num Varzim quanto mais  numa equipa como a alemã, deve ser algum fetiche deste tipo de treinadores "pragmáticos".

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quarta-feira, 19 de setembro de 2018

 

O Sporting Picareta Visto por Dois

No domingo passado, o Sporting estreou-se para a Taça da Liga com uma vitória contundente sobre o Marítimo por 3-1. Após um final de época masoquista e uma pré-época conturbada para a equipa do Leão - o que me levou a afastar de ver a equipa jogar nos jogos para o campeonato (vi as duas primeiras partes das duas jornadas iniciais..), decidi dar outra oportunidade à equipa de Peseiro.

Ajudou a que o onze escalado fosse muito semelhante aos onzes que foram alinhavados nas jornadas anteriores, o que me permitiu ver uma evolução da equipa do pouco que tinha retido. Contudo, e não muito surpreendente, o Sporting continua com um modelo de jogo deprimente do ponto de vista defensivo e aborrecido do ponto de vista ofensivo, denotando uma estagnação na medianidade.

Defensivamente, talvez se possa justificar a fraca qualidade com as entradas de Gaspar na ala direita e de André Pinto no centro-esquerdo. Raramente o Sporting sai a jogar com bola no chão: a aposta na bola longa, geralmente a partir dos centrais, para Montero (sim, esse portento físico de 1.75m conhecido por ser um ponta avançado fixo que ganha imensas bolas no ar e permite uma equipa estender o jogo para o meio campo do adversário...); uma aposta nos confrontos físicos para recuperar a bola, nomeadamente através dos argentinos no meio campo ao invés de um pressing alto efetivo a forçar o erro do adversário; chegada à área de muita gente para suprimir lacunas na construção ofensiva, permitindo várias brechas no meio campo que só não foram devidamente aproveitadas devido a um Marítimo muito fraco colectivamente mas com alguma qualidade individual; aposta exarcebada no 1x1 e no cruzamento derivada da mesma lacuna evidenciada no último ponto, que na maioria das vezes resultaram em jogadas nulas de perigo.

No entanto, o Sporting acabou por marcar três golos: um penalti sacado por um jogador jovem que é forte no 1x1, que joga simples e é rápido (não admira a aposta de Peseiro nele..) mas que, talvez devido à sua idade, tem pouca qualidade de decisão e tecnicamente ronda a mediania; uma boa combinação entre Montero e o melhor jogador leonino do jogo, o brasileiro Raphinha (furos acima de Jovane em quase todos os aspectos do jogo...) que resulta de uma aselhice de Rodrigo Pinho; e por, ironia do destino, uma bola longa de Salin (!!!) que Montero ataca e numa dividida consegue libertar para Bruno Fernandes marcar. E aquela assistência de Battaglia (creio que foi esta humilde picareta argentina...) para um avançado do Marítimo sem olhar e para trás? Muita qualidade.

Ou seja, nos três golos, dois resultam de demérito do adversário (vale o que vale, mas demonstra que o Sporting tem muita dificuldade em criar situações de golo por si mesmo, o que em jogos de maior dificuldade vai ser complicado) e o outro resulta através de uma dinâmica de jogo que resulta uma vez em dez situações. Zero de evolução ofensiva. Com quase todos os titulares. Contra um Marítimo que se supõe irá lutar pela segunda metade da tabela classificativa.

Picareta Douala claramente desapontado com o Sporting, libertou a picareta com um cruzamento da ala direita com a parte exterior do pé esquerdo para a entrada na grande área de Picareta Oceano.

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Esta vossa picareta, pelas mesmas razões do Camarada Douala, também se afastou no futebol profissional. Ainda assim, num assomo claramente masoquista, decidiu, pela primeira vez esta época, ver um pouco do clube do seu coração. Abri o "Inácio" nos segundos 45 minutos e o que viu obrigou este humilde escriba a tomar um medicamento para a urticária.

A saber:

- Construção pensada, coordenada e em bloco? Overrated, claramente, mete no André Pinto que ele chuta na frente.
- Jogo interior para que a bola chegue com qualidade à zona de criação? Oh leitor, você deve ser parvo, é tão mais prático centrar dos 3/4 de campo e esperar uma oferta e/ou um ressalto para a entrada da área!
- Reacção coordenada e rápida à perda da bola? Mais uma vez, o leitor está com picuinhices, se tens Battaglia e Acuña para correr para cima da bola tipo Rottweiller com fome, para quê delinear zonas de pressão, subida colectiva do bloco?
- Organização defensiva pensada? Lá está o leitor a ser exigente, o Marítimo é uma equipa do meio da tabela do Futebol Português, basta ter os 11 atrás da bola, a coisa resolve-se.

E foi neste marasmo de ideias que se desenrolou a 2ª parte, com um jogo completamente partido que beneficia a equipa com mais qualidade individual, neste caso o Sporting.

Algumas notas individuais:

Battaglia e Acuña: São dois jogadores esforçados, com garra e atitude competitiva. Infelizmente, isto não é uma competição de Ironman, mas sim Futebol, e, neste desporto, a correrem que nem baratas tontas, só lembram umas amadas, mas burras, personagens de um videojogo:



Jefferson: Bem, aqui a coisa é mais simples, és um cepo. Não sabes atacar, apenas chutar a bola para a área. Quanto ao teu entendimento do que é defender colectivamente, tenho aqui outra imagem que ilustra as capacidades deste compadre com o olho malandro:




Gudelj: Quando recebeu a primeira bola deu dois toques, fixou um adversário e colocou a equipa numa situação clara de marcar golo. Portanto, fez algo em 10 segundos que Battaglia e Acuña ainda não fizeram desde que chegaram a Alvalade. Será titular de caras, espero eu.

O Sporting vive da falta de controlo do seu jogo, que o parte por completo e, aí, obriga o adversário incauto a jogar nestes termos, vindo ao de cima a sua inferior qualidade individual. Quando o Sporting encontrar uma equipa organizada, com um colectivo minimamente trabalhado (que não é o caso deste pobre Marítimo), será goleado sem apelo nem agravo.

Aquilo que eu peço, de forma humilde, é que os quadros directivos passem por cima destas vitórias recentes e foquem-se num modelo que valorize os seus activos.

Neste momento, somos uma manta de retalhos, na qual emerge um Jovane que é rápido e tal, mas é claramente inferior a Matheus, um Nani que consegue encontrar, na sua pausa e entendimento de jogo, espaços que a organização colectiva é incapaz de fornecer e de um Bruno Fernandes com grande capacidade técnica e de ataque nas zonas de finalização.

Tudo o resto, repetindo-me, é uma valente merda, incluindo o trabalho do Sr. que é pago para treinar.
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terça-feira, 18 de setembro de 2018

 

Heróis Injustiçados (1)

Hoje iniciamos uma rubrica dedicada ao herói injustiçado.

Aquele jogador que, por ter nascido na época errada, não ascendeu até ao Olimpo como merecia.

Errada porquê?

O Futebol, principalmente através do José Mourinho v1.0 e Guardiola, cresceu, em termos qualitativos, de forma grandiosa.

Se anteriormente, o treino era essencialmente físico e a grande parte dos automatismos colectivos (obrigado Gabriel Alves) focavam-se nas bolas paradas, após a revolução criada por estes dois treinadores o jogo tornou-se muito mais completo e complexo, enaltecendo o jogador que pensa o jogo em termos colectivos e não numa componente de visibilidade pessoal.

Hoje, esta rubrica vem enaltecer aquele que é, na minha opinião, o jogador tecnicamente mais dotado que Portugal formou pós anos 80.

Falo-vos, ladies and gentlemen, de Pedro Barbosa.

Acusado de ser gordo, lento, pastelão e apreciador de pastelaria Francesa, Pedro Barbosa era um génio de um fôlego inacreditável.

A acrescentar a uma técnica absolutamente cintilante, tinha um entendimento dos momentos do jogo absolutamente extra-terrestre, uma capacidade de decisão de topo e um sentido colectivo único.

Nunca passou do Grande Sporting, foi sempre ostracizado na seleção exactamente porque o futebol não estava preparado para este tipo de jogador, que emulasse, em campo, o célebre aviso das linhas dos comboios: Pare, escute e olhe.

No futebol actual não tenho qualquer tipo de dúvidas que o Grande Barbosa teria lugar em qualquer equipa do mundo e seria titular da selecção Portuguesa, e sinto-me um enorme privilegiado por ter assistido a todo aquele repertório de entendimento futebolístico.

Fica um pequeno vídeo para os que não puderam ver ao vivo:



Mas isto é um blog sobre PICARETAS.

Ao mesmo tempo evoluía um jogador no Futebol Clube do Porto.

Era a personificação dos anos 90, raça, velocidade e uma técnica básica mas que servia para o nível do Futebol Português.

Mas era burro, um cepo, um calhau, um dólmen de proporções épicas no que ao entendimento do jogo concerne.

É vergonhoso olhar para trás e perceber o pouco evoluído que era o futebol nestas épocas e resta-nos pedir desculpas por Picaretas como Carlos Secretário terem sido preferidos, em mais que uma ocasião, a jogadores na verdadeira acepção da palavra, como Pedro Barbosa.

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sexta-feira, 14 de setembro de 2018

 

Os aplausos ao Danilo e a verdadeira Torre(s)

No último jogo do FC Porto para a liga, a principal notícia (para além de não ter perdido uma vantagem confortável no mercador) foi o regresso de Danilo a campo, o que já não acontecia desde Abril, se não estou em erro. A sua entrada em campo foi precedida de aplausos ruidosos por parte dos adeptos portistas, desejosos de voltar a ver jogar um médio como eles gostam, forte fisicamente, rápido, "que vai a todas", apesar das suas limitações técnicas e cognitivas, mas isso, para um analfabeto futebolístico, tal como referiu um conhecido treinador da nossa praça, é "bola".

No entanto, nesse mesmo jogo, para aqueles que o viram com mais atenção, a figura não foi ele, mas um pequeno médio espanhol, de nome Óliver Torres.

Até esse momento, o jogo estava longe de ser fácil para o clube visitado, apesar da vantagem de dois golos. O Moreirense controlava o jogo com bola, não permitia que o Porto saísse a jogar, obrigando-o a bater a bola na frente para o suspeito do costume e alvo do post anterior, Marega.

Com a entrada de Óliver Torres aos 75 minutos para o lugar de outro favorito dos adeptos mas igualmente trolha Sérgio Oliveira, o jogo mudou substancialmente. O Porto passou a ter um jogador que sabe pautar o jogo, ou seja, capaz de colocar calma no meio campo e escolher a melhor solução de passe, o que, adicionando a sua visão de jogo e mestria técnica, tornou-se numa espécie de oásis no meio do deserto de ideias e qualidade do resto da equipa.

Pode-se dizer que Óliver é de facto a verdadeira Torre desta equipa, muitas vezes esquecida, muitas vezes criticada por aqueles incapazes de perceber o seu requinte, a sua magnificência, mas que, quando é necessário, ela está lá sempre a iluminar o caminho como um farol no nevoeiro.
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quarta-feira, 12 de setembro de 2018

 

The Pirite Boy Award

Tenho por crença que o futebol de alta competição pode ser equiparado a qualquer profissão altamente especializada que haja. Ser jogador de alta-competição é em tudo equiparável a ser magistrado, médico ou engenheiro. Isso quer dizer que, para lá de se ter uma apreciável paixão por aquilo que se faz, é necessária uma constante aprendizagem, é necessário dominar todo um rol de domínios e ter uma vontade férrea por nos mantermos no topo. Olhando para o mundo em nosso redor, dificilmente aceitamos que um qualquer interessado pela lei possa ser juíz aos dezoito, nenhum médico é deixado numa sala sozinho com um paciente aos dezanove e não há engenheiros contratados para sozinhos liderarem um projecto aos vinte.

Seria importante que a sociedade futebolística olhasse a formação com o mesmo sentido de exigência com que a sociedade civil olha algumas das profissões que lhe servem de pilar. Quando olhamos o êxodo de talento que os anos da troika nos trouxeram, não se vê ninguém a queixar-se tanto dos estudantes que partiram como os que se queixam dos profissionais qualificados que se foram.

No início desta temporada, ao rumor de que Renato Sanches poderia estar de volta, uma larga maioria dos benfiquistas regojizou-se. Houve até quem dissesse que era o casamento perfeito entre aquilo que o Bulo precisava e o que o Benfica precisava. Não me contava nesses grupos. Enquanto Benfiquista não percebo a utilidade de Renato para o grupo, não via sequer a posição dele como aquela que no meio mais precisava de reforço e para lá disso qualquer acordo de cedência faria o treinador do Benfica dotar Renato de um Red Pass Relvado que minaria quer outros jogadores mais evoluídos quer a evolução de outros produtos do Seixal.

O grupo no qual me conto é aquele que defende que Renato Sanches apenas pensou na sua conta bancária quando se transferiu para o Bayern Munique há dois anos e tem pago em reputação e falta de minutos esse pensamento. Foi pois com surpresa que o vi incluído no lote de jogadores convocados para a recente dupla jornada da Selecção, até atendendo a que em quatro jogos oficias do seu clube este ano, Renato conta com zero minutos entre o tempo de jogo ou de banco e não acabou a época transata no outro clube, por lesão.

Recuemos dois anos. Renato é um jogador que privilegia o físico em detrimento da técnica, em idade ainda de júnior e que se afirma num Benfica que cavalgaria (o verbo não é inocente) nas suas costas para um tricampeonato que lhe fugia há quase quarenta anos. A sua capacidade de, com a bola nos pés, comer metros e furar linhas adversárias era impressionante. No entanto Renato era um jogador júnior. Enquandrando com a abertura do texto, Renato era o estudante de enfermagem que, colocado em ambiente hospitalar no seu primeiro ano, começa a revelar alguns dotes para arte. Daí até ser deixado sozinho num quarto de hospital...

Só que Renato é também um jogador que demonstra uma gritante incapacidade de jogar sem bola e um egoísmo que o toldam para o facto de ser o futebol um jogo colectivo. Renato cria problemas à sua equipa que só a inteligência de quem o rodeia (Fejsa, Gaitán, Pizzi, Jonas, Mitroglou) permite disfarçar e transformar no rolo compressor que deixaria Jesus a lamentar-se de com um recorde de pontos, lá da agremiação onde trabalhava, não ter sido campeão.

Poderemos especular o que teria sido Renato treinado por Guardiola. Só que por alturas da contratação de Renato, já era do domínio público que dificilmente Guardiola permaneceria na Baviera no ano seguinte. O que fazia do destino de Renato uma incógnita significativa. É que o Carlo "Coppa di Parma" Ancelotti não tem nem metade das qualidades de quem susbtituia (algo que é verdade em mais do que um clube), e ainda menos no que a ensinar putos diz respeito. Acreditar que Renato com as debilidades que demonstrava ao nível do conhecimento do jogo somaria minutos a titular numa das mais tácticas ligas do Mundo só seria possível por alguém em coma alcoólico durante os festejos do tri, especialmente quando a concorrência incluía entre outros Joshua Kimmich, Arturo Vidal, Thiago Alcantâra e Xabi Alonso. O prémio Golden Boy que ele receberia nesse ano depressa se tornaria num Golden Beer...

Não há muito a dizer sobre os dois anos seguintes da carreira de Renato. Frustrado em Munique no primeiro ano, em que surpreendeu os adeptos pelo quão mau era, seria emprestado ao Swansea no segundo ano. Lesões complicadas, uma delas quando um treinador que o acarinhava se dedicava a apostar nele, hipotecaram a sua progressão. Ora a este nível esperar que um futebolista evolua sem jogar é semelhante a esperar que um estudante de medicina se torne neurocirurgião de elite sem nunca entrar num bloco operatório. Não acontece.

E chegamos à convocatória da selecção. Não sei que evolução teve o Renato, que outros não tenham demonstrado, para chegar lá. Os minutos que lhe deram serviram para mostrar mais do rapaz que gosta de jogar à bola que o Benfica despachou para a Baviera do que um jogador de futebol. Dizer que com Renato em campo a Itália ganhou metros no terreno é só o princípio de conversa. Conversa essa que terá outro tópico na dificuldade acrescida de Portugal em passar os Alpes com Renato em campo.

O que impede então Renato de se afirmar ao mais alto nível? Poderemos falar de vários factores, como um aconselhamento deficiente, ou de como o facto de ser mais forte do que os colegas nas escolinhas lhe permitiram ultrapassar etapas sem ter de desenvolver a mente. Mas sendo na mente que reside o principal problema de Renato, ele não advém dos estímulos a que foi ou não sujeito, ele advém da deficiente preparação mental de Renato para a alta competição. Como podemos ver isso? É ver em que se destacou Renato nos dois anos desde que saiu da Luz. Brilhou nos eventos da Paulaner e brilhou nas redes sociais. Indo ao ponto da falta de noção de lançar uma linha de emojis personalizados no dia seguinte ao clube onde (não) jogava ser despromovido! Não será demais extrapolar isto para aplicação deficiente no treino e uma frustração acrescida por não lhe ser reconhecida toda a sua genialidade. Que ainda manifeste, ao fim de dois anos em duas das mais fortes Ligas do Mundo, a incapacidade de saber onde se posicionar, indo com tudo a todos os lances, sem se importar com os espaços que abre nas suas costas é um aspecto. O outro é o extremo oposto, retirar-se do jogo com demasiado medo do que pode acontecer, não arriscar passes de ruptura sacrificando assim boas jogadas da sua equipa. No Bayern é este último modo que manifestou na pré-época. E terão sido essas as virtudes que Jorge Men... Perdão, Fernando Santos admirou ao ponto de convocar um jogador que tem zero (0000) jogos oficiais esta época, precisa de se adaptar rapidamente ao seu clube e que mal jogou a época passada por lesões mal curadas.

Mas Renato ganhou um prémio Golden Boy! Pois ganhou e como outro qualquer estrela do liceu acho que com o 12º ano a sua vida tinha atingido o pináculo e não valia a pena esforçar-se mais. Foi pena que Renato tenha adoptado Balotelli por referência e não Ronaldo, Ibra ou Messi. É que reconhecer que a capacidade de trabalho e abnegação dos maiores da nossa era é o que os faz enormes e transcendentais é o primeiro passo para se perceber como um jogador com potencial se torna um grande jogador. Ou de como um Golden Boy evolui para ser um Golden Player e não um Pirite Boy.
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terça-feira, 11 de setembro de 2018

 

Deus-dará!



Deus-dará substantivo masculino.Ao acaso, sem planeamento.À toa, à sorte; abandonado.

Aproveitando a deixa do Moussa Marega, onde no seu texto demonstra algum desagrado pelas escolhas do treinador do FC Porto, pretendo também questionar algumas escolhas do treinador do Benfica.

A referência ao Deus-dará é para tentar arranjar explicação para escolhas e algumas mudanças na equipa titular que não fazem qualquer sentido e que parecem feitas ao acaso, sem qualquer planeamento.

Vamos começar então pela época passada que está mais presente na memória dos adeptos.

Com a venda de Mitroglou e com a adaptação de Seferovic a correr mal, os adeptos benfiquistas pediam outro ponta de lança. O nome escolhido foi Gabriel Barbosa, Gabigol como é conhecido. Veio sobre uma grande expectativa, falava se que era onde ia rebentar e mostrar todo o potencial que diziam que tinha. Depois de alguns jogos fora dos convocados, Rui Vitória veio em defesa do seu jogador dizendo, e passo a citar " Quem critica é porque não sabe a qualidade do jogador". Se o treinador do Benfica vem dizer isto e depois raramente convoca o jogador, quando convoca as vezes nem 15 minutos fazia e sempre que jogava fazia exibições medíocres, afinal quem é que não sabia a qualidade do jogador?

Avançando para outro caso, que começou na época passada e tem continuado na presente época. Vou chamar esta situação de " O estranho caso de Seferovic". Ora Seferovic veio para substituir Mitroglou como parceiro de Jonas na frente de ataque do Benfica. Vinha com o rótulo de mau finalizador, de ponta de lança com pouco golo. Foi dando boas indicações na pré-época e Rui Vitória apostou nele para o primeiro jogo oficial de época, a Supertaça Cândido Oliveira contra o Vitória de Guimarães. Seferovic marcou 1 golo jogou os 90 minutos e com isso firmou o seu lugar no 11 inicial. Marcou nos 3 primeiros jogos mas à medida que os jogos iam passando, os golos iam desaparecendo e com isso o lugar na equipa. Acabou por ir para o banco de suplentes, viu o seu treinador a mudar o sistema tático para o 4-3-3 e com isso a ficar cada vez mais vezes no banco e o seu tempo de jogo ir diminuído, havendo jogos em que só jogou 1 ou 2 min. Acabou a época, chegaram 2 pontas de lança e Seferovic ficou sem lugar no plantel e foi colocado no mercado. Passa-se o Mundial, a pré-época e Seferovic ainda no plantel.

O Benfica, devido ao 2º lugar na época 17/18 na Liga Portuguesa, teve que disputar os playoffs de entrada para a Liga dos Campeões contra o Fenerbahce. O ponta de lança suiço nem na convocatória aparecia. O Benfica faz 4 jogos( 2 contra o Fener, 2 para a Liga) e Seferovic continua sem tocar na bola( Castillo que era o ponta de lança titular lesiona-se e entra Ferreyra, outro PL, para o seu lugar). O clube da Luz passa a 3ª eliminatória e calha o PAOK como próximo adversário nos playoffs. O primeiro jogo é na Luz e Seferovic é convocado.

Ao minuto 80 Rui Vitória lança Seferovic ao jogo, com a eliminatória empatada a uma bola. O suíço passa de jogador para vender, posto de parte, para suplente utilizado num dos jogos mais importantes da época, onde acaba por acrescentar muito pouco. O mais surreal ainda vem depois. Na 3ª jornada, derby lisboeta e Seferovic é convocado. Ao minuto 70 Rui Vitória lança Seferovic, com o jogo novamente empatado a uma bola( parece que quando a coisa tá a correr mal o segredo é lançar avançados, pode ser que eles marquem um golito e salvem o dia). Acrescenta muito pouco outra vez. E a seguir?! Adivinharam. Seferovic é colocado no lugar de Ferreyra para a 2 mão dos playoffs na Grécia, o jogo mais importante da época até a data! E a partir daí foi titular na 4ª jornada da Liga, contra o Nacional e espante se, marca um golo e faz uma assistência.

Estes 2 casos(existem mais) foi para explicar que, pelo que parece, tudo o que Rui Vitória faz, seja as escolhas de jogadores, seja as convocatórias, é "ao calha", tudo sem qualquer planeamento, é lançar por lançar para ver se corre bem e se correr eu sou o herói,se não correr a culpa é do jogador ou da bola que não quis entrar ou de outra coisa qualquer, nunca minha!
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domingo, 9 de setembro de 2018

 

Moussa Marega: Conto de fadas ou história de terror?


Pelo título do post, pretendo que os leitores façam uma introspeção acerca deste futebolista(?) que chegou a Portugal no doce ano de 2014, mais precisamente para o arquipélago da Madeira. Chegou como tantos outros, cheio de sonhos e ambição de se destacar numa liga de topo europeu, mais precisamente para o Marítimo, clube normalmente de meio da tabela e que quase todos os anos tem a expectativa de poder lutar por um lugar nos 5 ou 6 primeiros da liga portuguesa.

Apesar das suas óbvias limitações técnicas, a sua capacidade de explosão, força e abnegação levaram a que o seu primeiro ano em Portugal fosse produtivo, visto que essas características numa liga como a nossa fazem, pode-se chamar assim, mossa. Em 16 jogos fez 8 golos, um número interessante para um avançado de uma equipa como o Marítimo e desde logo atraiu a atenção de clubes maiores da nossa liga, impressionados com o seu físico e números demonstrados.

No entanto, lá ele permaneceu no Marítimo mais uma época e em 18 jogos pelos insulares fez 7 golos, até que, finalmente, as suas exibições levaram a que Sporting e Porto lutassem pela sua contratação, sendo essa luta ganha pelo último pelo valor de 3,8M € (Transfermarkt).

Aqui está, Moussa Marega tinha finalmente obtido o seu sonho, chegou a um clube grande da liga em que joga e isso apenas numa época e meia, atingiu algo que tantos outros como ele não conseguiram atingir.

Se o post terminasse por aqui, esta história seria de facto um conto de fadas para o jogador, algo em que estamos todos de acordo. No entanto, este conto tem um lado negro, algo que o leitor pode caraterizar como pertencente a uma história de terror, ou não, dependendo dos seus gostos futebolísticos/estéticos. Esse lado negro é a completa banalidade, diria cepice, de Moussa Marega enquanto jogador de futebol e o facto de estar num clube grande prova (e ser alvo de destaque no mesmo!) que o scouting e/ou treinador que o escolheram não merecem representar esse mesmo clube.

Moussa Marega, para além da já referida debilidade técnica que possui, exemplificada pela pobre execução de gestos técnicos básicos no futebol como a receção, o passe e o drible, denota também dificuldades no entendimento do jogo, ou seja, na compreensão dos caminhos, pode-se dizer assim, que deve tomar no sentido de aproximar os seus colegas do golo. As suas ações prediletas quando recebe (e não a perde) o esférico é procurar atacar a linha defensiva adversária através da sua velocidade e poderio físico, tendo numa liga como a nossa uma relativa taxa de sucesso na realização dessa ação, o que já não se verifica na Liga dos Campeões, e, para além disto, quando falha na mesma e não perde a bola, efetuar passes simples para os seus colegas poderem continuar o ataque, o que até não é uma má decisão, no entanto, um avançado que se preze deve ter mais soluções atacantes do que esta, o que não é o caso do nosso caro picareta.

Tudo isto podia ser relativizado caso raramente jogasse no clube onde tem contrato, o problema é que para o treinador, outro picareta, ele é um dos jogadores fulcrais para o seu modelo de jogo, assente na procura de profundidade excessiva, falta de paciência na criação e mesmo às vezes na construção de jogo (por isso Óliver Torres não é titular no lugar de outro picareta como Sérgio Oliveira).

Pode-se dizer que Moussa Marega está atualmente no clube ideal e é treinado por um treinador(?!)  que idealiza um jogador como ele para poder fazer dano às defesas adversárias, o que, num clube bem gerido e com um projeto de futebol com pés, troncos e membros, devia dar direito a um despedimento imediato ao treinador e um lugar bem confortável no camarote do estádio ao jogador.

Para concluir, deixo aqui um presente para os leitores deste post:
       
                       
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Este País Não É Para Velhos

O título não é uma coincidência. Para quem viu Javier Bardem em toda a sua magnificência no filme adaptado de 2007 do livro com o mesmo nome, compreenderá a escolha deste tema. No entanto, a arbitrariedade do uso da moralidade através de uma simples moeda que é representada no filme não será totalmente transportada, em grande parte devido ao contexto apresentado.

No futebol, como em tudo na vida, as decisões são tomadas por padrões pré-definidos no contexto que se insere. O futebol português enquadra-se num contexto mundial de importação e refinação de talentos brutos de outras realidades futebolísticas – entre elas, a realidade anárquica em termos táticos brasileira – que nos permite receber jogadores que outrora raramente poriam os seus pés nos relvados portugueses.

Contudo, o problema está sobretudo no como e não no porquê. Acontece que em Portugal - como já descrito por outros contribuidores deste blog - o perfil de jogador no qual se aposta largamente foge ao que devia ser numa ótica de apresentar o melhor futebol possível, isto é, um futebol baseado no perfil de inteligência dos jogadores e por extensão, do seu treinador. De todos os cantos do mundo, principalmente do Brasil, importa-se jogadores com algum talento técnico mas sobretudo com “talento” físico.

O culto do jogador físico começa a assumir proporções nada saudáveis para um campeonato português que se deseja com qualidade. A aposta nos conceitos de intensidade, de garra, de jogador à X ou Y tem trazido cada vez mais jogadores que, mais do que futebolistas, são atletas. Não que ser atleta seja mau por si, mas ser só atleta e não também futebolista é claramente mau. Como exemplos, temos jogadores como Marega, Castaignos, Samaris, Raúl Silva, etc que fazem uso do físico no seu futebol em 90% das vezes que entram em contacto com o jogo, isto é, sem bola e com bola.

E deste contexto, depressa se retira a conclusão que, se o físico impera sobre a inteligência e a cultura tática, então devido à ordem natural do mundo, os jovens imperam sobre os velhos. É normal e esperado que os atributos físicos declinem com a idade. E também é normal que seja possível retirar resultados positivos com uma aposta declarada neste perfil de jogadores; o que não é normal é achar que não dá para ter os mesmos resultados positivos ou até melhor com uma aposta noutro perfil de jogadores que beneficiem a qualidade do jogo.

A inteligência não declina com a idade, e se sim, apenas será numa idade muito avançada, algo que não se coloca em causa no futebol. Portanto, é de uma estupidez brutal que na contratação de jogadores, o perfil delineado seja o do físico, e por consequente, o do jovem e não o perfil de inteligência com bola e sem bola do jogador, e por consequente, de qualquer idade.

Quando Casillas veio do Real Madrid para o Porto, cedo várias vozes surgiram a dizer que não era indicado para o Porto, porque era velho, porque era pequeno demais para guarda-redes, et cetera. Quando Mathieu veio do Barcelona para o Sporting, cedo vários grunhos surgiram a dizer que – guess what? - era velho para o Sporting, que tinha muitas lesões, et cetera. Quando Jonas veio do Valência para o Benfica, o mesmo se disse, como que de um coro pastoral se tratasse: era velho demais, que teve algumas lesões, que se fosse bom o Valência não o deixava sair a "custo zero", et cetera. 

No entanto, e após estes jogadores calarem os adeptos com a sua mais que indubitável qualidade, é quase unânime que fazem parte do núcleo duro de jogadores dos clubes mencionados. O jogador velho raramente existe em Portugal porque Portugal não quer. O jogador velho que exista é sempre olhado de lado. A não ser que tenha sido um grande jogador quando jovem, será sempre um a menos para o típico adepto picareta tuga.

A valorização do jogador velho não existe em Portugal sobretudo porque a mentalidade da maioria dos adeptos em Portugal é mentecapta. E diria eu também sintomática, dado que os dirigentes, aqueles com poder de decisão nos clubes, também sofrem da mesma maleita. Porque embora estejamos em 2018, muitas mentes perderam-se nos confins dos anos 80 ao som dos Xutos & Pontapés.

Está na altura deste país começar a apostar na qualidade, não só física, mas também técnica e tática e sobretudo, na inteligência do jogador. E os jogadores mais velhos podem muito bem fazer parte desse perfil. Está na altura de reduzir a arbitrariedade no perfil de jogador a contratar. Está na altura de dar aos adeptos bons jogadores e bom futebol como em tempos o campeonato português teve. 

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sexta-feira, 7 de setembro de 2018

 

Os Marretas Cata-ventos

Boa tarde,

No longo rol de absurdos fenómenos que rodeiam o futebol Português, os comentadores de jogos assumem uma preponderância inexplicável.

Se noutros países, com a Inglaterra à cabeça, os comentadores acabam por tentar explicar a sua visão do jogo (Há deles péssimos, convenhamos), em Portugal temos a espécie híbrida de marreta com cata-vento que comenta o jogo televisionado.





Inserir nome de uma qualquer dupla de comentadores durante o Rússia 2018

Marreta porquê?

Porque o mamífero encarregado de comentar o jogo valida as suas opiniões insistindo nas mesmas, até que surja uma jogada que, na visão do estimado marreta, entre em concordância com a sua análise.Não interessa se o padrão de decisão do jogador foi inteiramente diferente em TODOS os lances anteriores, interessa, para que a sua narrativa e posto de trabalho (todos precisamos de tostão) se mantenham.




E cata-vento porquê?

Se analisarmos todo o espectro de comentário, observamos que as análises às incidências de um jogo são independentes da qualidade dos seus actores, neste caso, jogadores e treinadores.

Todos sabemos o que qualquer comentador vai dizer sobre um jogo onde intervenha uma equipa Italiana, que é uma equipa "fortíssima defensivamente" e "tacticamente irrepreensível".

Queridos comentadores, Arrigo Sacchi só houve um, e só porque os clubes são Italianos, não são automaticamente bons a defender.

É apenas ver a incompetência da Juventus nos momentos defensivos para perceber o quão fraco é o trabalho de Allegri.

A equipa Italiana sofre 3 golos e o estimado marreta Cata-vento disse: "uma equipa de tração atrás como a equipa italiana não conseguirá dar a volta ao jogo, porque a sua especialidade é o cinismo e o controlo defensivo".

No entanto, nesse mesmo jogo, que neste momento é favorável 4-3 à equipa Italiana, e nos últimos dez minutos de jogo essa equipa aguenta o resultado, o estimado comentador diz "a eficácia defensiva da equipa Italiana deu-lhes a vitória". Depois de levares 3 golos????

Esta incapacidade de analisar o jogo, recorrendo aos lugares-comuns da praça, é catastrófica.

Um exemplo paradigmático será Luís Freitas Lobo.

Este génio do comentário, com as suas alegorias de filigrana, consegue provocar AVC's ao mais santo telespectador que perceba um pouco do jogo.

No início da sua carreira, tornou célebre termos como basculação, transição Defensiva/ofensiva e, principalmente, a mais bastardas das palavras do léxico futebolístico, a intensidade (Só esta palavra provoca vómitos, diarreias e todo um extra de excreções por cavidades desconhecidas até ao dia de hoje).

Após esta fase de tentei-ser-analista-mas-adjectivação-Queirosiana-é-melhor, Luís Freitas Lobo dedicou-se às hipérboles futebolísticas sobre jogadores que são tragédias Gregas.

Como não a amar a sua célebre insistência em Kayembe, esse fenómeno futebolístico de grandes proporções, com 17 decisões erradas em apenas 5 posses de bola, para, de repente, num drible para linha de fundo, conseguir fazer um centro para a molhada (carinhosamente conhecido por "centramento à Toni")cujo resultado final é um canto.

O que diz o estimado cata-vento: "Como tenho vindo a afirnar, Kayembe é o agitador que o Clube precisa, acabou de ganhar um canto e permite à equipa respirar com bola".

Este pensamento pescadinha-rabo-na-boca dos nossos comentadores é, sem dúvida, uma das maiores causas de iliteracia futebolística no adepto comum.

Os comentadores, escudados na desculpa de que apenas devem comentar incidências do jogo, debitam opiniões pouco fundamentadas e tecnicamente sofríveis sobre o jogo.

Os comentadores, ao serviço de interesses de terceiros ou apenas por incompetência, prestam um serviço de tal maneira mau que, considera este vosso escriba, é preferível o estridente exagero do relato radiofónico do que ouvir estas almas.

O patamar de exigência é tão baixo que Carlos Daniel é considerado como uma sumidade na análise táctica do jogo, apenas porque lhe são fornecidos meios audiovisuais com qualidade, o que o torna no "Avenger" do comentário futebolístico, muito efeito especial mas pouca substância.





"oh eu aqui, a mandar o Thanos atacar o Ant-Man"

Quão mais saudável seria o ambiente futebolístico em Portugal se efectivamente os comentadores fossem tecnicamente mais capacitados?

Quão mais exigente seria o povo Português perante o paupérrimo futebol que lhe é vendido por terras Lusas, se houvesse uma cultura de conhecimento no comentário?

Os comentadores, como todos os agentes que gravitam à volta da Liga Portuguessa, têm responsabilidades que declinam em favor da poesia de Alguidar, do "favorzinho" ao agente de um determinado jogador (Tão nacional-porreirismo, só não conseguiram vender o Beto ao Real Madrid e o Sálvio ao Ghanzou Evergrade) e até um futuro contracto com um clube de futebol, como foi o caso que, supostamente, esteve prestes a acontecer com Luís Freitas Lobo.

Não nos move nenhum ódio particular a Luís Freitas Lobo, trata-se de um exemplo paradigmático, como são outros, como António Tadeia, passando pelos inenarráveis comentadores dos canais dos Clubes, que apenas servem para desinformar o público, acicatando ódios em vez de ensinarem algo de valioso ao adepto, valorizando o produto, aumentando a visibilidade, beneficiando todos os agentes.

Tudo picareta, como tal, ganharam o seu lugar no armazém do nosso estaleiro.
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quinta-feira, 6 de setembro de 2018

 

Nacional 0 - Benfica 4 : O Homem do Jogo

O que é isso do homem do jogo? Em termos semânticos deveria ser aquele jogador que pelas suas acções mais contribuiu para que o jogo tenha tido o desfecho que teve. O problema de o definirmos desta forma é que abre espaço a diversas interpretações. In extremis, poderemos falar da mão de Abel Xavier, que só ficou para a História porque Zidane converteu o penalti que lhe sucedeu. Se Baía defendesse aquele penalti, falava-se era da defesa do Baía. Se o Zidane falha, do falhanço do Zidane. Aquele instante definiu um jogo e o homem do jogo foi aquele que, pela sua acção, imortalizou o momento. Podemos falar de Beto defesa central do Sporting que passou à posteridade como o homem que todos os anos ia para o Real Madrid e como o central goleador que com dois auto-golos decidiu um dérbi a favor do Benfica. E o minuto 92? Alguém se lembra de como nos anteriores 91 o Porto mal conseguia ligar dois passes seguidos? Alguém se lembra do sufoco a que o Porto estava a ser sujeito até que um tipo de vermelho não faz uma intempestiva entrada em tesoura a pés juntos e permite que aquele minuto suceda? Nada antes, nada depois, apenas aquele lance. E como se faz um tesoura a pés juntos?

O homem do jogo pode ser portanto alguém que não fez nada no jogo digno de nota, mas por ter conseguido atingir o nirvana da visibilidade na partida, é aquela figura que fica ligada a esse jogo. Algo de muito diferente de dizer que foi o melhor em campo.

No fundo não é muito diferente de dizermos que temos um colega que acorda cedo, chega a horas, cumpre com o que é pedido, mete mais uns pozinhos porque gosta do que faz, não deixa trabalho para depois e vai para casa satisfeito, com o trabalho feito. Também há o gajo que se atrasa, não cumpre prazos, não deixa falar mais ninguém, mas que no dia da visita da inspecção até conseguiu um brilharete qualquer. E portanto quando chega a hora do brinde é o homem do jogo e não o melhor em campo quem leva o bónus para casa.

Na recente deslocação do Benfica à Madeira a imprensa de bancada foi unânime em atribuir o prémio de homem do jogo a Sálvio. Prémio que se coaduna muito bem ao papel que o Argentino desempenha no Benfica. Sálvio é o homem do jogo todos os jogos! Porque com mais dois ou três neurónios funcionais, Sálvio poderia ser o melhor em campo, mas para ele está bom ser apenas o homem do jogo.

Para se perceber a diferença basta ver pequenas coisas. Sálvio está directamente ligado a dois golos e indirectamente a um terceiro (é ele que num acesso de lucidez toca a bola para Pizzi assistir Grimaldo). A juntar a estas teve uma arrancada pelo meio do terreno em que consegue ficar de frente para a baliza sem oposição na zona central. O motivo pelo qual este último lance não ficou devidamente assinalado no marcador é o motivo pelo qual Sálvio pode ser o homem do jogo e não ser o melhor em campo. É que Sálvio com a bola nos pés é, na maioria das vezes, um touro enraivecido na hora de marrar com os cornos. Quer isto dizer que os olhos dele estão pregados no chão, pensa-se que na bola, e portanto não vê nem quer saber do que o rodeia. E como não vê nem quer saber não se apercebe de quando tem espaço para progredir, não se apercebe do colega coberto, ou do colega desmarcado, ou de como vai rematar contra três adversários.

O Sálvio que o tribunal das bancadas, e alguma imprensa que devia perceber um pouquinho mais da lavra, elegeu como o homem do jogo foi-o porque as decisões acertadas que teve foram vistosas. O que se esquecem de contabilizar é as decisões erradas do Argentino. É que a primeira acertada é a assistência para Seferovic aos 23 minutos de jogo (mais coisa menos coisa). A segunda é o aparecer ao segundo poste para atirar a contar (mesmo assim a beneficiar de um trabalho de Gedson que fixa a defesa), já depois de ter falhado clamorosamente uma assistência adocicada do Suíço. Se a tolerância ao erro de Sálvio fosse igual à que se tem para com Zivkovic, Rafa ou Félix, a verdade é que Sálvio não passaria tempo suficiente em campo para ter uma boa decisão que fosse. Mas a Sálvio tudo se perdoa porque ele "tem golo" (apesar de um critério pior que o de Isaías) ou recupera muitas bolas (pudera, se as perdeu…). A única coisa que Sálvio tem que o recomenda é mesmo a estrelinha. No jogo da primeira mão com o PAOK Sálvio lesiona-se. A equipa cria sete ou oito ocasiões mas não concretiza mais do que uma. Na segunda mão com Sálvio, a equipa é incapaz criar metade das ocasiões, mas mete quatro batatas lá dentro, uma delas oferecida pelo Marco Tabuadis (não quero sequer ir procurar o nome dele) que evitou a goleada uma semana antes.

O que foi o jogo de Sálvio para lá da assistência e do golo? Passes curtos falhados, passes médios falhados, passes longos para fora, remates contra adversários, remates desconexos, olhos na bola e alheamento da equipa. Homem do jogo pelas esperanças que deu ao Nacional, só se for!
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quarta-feira, 5 de setembro de 2018

 

Nota Introdutória


Picareta: substantivo feminino, instrumento de ferro com duas pontas aguçadas e cabo geralmente de madeira, para arrancar pedras, escavar terra, etc, o mesmo que ALVIÃO, PICÃO.

Nesta nossa realidade alternativa hoje mesmo criada, uma picareta é um jogador, treinador ou outro agente ligado ao fenómeno futebolístico que não cumpre o critério básico subjacente a este jogo:

UTILIZAR O CÉREBRO

Chegamos a 2018 e continuamos a ouvir elogios ao esforço, à garra, à atitude, à intensidade como se fossem esses os principais requisitos para se jogar bem à bola, não o pensar e decidir consoante o que melhor serve as necessidades do coletivo.

Não pretendemos dar uma opinião imparcial, não pretendemos escarnecer ou enaltecer jogadores, treinadores e/ou outros agentes futebolísticos. Mas sim escarnecer ou enaltecer perfis de jogadores. Escarnecer ou enaltecer modelos de jogo.

Não pretendemos tornar este blog num lugar de publicitação de jogadores/treinadores, nem manipular a opinião pública para eventos extra-futebol. Para isso há outros sites que anseiam por, e bem precisam de, cliques diários.

Somos adeptos e assumimo-nos como tal. Adeptos do jogar bem, sem fretes. Adeptos da maledicência direcionada, em particular e acima de tudo, para com as picaretas dos nossos clubes. Adeptos da análise superficial, exceto quando pensarmos que não. Acima de tudo, adeptos apaixonados pelo desporto rei neste mundo, o futebol.

E no fundo, somos apenas gente doida que pretende tornar simples aquilo que é complicado e assassinar as capacidades sobre-avaliadas de alguns atores futebolísticos do nosso burgo.

Tenham juízo.

Moussa Marega
Fernando Aguiar
Rui Vitalis
Douala Picareta
Picareta Oceano


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